30.11.08

A Roménia teve hoje eleições parlamentares. O nível de participação eleitoral (39,26%) foi muito inferior ao das anteriores, em 2004 (56,52%).

O nível baixo de participação eleitoral reflecte as dificuldades de afirmação do sistema democrático no país, apesar da sua entrada no campo do Ocidente, adesão à NATO e participação na União Europeia.

Do ponto de vista dos resultados, as sondagens à boca de urna dão vantagem à coligação entre PSD e PC (liderada pelo partido filiado no PSE, que chefiava a oposição), sobre o PD-L (partido do Presidente da República, filiado no PPE) e o PNL (partido do primeiro-ministro cessante, que tinha chegado ao poder numa coligação que se rompeu há dois anos).

Se as previsões se confirmarem, é provável que o PSD+PC e o PNL formem uma coligação para governar, isolando o partido do Presidente a meses das eleições presidenciais. Mas o sistema semipresidencial romeno dá poderes ao Presidente que este tem interpretado com alguma latitude, pelo que não se pode excluir completamente que o mesmo resultado possa prodzir outros cenários, sobretudo se quaisquer duas das três forças mais representadas conseguir maioria parlamentar.

Outra das incertezas do resultado prende-se com os partidos que têm funcionado como fiel da balança: a extrema-direita ex-comunista (o PRM), que deverá perder muitos votos e o partido da minoria hungara (UMDR), previsivelmente enfraquecido pelos efeitos da reforma do sistema eleitoral, que juntou aos círculos uninominais uma cláusula barreira de 5% de que era o principal visado.

Ainda não é, pois, seguro que o país tenha governabilidade acrescida depois destas eleições.

Os voos da CIA. quem é que os EUA avisaram?

O El País escreve que "la Administración estadounidense quería que España supiera que esos aviones transportaban a "prisioneros talibanes y de Al Qaeda". Y no sólo España. Según le hizo constar su interlocutor a Aguirre de Cárcer, "esta misma gestión las están realizando [los estadounidenses] con varios países que se encuentran a lo largo de la ruta que deben seguir los aviones en cuestión". Por lo menos, Túrquia, Italia y Portugal." . Terá a inferência do El País razão de ser?

O BE faz falta (diz o Arrastão)

(Cartoon de Pedro Vieira, no Arrastão).

28.11.08

Imaginação política

Hoje, no PS, talvez sejam precisos políticos imaginativos, mas, mais que tudo, é precisa uma lógica de poder partidário que acolha os resultados de tal imaginação, sem o que debater ideias se arrisca a ser uma participação em interessantes jogos florais. No Outubro tento explicar porquê.

26.11.08

O banco e as ansiedades dos clientes

Gosto de ver publicidade bem feita. Nos últimos tempos dei por mim a ficar com a atenção presa à do Grupo Santander. Como se sabe, há muito quem pense que o segredo do marketing está na segmentação, ou seja na capacidade de dar tantas mensagens quantos os tipos de público a que se dirige. Essa estratégia, que quase todos os partidos usam, tem os seus limites. Nos seus antípodas tácticos está a estratégia que se centra numa mensagem unificadora. O Santander tem-na. Antes, quando achavamos que estava a ser cada vez mais dificil ser bem atendidos no banco, reenviados de call center para call center, forçados a fazer solitariamente as operações bancárias sem ter ninguém com quem falar, o Santander dizia-nos que crescia para perto de nós e, pelo menos eu, dei por mim a pensar quantas agências havia nos circuitos por onde me movo. Agora, que todos temos uma dúvida principal, a de que o nosso banco (quero dizer, em casos como o meu, só aquele de que somos clientes) se aguente, o Santander dá-nos, pelo menos em Portugal, música alegre, natureza e canta-nos ao ouvido que é "solid as a rock" e, pelo menos eu dou por mim a lembrar-me que li algures que pelo seu tipo de investimentos o Grupo Santander deve resistir bem à crise. Os directores de marketing deles merecem o ordenado, se o tiverem do modo adequado e proporcional que certos segmentos da banca parecem ter perdido. PS. Afinal, dizem-me os leitores, o director de marketing acaba de sair do Grupo "para abraçar novos projectos". Só mostra como não estou por dentro do meio.

25.11.08

Avaliação de desempenho: o conselho sábio de Mário Soares

Hoje, no DN, Mário Soares dá um conselho sábio aos sindicatos de professores e ao Ministério da Educação. Concordo inteiramente com ele, como escrevi no Canhoto e fico na expectativa de ver, de um lado e do outro, se há capacidade para passar do conflito ao encontro de novos pontos de convergência no prosseguimento de uma reforma da educação inadiável.

17.11.08

E agora, José?

Acho que este Governo é, no seu melhor, a terceira volta do Programa dos Estados Gerais para a Nova Maioria, que nos deram os governos de 1995, de 1999 e este. António Guterres viu, então, que era preciso abrir o PS à direita e à esquerda para derrotar o herdeiro de Cavaco Silva ou o próprio se não tivesse desistido de ir a jogo.Agora é José Sócrates que tem que encontrar o seu momento de máxima abertura e o próximo Programa de Governo será o primeiro genuinamente produzido pela sua liderança. Ainda acredito que saberá encontrar o seu próprio método de debate com a sociedade portuguesa e que não confundirá esse debate com sessões de propaganda mais sofisticadas que a média. Mas, se nas próximas semanas partir para essa tarefa começando por uma "lista de dispensas" ou por acolher com simpatia auto-marginalizações diversas, ainda acaba com um programa que Manuela Ferreira Leite gostasse de copiar e um entendimento para governar o país com Paulo Portas. Esse caminho, contudo, já seria o de outro PS que não o daquele para que entrei e, então, não só compreenderia muitissimo bem que Alegre quisesse dispensar-se de tais companhias, como lhe daria razão em fazê-lo.

Avaliação: a reflexão do António Souto

O António voltou a deixar um comentário na caixa que me pareceu melhor "puxar" para o corpo . Aqui vai: "Concordo, no geral, com os cuidados do Paulo e com as teses do Porfírio.A avaliação não é apenas necessária, mas urgente.Contudo, custa ouvir a quem teve resposabilidades na criação e manutenção do anterior modelo de avaliação - porque a havia e estava regulamentada em diplomas legais - afirmações repetidas de que não havia avaliação alguma.De facto, tal como estava, dava lugar a todo o tipo de aproveitamentos, e, por isso mesmo, em alguns caos, de eficácia pouco recomendável, mas foi durante anos suportada por diversos Ministérios, incluindo pelos do Partido Socialista. E por isso dói mais!A questão do "castigo" não reside tanto na inexistência de vontade de serem os professores avaliados (excluindo aqueles que, como em qualquer outra profissão e/ou actividade, corporativa ou não, se manifestam sempre contra, ou tudo fazem para a abortar, à avaliação), a questão é todo o processo que, administrativamente, e em pouquíssimo tempo, alterou as regras de funcionamento interno das escolas e dos seus docentes, a começar pela estruturação dos professores em duas categorias, sem cuidar de os avaliar primeiro (como se de um dia para o outro chegassem a marechais e a catedráticos muitos sargentos e muitos assistentes).Convém, antes de tudo, verificar todos os documentos, itens e descritores propostos para a avaliação, e averiguar das pessoas e órgãos envolvidos em todo o processo- sabendo quea) os "objectivos pessoais" devem ser desenvolvidos, também, a partir de "objectivos institucionais";b) que os "objectivos institucionais" devem estar claramente insertos nos Projectos Educativos de Escola (PEE);c) que muitos PEE não se encontram ainda aprovados pelos Conselhos Gerais;d) que muitos Conselhos Gerais não passaram ainda pelos Conselhos Gerais Transitórios, por estes se não encontrarem ainda plenamente constituídos;e) que muitos Regulamentos Internos não foram ainda, por isso, aprovados;f) que há Conselhos Executivos (a quem compete presidir a parte relevante da avaliação) cujos membros não são por vezes titulares;g) que há eleições/nomeações para Directores (que sucedem aos CE) em Março;h) que as avaliações podem começar a ser feitas por CE e ser concluídas entretanto pelo novo Director;i) que os professores que acabam a sua colocação trienal na escola terão que voltar a ela (sejam colocados onde forem) depois de Setembro para concluir a sua avaliação;j) que um docente no secundário, com quatro ou cinco turmas (a uma média de 26/27 alunos por turma - de cursos diferentes e alunos muito diversos) terá dificuldade em estabelecer metas de êxito ao nível da aprendizagem;k) que um docente, tal como está a regulamentação, dificilmente poderá corresponder a uma necessária formação contínua (com manchas horárias incompatíveis e com Centros de Formação estagnados e com uma oferta que continua, amiúde, pouco consentânea com o respectivo domínio profissional).Bom, sejamos práticos, tudo se teria resolvido com mais serenidade se o novo sistema de avaliação, previamente testado, surgisse no seguimento das demais reformas avançadas e já estabilizadas.Tudo isto e muito mais, caro amigo Paulo, é quanto me preocupa, como Professor e membro do Partido Socialista, por tua mão, que muito me honrou e honra.Quanto às teses do meu/nosso comum amigo Porfírio, concordo, reafirmo, no geral, mas, como fez Pe. António Vieira no "Sermão de Santo António aos Peixes", convém descer ao particular!" (António Souto)

Avaliação: as teses do Porfírio Silva

O Porfírio Silva mandou para a caixa de mensagens, a par do abraço ao António Souto, o link para as suas teses sobre a avaliação de desempenho dos docentes. Em tempos idos, o Porfírio, o António e eu fizemos juntos das coisas mais interessantes das nossas ou pelo menos da minha vida, enquanto estudantes da Escola Secundária Homem Cristo, em Aveiro e enquanto militantes do associativismo estudantil e da participação cívica. Com um abraço ao Porfírio, fica o convite para que lendo já aqui a sua décima e ùltima tese vão à Maquina Especulativa lê-las todas: "Uma negociação efectiva só pode ocorrer entre propostas alternativas que representem as diferentes visões de forma suficientemente global para tirarem da sombra todos os pressupostos negociais. Uma negociação assimétrica, em que uma das partes assume todo o risco da proposição e as outras partes só têm de contrariar as propostas apresentadas, está condenada a ser uma negociação meramente táctica: uma guerra de trincheiras, concentrada apenas em minorar perdas, incapaz de colocar em cima da mesa o essencial – e, portanto, insusceptível de gerar um acordo genuíno, sólido, sustentável e duradouro. Uma negociação efectiva entre o ME e os professores tem de centrar-se em alternativas coerentes, articuladas, que representem diferentes visões globais, e que apareçam à luz do dia para serem escrutinadas – e só essa negociação poderá ser leal e produzir resultados."

Avaliação: o desabafo do meu amigo António Souto

Este post não é meu. Só o título e este texto introdutório o são. O seu autor é meu amigo há perto de trinta anos, ou seja desde os bancos da escola e deixou o texto como comentário ao post anterior. Estivemos juntos no movimento associativo estudantil e voltámos a estar juntos no trabalho nas políticas sociais no anterior governo do PS. Não temos falado nos últimos tempos. Mas garanto que ele sente o que escreve. Não o digo por ser meu amigo, mas porque é um professor que sei que gosta de o ser e porque se coloca do lado da questão que também me importa. Podemos melhorar tudo isto? Claro! Temos que mudar o clima que se instalou nas escolas? Sem dúvida! Suspender ou abandonar o processo de avaliação resolvia o problema? Não sei o que o António pensa, eu acho que não e continuo sem perceber porque os professores sentem esta avaliação como um "castigo". O que tiver que ser feito para que assim deixem de o entender sem que com esse esforço se desvirtue o próprio exercício merece atenção e ponderação. Mas, leia cada um o seu testemunho e pense por si no que ele significa: "1) Sou professor, por vontade própria (com licenciatura no ramo científico e licenciatura no ramo de ensino - seis anos!);2) Tive, até agora, prazer no mister de ensinar;3) Bem ou mal, por decisão de muita gente que hoje denuncia nunca ter havido avaliação, fui, de facto, avaliado;4) Apresentei, nos momentos devidos (de quatro em quatro anos, porque alguém assim estipulara), relatórios e certificados de formação, formação que sempre teimei em fazer, em área da minha especialização (por vezes paga), sem faltar a aulas;5) Fiz, também sem faltar a aulas, uma pós-graduação em domínio da minha especialização;6) Tenho mais de 20 anos de ensino (com interregno de três anos num Ministério);7) Fui (e sou) Director de Turma (num ano fui Director de duas Turmas);8) Fui Coordenador do meu Departamento (na ocasião com cerca de 30 professores);9) Fui membro do Conselo Pedagógico;10) Fui Presidente do Conselho Pedagógico;11) Fui promotor da Área de Projecto na EScola e docente desta área curricular em Questões de Cidadania;12) Porque houve suspensão do tempo de serviço para efeitos de progressão, não transitei para o 8º escalão;13) Porque não transitei, não pude concorrer a titular;14) Sou, pois, um Professor não senior que só poderá progredir (dada a reconversão dos escalões) em Setembro de 2009;15) Uma vez mais, será tarde para concorrer a titular (cujo processo estará já encerrado;16) Talvez ao fim de mais quatro anos consiga concorrer;17) Até lá, correrei o risco de poder ser avaliado por colegas que coordenei e avaliei enquanto Presidente do Conselho Pedagógico, mas que são titulares por acto administrativo cego;18) Dito isto, e apesar de tudo isto, continuo a pensar que a avaliação deve existir, como sempre existiu (e continuam vivos quantos a criaram e mantiveram!), mas melhorada e atenta à dedicação e à qualidade;19) Mas assim às escuras, como quem teimosamente quer castigar em ignorâcia ou má-fé, NÃO!20) Do trabalho que o professor (honesto) tem, na escola e fora dela, abstenho-me, por ora, mas que ultrapassa em muito as 35 horas, lá isso ultrapassa, para mal nosso e da nossa família, que a temos, como todos..." (António Souto)