31.1.11

O countdown para o próximo congresso do PS começou.

O countdown para o próximo Congresso do PS começou. José Sócrates, candidato natural à liderança, quer que se proponham ideias, Ana Gomes um PS crítico e exigente do Governo, o Presidente do Partido zurze numa voz crítica que, certamente no seu estilo e sentido de oportunidade, nada tem dito para além do óbvio, António Fonseca Ferreira repete a sua agenda.
Estão reunidas as três condições recorrentes para que nada aconteça: o PS está no Governo, o líder não tem challenger e os cooptados que fizeram e executam a actual estratégia escreverão o texto das novas ideias. Perdão, há uma novidade, Cândido Ferreira , que vai à corrida fazer não sei se de Defensor de Moura se de José Manuel Coelho.

De links bem abertos

1. Allende suicidou-se, e pronto! Fernando Sousa, no Delito de Opinião.
2. A todos os tiranos do mundo, poema tunisino via Palmira F. Silva, no Jugular.
2. De Tunis ao Cairo... e por aí fora, Ana Gomes, no Causa Nossa.
4. Washington intensifies push into Central Asia, Rick Rozoff, na Eurasia Review.

24.1.11

Balanço da noite de ontem

VENCEDORES

1. Aníbal Cavaco Silva. Independentemente de ter sido a mais escassa e menos concorrida, a vitória de ontem fecha a mais longa e mais bem sucedida carreira política em democracia. Apenas Jorge Sampaio o derrotou em confronto directo e daqui a duas semanas a escassez da sua vitória terá passado para o domínio das curiosidades estatísticas da história, em nada o fragilizando no exercício dos poderes presidenciais. Juntou-se à lista dos políticos zangados com o establishment mediático, mas tem a frieza suficiente para, aliviado da compressão da campanha, mudar de discurso, aposto.

2.  Fernando Nobre. Tem um discurso pobre e não parecia capaz de capitalizar a janela de oportunidade que Mário Soares lhe abriu. Apesar do seu mau desempenho em campanha, conquistou uma fatia significativa do eleitorado anti-sistema e tem que reflectir sobre o que fará com esta vitória. Acredito que, para usar a sua metáfora infeliz, acabará por dar ele próprio o tiro na cabeça que o retirará do primeiro plano, mas passou a existir como voz com legitimidade na política naiconal.

3. José Manuel Coelho e o populismo desbragado. Este  foi o maior resultado alguma vez atingido por um tipo de populismo que tem existido em estado latente e que faz de Alberto João Jardim um político institucional. A sua transversalidade e sucesso criou uma incógnita no sistema político. O homem que apenas tinha conseguido eleger-se a si mesmo para o parlamento regional transformou-se numa figura política nacional, foi tratado como alternativa pelo eleitorado madeirense, até ganhou o Funchal e pode aspirar a polarizar nacionalmente o populismo, criando novidade eleitoral e "colorindo" um próximo parlamento. Décadas depois, o jardinismo pode ter gerado um antídotoigualmente venenoso, com o risco adicional de ter o potencial para transbordar a região que a vinculação do jardinismo ao PSD nunca permitiu.

PASSARAM AO LADO

1. Pedro Passos Coelho e o PSD. Reduzido a Presidente da Assembleia Municipal de Vila Real o líder do PSD sabe que não terá um aliado em Belém. Pelo contrário, sofrerá com Cavaco o que vários líderes do PS sofreram com Soares - e até com Sampaio. Ontem, fez o discurso mais inteligente da noite, afastando as legislativas antecipadas, como se não as desejasse ardentemente. Mas o tempo pode correr contra ele e não deixará de atacar na primeira oportunidade - um orçamento rectificativo ou o FMI - obrigando a esquerda a salvar Sócrates ou precipitando uma crise.

2. Francisco Lopes. O resultado não o retira da corrida à sucessão formal de Jerónimo, que muita gente acredita que já sucedeu na prática. Mas também não o lançou com a mesma força com que no passado tinha acontecido a Carvalhas e ao próprio Jerónimo. Tem que continuar a treinar a empatia com o eleitorado comunista e que fazer muito melhor para saír do núcleo duro, mas mostrou ser bom em debate.

3. Os eleitores que votaram significativamente em branco. Quiseram dar um sinal de descontentamento, mas não se falou deles e o seu voto não faz parte, pelas regras. da contagem. José Saramago, com a sua metáfora, lançou um movimento que tem já mais peso que visibilidade.

DERROTADOS

1. Manuel Alegre, o PS e  BE. A extensão da derrota faz com que o discurso de grande dignidade de ALegre, atraindo sobre si o mau resultado não reflicta toda a realidade. Alegre não capitalizou o seu resultado pessoal de há 5 anos. O PS não conseguiu atrair o seu eleitorado para o seu candidato, apesar dos apelos dos seus dirigentes. A aditividade de eleitorados entre PS e BE revelou-se inexistente. A maionese da candidatura de Alegre deslaçou e todos os seus ingredientes saem tprejudicados. Ao contrário de outras alianças à esquerda bem mais dificeis no passado, esta revelou-se ruinosa.

2. A eleição directa do PR. Quando a eleição do vértice superior do nosso sistema político tem uma participação ao nível de uma eleição autárquica, sai derrotado o desenho institucional que tem nas Presidenciais um momento simbólico de grande importância nacional. Se fosse um referendo, não era vinculativo e, por este caminho, qualquer dia atingimos abstenções ao nível do Parlamento Europeu. Todos os que defendem a eleição directa do PR precisam de reflectir sobre o que fazer para que a erosão prolongada deste acto eleitoral não resulte num movimento para a sua supressão. Seria desastroso num país em que o Parlamento tem má imagem e é pouco respeitado.

3. Defensor de Moura. Julgou que atrairia os socialistas descontentes com a estratégia do PS. Enganou-se redondamente. Foi um dos agentes que mais contribuiram para que a campanha fosse feia e baixa. Talvez tenha sido o maior credibilizador de José Manuel Coelho.

4. O Cartão do Cidadão. Independentemente da sua falha ter sido ampliada pelo vazio noticioso entre o fecho das urnas e as primeiras sondagens, é inaceitável que ninguém tenha previsto ou conseguido gerir uma situação em que muitas mesas de voto não teriam acesso à internet e previsivelmente muitos eleitores não teriam procurado com antecedência o seu novo lugar de voto. O Portugal tecnológico não pode esquecer-se de que o país real é o país real.

18.1.11

A agonia do trabalhismo israelita

O Partido Trabalhista de Israel perdeu o seu líder e um terço dos seus deputados que, decidiram continuar no Governo com o Likud e fazer uma nova força política. Pela primeira vez na sua história, os representantes israelitas do socialismo democrático e da social-democracia, ficaram reduzidos a menos de uma dezena de deputados no Knesset.
Muitas razões explicarão a decadência do Partido Trabalhista, desde as mudanças demográficas, com a imigração de Leste pouco sensível à esquerda, até ao declínio dos bastiões do Partido, como o sindicalismo e os Kibbutz. Mas seguramente a morte de Rabin foi também o princípio da morte dos Trabalhistas. O seu sucessor, Barak, proveniente das forças armadas, recém-entrado no partido, não fez a transição de falcão a pomba que Rabin conseguiu e os trabalhistas nunca mais encontraram o seu caminho. Ao ponto de até hoje fazerem parte da coligação liderada pelo Likud e integrada pela extrema-direita e aparecerem no espectro político à direita do Kadima, que passou de dissidência centrista do Likud a força posicionada - imagine-se - à esquerda do Labour.
Ou seja, a falta de um projecto para o diálogo com os palestinianos, a incapacidade de adaptar a base social-democrata às novas condições sociais do país e o oportunismo destruiram o Labour. Lembro-me de, muito jovem, numa altura em que a Internacional Socialista pressionava Shimon Peres, este ter perguntado se queriam um pequeno partido de valores ou um partido que disputasse o poder, dizendo ser irrealista o projecto de diálogo israelo-àrabe em que os partidos irmãos o queriam  envolver. Peres, fiel a esse "pragmatismo" já não está no Partido Trabalhista, é membro do Kadima. Mas o dilema que ele colocava aos socialistas europeus pode bem ter ajudado a implodir o seu partido de então, agora reduzido a um pequeno partido e perdido no caminho a dar a si mesmo, quanto mais a Israel.
É certo que Israel é uma democracia única e nada pode ser dela extrapolado para outros contextos, mas há uma lição a aprender de tudo isto: a social-democracia, talvez ao contrário de outras forças políticas, precisa de projectos - realistas e claros - mas projectos, para continuar a ser uma força relevante.
Evidentemente, o caso israelita é extremo, o líder do partido coligou-se com um seu adversário para se manter no poder, precipitando a destruição do partido que liderava. Parece teoria da consipração, mas não é teoria, é conspiração de facto.
Mas este caso extremo reforça a necessidade de ver as forças políticas como entidades colectivas. Vamos ver como se refaz o campo do centro-esquerda israelita, mas há razões para pensar que demorará muito tempo  a que algo so influência das ideias progressistas e social-democratas reganhe força no país, que tem vivido tão acentuado desvio para a direita que pode também perder uma das suas bandeiras mais importantes. Não é fácil ser uma demcoracia há cinco décadas em guerra, mas também não é imaginável que o problema se resolva abdicando de o ser. COntudo, há razões para estar pessimista. Como escreveu Daniel Levy na Foreign Policy, "the immediate and fundamental questions facing Israel's future will be (...) decided in a fight between competing versions of the Jabotinskyite tradition (Ze'ev Jabotinsky was the founder of Revisionist Zionism, the forerunner to the Likud Party). Jabotinsky was a territorial maximalist in his time and committed to the role of force and power in achieving the goals of Jewish nationalism.  But he also was in many ways a pragmatic realist and actually a liberal when it came to equality for Arabs. Israel is facing a choice between a fascist mutation of Jabontinskyism and a liberal mutation of Jabotinskyism, and with Labor dead, it is a Likud family affair"
O artigo, que vale a pena ser lido na íntegra tem o triste título  de "A requiem for Israel's Labor Party".

17.1.11

Apoiamos Manuel Alegre também porque se candidata “pela igual liberdade de homens e mulheres” e porque considera “a igualdade de homens e mulheres uma prioridade da organização social” .

A Maria do Céu Cunha Rego lançou uma iniciativa dirigida, nas suas palavras, aos que de uma maneira ou de outra, trabalham pela igualdade de homens e mulheres e que a consideram uma prioridade na organização social, para sublinhar que o único projecto presidencial que dá visibilidade a este tema é o de Manuel Alegre.
Essa iniciativadeu lugar ao manifesto que se pode ler a seguir. A quem, como eu, o quiser subscrever, basta que declare essa intenção directamente para o endereço electrónico igualdade.manuelalegre@gmail.com que centraliza as respostas, indicando para além do nome e do email de contacto, o nº de Bilhete de Identidade e respectivo prazo de validade.



                                               APOIAMOS MANUEL ALEGRE


Apoiamos Manuel Alegre também porque se candidata “pela igual liberdade de homens e mulheres” e porque considera “a igualdade de homens e mulheres uma prioridade da organização social” .

Manuel Alegre não se conforma com a persistência da atribuição de “destinos” impostos às pessoas apenas em função do sexo com que nasceram. E não só porque o direito à liberdade individual é violado, mas porque a velha lógica das esferas separadas ou mais próprias – a pública para os homens e a privada para as mulheres – tem mantido e reproduzido as assimetrias conhecidas na situação das mulheres e dos homens. Em desfavor das mulheres, no acesso ao emprego e no trabalho pago, no desemprego, no tempo de trabalho não pago que sustenta a vida familiar, nos rendimentos, sejam salários ou pensões, no poder de tomar as decisões que moldam a vida de todos e todas nós, na violência social que as vê como objectos e não como sujeitos. Em desfavor dos homens, no tempo para o exercício da paternidade e na desvalorização social desse exercício, na presunção da sua incompetência para o cuidado de filhos e filhas, no abandono escolar precoce, no ensino superior, na esperança de vida, nos acidentes, na criminalidade, nas detenções, na violência social que lhes ensina violência e os pune quando a praticam.

O contrato presidencial de Manuel Alegre demonstra que este candidato entende a essência eminentemente política das razões pelas quais a Constituição atribui ao Estado, como tarefa fundamental, a promoção da igualdade de homens e mulheres , e antecipa o papel activo que, como Presidente da República, terá nesta matéria. Não só não vetando leis que contribuam para o cumprimento da norma constitucional, mas também exercendo a sua influência para que os indicadores do desenvolvimento humano revelem progressivamente a paridade de homens e mulheres em todas as esferas da vida.

Por isso nós, as mulheres e os homens que assim manifestamos apoio público a Manuel Alegre, consideramos que este tema não interessa apenas às mulheres, mas queremos sublinhar a relevância estratégica para o futuro da cidadania em Portugal da visão do único candidato para quem a igualdade de homens e mulheres é um pilar do Estado de Direito Democrático e a garantia de que haverá novas gerações de políticas de igualdade que garantam o fim das discriminações em função do sexo, da etnia, da orientação sexual, da situação económica…. É por isso uma prioridade no seu contrato presidencial.

Afeganistão: a ingovernabilidade governável. NATO: missão acabada, mas não cumprida.

A ingovernabilidade do Afeganistão já era conhecida de Eça de Queiróz, como sabemos. Agora, a tentativa de saír da guerra pela via do reconhecimento de que a história nos forneceu um modelo de ingovernabilidade governável ganhou um adepto (que pelo menos já foi) de peso. A ingovernabilidade governável passa por um governo central frágil, grande autonomia às regiões e uma estrutura de poder pré-moderna baseada na estrutura clânica e nos códigos religiosos, defende David Miliband. A frase-chave não podia ser mais clara: "State or international security forces will not stabilize the country; only a peace deal can do that" (leia em "The way out of Afhganistan, don't militarize diplomacy").
A NATO prepara-se para deixar o Afeganistão do mesmo modo que a URSS, simplesmente retirando. Mas, racionalize-se como se quiser o facto, não foi para isso que lá entrou. Missão acabada, mas não cumprida.

7.1.11

Viva o mercantilismo-leninismo?

Os líderes chineses devem ter dado mais voltas ao mundo nos dois últimos anos que nas duas décadas anteriores. Parece que vêm resgatar, primeiro a África, depois os EUA e agora a Europa, da crise em que mergulharam, ao mesmo tempo que reforçam a sua posição no acesso às matérias-primas e ganham bases logísticas e acesso aos mercados.
Que China é esta? Segundo este interessante artigo da Foreign Policy, é a força pujante do mercantilismo-leninismo. Diz o autor, Richard McGregor, insuspeito de simpatias comunistas  e antigo chefe do escritório de Pequim do Financial Times, que é preciso desmontar cinco mitos sobre a China actual: o de que a China é comunista só de nome, o de que o Partido quer controlar todos os aspectos da vida dos cidadãos (afinal, o futuro do comunismo é esquecer o totalitarismo), o de que a internet acabará por se sobrepor ao partido (o partido consegue controlá-a e até fazê-la funcionar a seu favor), o de que a via chinesa é facilmente repetível (só está acessível a um partido organizado e que controla mesmo as instituições e em particular o exército, que é do partido e não do país) e o de que o partido não pode governar para sempre (claro que pode se for forte por dentro, evitar lutas scessórias e der pão e circo às classes médias, coisa que não perceberam Estaline nem Mao, mas percebem os actuais dirigentes chineses).
O que me preocupa nisto tudo é que o mercantilismo-leninismo parece vir a ser um dos vencedores da primeira grande crise do capitalismo do séc. XXI. Ou seja, sem explosão do capitalismo, o risco que corremos é que o mercado volte a dispensar - tal como no séc. XIX - a democracia. E, aí, os comunistas teriam uma nova - embora pequenina - janela de oportunidade fora do grande irmão asiático, para além de que este continuaria a gerir ditatorialmente metade da humanidade. Os social-democratas  que não se cuidem...

Reading the future of US



FOnte: Time, Cartoons of the Week