28.2.11

Política de imigração: o nosso honroso 2º lugar no mundo desenvolvido

Logo a seguir à Suécia e antes do Canadá, Portugal é o segundo melhor do mundo na integração de imigrantes, segundo o Migrant Integration Policy Index (MIPEX) criado pelo British Council e pelo Migration Policy Group. O que fez a diferença a nosso favor não foi a história, foi a política.
O honroso segundo lugar coloca-nos no topo do top ten mundial, que inclui ainda a Finlândia (4º), a Holanda (5º), a Bélgica (6º), a Noruega (7º), a Espanha (8º), os EUA (9º) e a Itália (10º).
Para este sucesso não vale a pena hipervalorizar o nosso passado de país de origem de emigração: também a Espanha, a Itália, a Grécia e a Irlanda - estas últimas empatadas em 16º lugar - o são.
O argumento do nosso passado colonial e de como a absorção de imigrantes das ex-colonias facilita o acolhimento também não colhe: outras grandes potências coloniais do passado, como a Espanha, o Reino Unido (12º com a Alemanha), ou a França 15º estão bem atrás.
Muito claramente o que fez a diferença a favor de Portugal  foi a política e essa deve-se aos governos do PS e, em particular, aos Primeiros-Ministros José Sócrates e António Guterres e aos ministros que, nas diversas àreas construiram medidas não discriminatórias ou reverteram as discriminações que existiam.
Dado o papel que neste ranking tem a lei da nacionalidade, importa sublinhar em especial o papel do trio que a apadrinhou na legislatura anterior: José Sócrates, António Costa e Pedro Silva Pereira. Felizmente a lei da naconalidade de Cavaco Silva foi para o lixo, senão o nosso lugar não seria este.
Por outro lado, felizmente, os portugueses não alimentam com o voto a extrema-direita xenófoba que pressionou países com tradições cosmopolitas a adoptar medidas anti-imigrantes. O nosso honroso segundo lugar deve-se também, em última instância, a essa capacidade dos portugueses de manter PNR e quejandos na irrelevância que merecem.

PS. Obrigado à Câmara Corporativa e ao Osvaldo Castro, que deram a notícia.

18.2.11

A neutralidade pode ser um refúgio da parcialidade passiva.

A neutralidade raramente é imparcial e neste caso é óbvio quem receiam aqueles que a invocaram. Dois séculos e tal depois, a igualdade de direitos civis ainda incomoda, mesmo na Europa. Como sabem, os que se lhe opunham no século XVIII eram reacionários, agora são só pessoas que sobrevalorizam o sentido de oportnidade. Para quê ter problemas com assuntos tão incómodos? Essses militante irritam, pá.

PS. A tendência políica recente para o abuso do refúgio na neutralidade parcial nem é exclusivo do Ministério da Educação, nem destas matérias. Ainda me lembro, por exemplo, de o Parlamento não querer incomodar-se com a lei da (falta de) liberdade de imprensa na Hungria, que vai agora ser emendada por iniciativa dos seus próprios autores, porque noutros foruns houve quem se desse ao trabalho de os pressionar. E quantos partidos apresentaram moções de regozijo pelo Prémio Nobel da Paz preso na China? Sabem quantos foram?

Janis Joplin - Mercedes Benz

Sempre dava uma ajudinha à economia alemã e melhorava a nossa qualidade de vida.

17.2.11

Anda Passos perdido ou nem no PSD dão crédito às mensagens da magistratura activa do Presidente?

O Presidente da República vetou a 6 de Janeiro o diploma que cria o procedimento de mudança de sexo e de nome próprio no registo civil, considerando desejável que a Assembleia da República proceda a um novo debate que permita congregar as várias opiniões sobre um tema de tão grande relevância.

Esse debate ocorreu hoje. Naturalmente os que acham que o diploma não carece de alterações não viram razões para lhe mudar a identidade. Os outros, de quem Cavaco esperaria o mínimo de solidariedade laboriosa, tinham a sua oportunidade de sublinhar os argumentos do Presidente apresentando as soluções técnico-jurídicas de cuja ausência ele se lamentou. Ora, a Ana Catarina Mendes disse na sua intervenção quantas propostas de alteração os Grupos Parlamentares dos partidos que apoiaram o Presidente apresentaram: nenhuma. Anda Passos perdido ou nem os deputados do PSD dão crédito às mensagens da magistratura activa do Presidente?

16.2.11

Tiago Tibúrcio chama ao debate o direito ao esquecimento

Na net, desde que algo é colocado até que seja retirado, o tempo não existe. É um presente permanente medido não pela sucessão de acontecimentos mas pela intensidade de links.
Um acontecimento recente mas pouco visto pode não chegar a existir. Um acontecimento antigo, posteriormente desmentido ou ultrapassado ou corrigido, mas popular, será sempre o presente. O Tiago Tibúrcio chamou de modo excelente esta questão ao debate. Vá ler. Se tiver dúvidas, google dois ou três nomes de personalidades públicas de qualquer quadrante. Verá como o que a net recorda é uma questão de popularidade e como as leis da popularidade não têm relação linear com a sucessão cronológica dos acontecimentos.

14.2.11

Temos algo a aprender com a indústria turística turca: em 2010, perto de 10 mil pessoas por dia foram visitar o Topkapi

Segundo o Taraf, um jornal em turco citado pelo Hürryiet Daily News, o ano passado mais de três milhões e meio de turistas visitaram o Palácio Topkapi, pagando trinta milhões de liras turcas (perto de 15 milhões de euros). A Hagia Sophia foi visitada por 2,9 milhões de turistas gerou perto de 27 milhões de liras de receita. É certo que o ano passado Istambul foi capital europeia da cultura. Mas a experiência também diz que, tendencialmente, no ano a seguir a um grande acontecimento, as receitas ainda sobem.
 Antes de fazer qualquer comparação com Portugal temos também que ter em conta, pelo menos na Hagia Sophia, que estamos perante tesouros únicos do património da humanidade. Mas num país que se quer turístico e em que os principais estádios de futebol atraem mais visitantes por ano que qualquer museu nacional, há algo a aprender com a indústria turística turca, se eu não estou a ver mal.

A "doença infantil censória" da esquerda: O BE devia ouvir a Renovação Comunista

Agora João Semedo devia responder com clareza se está com a Renovação Comunista ou com o directório Louçã-Fazenda. A dita Renovação Comunista não podia ser mais clara na denúncia da "doença infantil censória" do BE. Escrevem eles:

Para os porta-estandarte da censura o que parece contar é a utopia de um pólo de contestação à esquerda que trabalhe para uma reversão do governo na quimera de uma forte aceleração do processo social em Portugal. Linha que os dispense de, no imediato, meter a mão nas dificílimas tarefas de tirar urgentemente o nosso País do declínio económico. Das duas uma, ou o poder vem parar às mãos de uma esquerda que não se compromete, ou então a esquerda faz uma espécie de greve às responsabilidades incontornáveis de reconstruir o espaço da esquerda para montar renovadas condições para a governação alternativa. Há certamente muito bluff nesta linha demonstrativa das moções de censura, mas o que há acima de tudo é uma perigosa recaída na doença infantil de censurar para tentar defender-se eleitoralmente. Sem compreender que, em última análise, a esquerda se fortalece ou enfraquece consoante seja capaz de mostrar de forma credível como tem uma política para governar Portugal, mesmo nas mais difíceis e impopulares condições. E a doença infantil vai ao ponto de permitir a imagem de inaceitável competição entre o BE e o PCP na disputa dos respectivos territórios de influência. A doença infantil censória da esquerda é muito perigosa porque pode fornecer todos os pretextos para separar o que começava a ser juntado e para dotar a direita socialista de mais fortes argumentos para hegemonizar o PS e as suas inclinações atávicas para entendimentos à direita.

Leia todo o texto da Renovação Comunista, aqui.
Muitos de nós consumimos medicamentos para os quais há genéricos. Mesmo depois de decidirmos pelo genérico e ´nos munirmos de receita médica com o princípio activo - e se estamos paenas interessados no produto e não em qualquer marca - podemos fazer mau negócio na farmácia.
Num mundo em que nada é fácil de perceber nos preços, da tarifa de telemóvel ao bilhete de avião, a Deco presta um serviço público com o sei comparativo de medicamentos. Pode bem descobrir que podia popuar uns bons euros e continuar a mesma medicação. Faça uma pesquisa e verá que vale a pena dizer ao farmacêutico a marca de genérico que quer, por contraditóriq que a expressão possa parecer.

13.2.11

Maya Plisetskaya: the dying swan


Robert Gottlieb, na sua recensão a uma História do Ballet de Jennifer Homans, discute se seria Maya Plisetskaya (da escola do Bolshoi) ou Galina Ulanova (trazida por ordem de Estaline do Kirov de São Petersburgo) a grande bailarina soviética. Nada tenho a dizer sobre o debate, mas impressionou-me que diga ter visto Plisetskaya dançar a morte do cisne três vezes consecutivas, levantando-se e recomeçando após cada ovação. Nem consigo imaginar a emoção de ver isto a acontecer vezes sucessivas.

10.2.11

A moção de censura da Primavera pode vir, afinal, já no Carnaval

1. O BE vai apresentar a sua moção de censura dentro de um mês, disse hoje Francisco Louçã na Assembleia da República. O mesmo Francisco Louçã tinha dito no fim-de-semana passado que tal gesto agora não teria utilidade prática. Portanto, ou anunciou um gesto sem utilidade prática ou mudou de opinião sobre a dita utilidade entre sábado e quarta-feira.

2. A rapidez da mudança de discurso do líder do BE sobre o assunto levanta uma curiosa questão sobre a democracia interna do seu partido ou a verdade da sua relação com os media. Ou a Mesa Nacional do passado fim-de-semana discutiu o assunto e tomou a decisão e Louçã ludibriou os jornalistas com o que disse sobre o assunto. Ou nãoo  discutiu e o poder do directório Louçã-Fazenda é tal que os dirigentes do seu partido podem saber de decisão tão importante pelos jornais, sem consulta prévia quais primeiros-ministros europeus perante a dupla Merkel-Sarkozy.

3. O anúncio súbito e sem preparação de tal gesto é um sinal do esquerdismo que tanto irrita os comunistas com sólida formação táctica. O BE sabia que ia ficar amarrado pela sua fragilidade sindical à dinâmica de protesto que o PCP queria protagonizar (como eu disse aqui). Estava consciente que aparecia num papel secundário na operação, que exigiria logística e tempo, que o PCP tinha em marcha. E, como sempre na velha extrema-esquerda, perante a fragilidade, deu um salto em frente, como um jogador de xadrez que não pensa no fim da partida, mas apenas na construção de uma vantagem para a jogada seguinte.

4. Na jogada do BE, o principal visado não é o Governo, mesmo que possa parecer que é a sua grande vítima potencial. O BE quer apenas  proeminência sobre os protagonistas comunistas e só o consegue com gestos mediáticos e solos virtuosos. Ao contrário do PCP, o BE não tem o PS como inimigo principal, mas como inimigo secundário. Antes de se dedicar a essa tarefa tem que ganhar vantagem sobre o PCP como protagonista da esquerda à esquerda do PS. O primeiro inimigo do BE, no Parlamento, nos sindicatos, nos ditos movimentos sociais, continua a ser a organização sólida e disciplinada do PCP. Os bloquistas acham-se mais brilhantes, mais inteligentes e mais educados, mais orientados para o futuro, mas subalternizados por uma máquina cinzenta mas podrerosa e triturante em diferentes campos de acção. Hoje, no Grupo Parlamentar do BE há pessoas que dedicaram a sua vida à militância política antigamente dita unitária mas que o PCP sempre vetou para qualquer função importante, que nem esqueceram nem desistiram.

5. É muito provável que o BE tenha feito abortar o sucesso de uma moção de censura, o que não lamento, antes pelo contrário. Mas o oportunismo de a fazer discutir nos primeiros dias de mandato de Cavaco Silva; a coincidência temporal da discussão com o rescaldo das brejeirices do Carnaval da Mealhada e aparentados e a greve de braços caídos que o PCP fará nos exercícios preparatórios, ajudarão a esquerda a isolar-se e diminuem as hipóteses de condicionar o PSD e o CDS. Durante um mês teremos uma espécie de campanha eleitoral entre PCP e BE a ver quem faz discurso mais radical, quem ataca mais a União Europeia real, quem diz mais coisas irreais sobre as possibilidades de sustentar o Estado social. O PCP pagará com gosto esse tributo verbal, desembaraçado da responsabilidade da operação e sabendo que o seu sucesso está comprometido. Ajudará, aliás, a comprometê-lo no que puder. Acredito que as manifestações e greves a convocar até Março estão agora adiadas para Abril. O PCP tudo fará para alimentar então a ideia de que a esquerda é minoritária no parlamento mas maioritária na rua, uma vez que não acredita que processos apressados não abortem.

6. O PSD e o CDS também podem ter algum alívio porque sem tanta pressão da rua, sem tanto descontentamento "espontâneo", sentir-se-ão mais livres para fazer o papel de parceiro responsável. Aliás, é dificil imaginar Passos Coelho a querer mandar José Sócrates já em campanha para a reeleição para a Cimeira Extraordinária em que tantas medidas do seu póprio programa parecem estar perto de ser tomadas. Se Sócrates estiver demissionário por força da derrota, pode ir à Cimeira de Março dizer o que lhe vai na alma, até porque coincidirá com facilidade com a única via para tentar ganhar eleições. Se for para a mesma Cimeira reforçado pela viabilização da direita ao seu Governo, se fica mais livre para dizer que o Parlamento recusou aventuras irresponsáveis, continuará impedido de expressar em público discordâncias sobre o sapo liberal que tem que engolir para evitar o recurso ao FMI.

7. A moção de censura que o PCP queria preparar para a Primavera visava condicionar toda a gente. A que o BE vai apresentar no Carnaval é um fogacho de circunstância. Entre uma e outra há toda a diferença que resulta de o PCP sonhar com o derrube de um regime e o BE querer apenas a crista da onda. O hino da moção do PCP seria a centenária Internacional, o da do BE será a instantânea "parva que sou". 

8.2.11

Vem aí mais uma moção de censura?

1. O PCP, com as cautelas tácticas que o caracterizam, está a apalpar o terreno para a apresentação de uma moção de censura.
Diz a experiência que entre estes primeiros passos e a efectiva apresentação deve haver uns testes de rua, com a marcação de umas manfestações e de umas greves pelos sindicatos mais obedientes da CGTP, pelo que é de esperar mais umas greves nos transportes, na administração local, na função pública em geral, porventura nos professores.
Se a organização do descontentamento produzir os resultados esperados surgirá, no topo da estratégia, a dita moção. Então, o BE já estará amarrado pelos seus braços e fragilidades sindicais e a direita estará constrangida a fazer o flic-flac de apoiar o Governo, destruindo a retórica anti-Sócrates violenta de Passos Coelho ou de aparecer ao povo a reboque do PCP.
Para que assim seja, o PCP tem que andar depressa e Março tem que ser um mês de grande contestação. Até porque o PCP não pode correr o risco de bons resultados na execução orçamental lhe estragarem a jogada e darem ao PSD um bom pretexto para se abster sem prejudicar o seu alinhamento. Portanto, se eu fosse adivinho, esperava por uma moção de censura do PCP a ser apresentada na AR algures entre a posse do Presidente da República e o 25 de Abril, quiçá no rescaldo do Congresso do PS.

2. Há quem se surpreenda por o discurso do PCP sobre moções de censura ser agora diferente do que foi no contexto pré-Presidenciais. Temos que reconhecer que a novidade era esse discurso ser a sério e não conjunturalmente definido pela vontade de atraír votos para o pré-candidato a sucessor de Jerónimo de Sousa. Mesmo assim, convém recordar que o PCP não dizia que não apresentava moções de censura, dizia uma coisa bem diferente, ou seja, que não garantia a aprovação de moções de censura da direita. Ao antecipar-se, pode evitar esse risco minimizando os custos, que sempre existem, de dois discursos contraditórios.

3. O que pode querer o PCP com tal moção? A mim parece-me claro. Se a moção for derrotada, ganha poque "desmascara" os verdadeiros aliados do governo e pode fazer o discurso do "capitulacionismo" do PS à direita. Se a moção for vencedora, ganha porque foi a direita que se colou a ele e caberá, em particular a Passos Coelho, o ónus de explicar aos seus eleitores porque diz que o país precisa de estabilidade, bom governo, menos Estado e viabiliza uma moção de censura que há-de estar bem recheada de retórica anti-capitalista, linguagem dos direitos sociais e necessidade de "outra política".

4. Ao agir assim, o PCP aceita correr o risco de aumentar a probabilidade do regresso de um governo de direita? Claro. Mas esse não é e nunca foi o problema do PCP. O que eles mais temem é o tempo em que o país tem governos de centro-esquerda bem sucedidos e com políticas sociais consequentes. Atacaram impiedosamente os seus próprios dirigentes de topo que dialogaram com governos do PS no passado, levando alguns até à expulsão, tentaram activamente boicotar todos os acordos de concertação social que a CGTP assinou e conseguiram que não assinasse alguns em que estavam as próprias propostas da central sindical. Assustou-os que um Secretário-geral do PS desfilasse na primeira fila de uma manifestação do 25 de Abril e pudesse ir ao 1º de Maio de ambas as centrais sindicais e ser bem recebido também na da CGTP. Armadilharam o Forum Social quando o PS se juntou, desmantelaram o Comité Português para a Paz e a Cooperação por ter veleidades de independência, etc. etc.

5. Na doutrina estratégica do PCP, o objectivo final é a revolução comunista e o inimigo dessa revolução que mais temem é o sucesso do socialismo democrático. Parecem chavões? Olhem para os textos do PCP e não para as minhas palavras. Vejam o quanto temem a "socialdemocratização" do comunismo, o que vai de chamarem traidor a Gorbachov até ao desprezo pelos partidos comunistas que estabeleceram plataformas de governo na Europa Ocidental. Para o PCP, um governo PSD-CDS é um seguro de vida e um governo do PS é uma ameaça latente.

6. Em suma, a táctica do PCP é coerente. Quer retomar a iniciativa política, esquecer o relativo desaire das Presidenciais em que não capitalizou o desastre de Alegre e maximizar as hipóteses de ter um inimigo realmente de direita para combater. Para o PCP, o PS é o inimigo, o PSD é apenas um adversário.

6.2.11

Revoltas arábes baseadas nos problemas sociais e nas aspitações democráticas, podem mudar a atitude em relação a Israel.

De todas as análises que tenho lido sobre as revoltas àrabes, chamou-me particularmente a atenção este, da jornalista de origem egípcia Mona Eltahawy. Um parágrafo que dá que pensar na amplitude da reviravolta geoestratégica que as actuais revoltas àrabes podem ainda provocar, se o comentário da jornalista corresponder ao que vai no espírito dos que se manifestam nas ruas e se o protesto der origem a formas alternativas de poder:

Meanwhile, the uprisings are curing the Arab world of an opiate, the obsession with Israel. For years, successive Arab dictators have tried to keep discontent at bay by distracting people with the Israeli-Arab conflict. Israel's bombardment of Gaza in 2009 increased global sympathy for Palestinians. Mubarak faced the issue of both guarding the border of Gaza, helping Israel enforce its siege, and continuing to use the conflict as a distraction. Enough with dictators hijacking sympathy for Palestinians and enough with putting our lives on hold for that conflict.

Vitor Franco ainda não aprendeu a ouvir a Rádio Tirana.

A minha análise das presidenciais suscitou a Vitor Franco, no site "A Comuna," um comentário de que só agora  me apercebi. Vale a pena ler,  para não esquecer que o sectarismo persiste nos tribalismos identitários de alguma esquerda. Sectário que se preze transforma todas as derrotas, mesmo que conjuntas, em vitórias próprias, julga que os únicos debates bons são consigo próprio e acredita que toda a diferença é traição.
A análise de Vitor Franco fez-me lembrar um amigo ex-ml espanhol que diz que no franquismo, quando estava deprimido, ouvia a Rádio Tirana. Reconfortavam-no as noticias do levantamento de massas e da vitória iminente do proletariado no país, mesmo sabendo que nada se passava assim. Vitor Franco ainda não aprendeu a ouvir a Rádio Tirana.

4.2.11

Uma saudação triste ao pacto de Sarkozy e Merkel.

A resposta europeia à crise do Euro chegou. Para Portugal é uma boa notícia, porque pode significar diminuição da pressão nos mercados da dívida pública, desnecessidade do FMI e, mesmo que o acordo então ainda não esteja assinado, a sobrevivência a um mês de Março que se avizinha complexo, com grande colocação no mercado de dívida na zona euro, incluindo por parte das grandes economias.
José Sócrates tem razão em congratular-se com o passo histórico e em preferir ignorar o modo como surge e os contornos que o envolvem.
É verdade que hoje foi só apresentada uma iniciativa franco-alemã e que vai haver muita negociação antes de se transformar num pacto assinado pelos 17 do Euro e "sugerido" aos restantes dos 27 que queiram estar na sua órbita. Não é menos verdade que foi apresentada em conferência de imprensa à opinião pública e aos mercados antes de ser conversada ao almoço com os colegas.
A negociação há-de suavizar medidas concretas que choquem a sensibilidade de governos ou coligações entre eles que tenham força suficiente para se fazer ouvir. Mas as intenções são conhecidas: o eixo da nova governação económica Merkel-Sarkozy tem conteúdos como a limitação dos défices, o aumento da idade da reforma, com base na demografia, o fim dos aumentos de salário indexados à inflação e finalmente uma redução dos impostos das empresas para um nível que seja o mínimo possível.

Se for só isto, é uma típica ofensiva ideológica da direita, centrada no controlo orçamental e com ressonâncias de choque fiscal. Como se pergunta no Le Monde (via Presseurope), onde estão os grandes projectos europeus, onde está a legitimidade democrática, que papel terá a Comissão Europeia, relegada para o papel de àrbitro?
No pacto para a competitividade, tal qual a ideia existe hoje, enterra-se definitivamente a estrutura de três pilares da Estratégia de Lisboa (competitividade-emprego-coesão). Na agenda Merkel-Sarkozy deixa-se de lado o papel do investimento público que faz parte da resposta americana (e da estratégia da China para consumir o seu excesso de liquidez) visando a criação de emprego. Na iniciativa franco-germânica faz-se ressurgir, com pompa e circunstância a ideia - e os receios - do directório europeu. Nem Presidente do Conselho, nem Presidente da Comissão, nem Presidente do Eurogrupo foram chamados à ribalta.
Ben Bernanke, Presidente da Reserva Federal americana, disse ontem que a retoma económica só estará verdadeiramente estabelecida com o crescimento do emprego. Mas nada na iniciativa Merkel-Sarkozy se preocupa com esses detalhes sociais.
A iniciativa franco-alemã não surge do nada. Aliás, há uma série de medidas tomadas ou em discussão em vários países, incluindo Portugal, que pareciam irracionais e deslocadas e cujos contornos são agora mais claros: fazem parte de uma estratégia de antecipação, sinalização ou mitigação de impactos negativos da exposição da obediência a um diktat exterior. Por mim, percebi finalmente a que título se tornou de repente urgente nas últimas semanas reduzir as indemnizações de despedimento. Sabendo que a Alemanha não tem salário mínimo, resta-nos saúdar o facto de o senhor Sarkozy não poder deixar passar exigências nesse domínio, senão quem sabe se estariamos a abrir a discussão sobre a abolição do nosso.
O que fazer perante isto?
Para quem está nos governos dos países do Euro, "europeizar" o pacote, dando-lhe um aspecto mais eurofriendly, suavizando os contornos e tendo o marketing próprio necessário para que certas imposições pareçam escolhas.
Para quem se coloca no espectro político, na direita liberal, lamentar as imposições exteriores com um sorriso interior de satisfação por ver que as suas receitas atiradas porta fora por derrotas caseiras regressarão pela janela de oportunidade da maioria de governos de direita na Europa e pela mão dos grandes líderes Sarkozy e Merkel.
Para quem vê o mundo da esquerda democrática, compreender porque não há apoio popular na Europa que gerou o modelo social europeu à saida da crise pela via socialdemocrata e trabalhar para um programa que o povo do século XXI queira e derrote mais à frente os que agora impõem retrocessos sociais evidentes, disfarçados de governação económica. Ou em alternativa, erguer o punho, bramir, manifestar-se e curtir a derrota histórica da esquerda europeia na viragem do século.
Mas, seja qual for a atitude com que o recebamos, é claro que este pacto anuncia, para países como Portugal, anos e anos de prolongamento da crise económica e da sua transformação, por efeito do tempo e da contenção orçamental sem qualquer compensação em política de investimento, em crise social. A menos que sigamos o convite de emigrar que a mesma senhora Merkel nos lança ou a imaginação política nos leve a produzir soluções que não estão, pelo menos para mim, à vista.
Daí a minha saudação triste ao pacto. É melhor haver uma resposta europeia que nenhuma, mas esta está longe de ser a melhor, mais produtiva e mais justa das respostas possíveis. Entre o estímulo ao crescimento da Europa toda e a salvaguarda dos interesses próprios, Merkel escolheu no timing, no modelo e no conteúdo o caminho de quem não acredita na Europa, mas sabe que pode mandar nela.

Tabagismo e espaços públicos: dê a sua opinião.

O Estadão no twitter deu-me a ideia. O que acharia da proposta de estender a interdição de fumar em locais públicos a parques e praias? A "sondagem fica aqui ao lado até ao fim de Fevereiro a testar a atitude dos leitores.

PS. Querendo, pode fundamentar a sua opinião com contributos para a discussão. A caixa de comentários e o mail estão abertos ao livre debate.

3.2.11

De links bem abertos: Egipto e Sudão.

1. Quer saber mais sobre o Egipto contemporâneo? No Arts Beat do New York Times, Alexander Star sugere A reading list for the Egypt crisis.
2. Porque se está a fazer história no Sudão e o que têm os cidadãos do mundo a ver com issso? Numa série de pequenos vídeos, a jornalista Rebecca Hamilton explica, no Meet the Journalists do Pulitzer Center on Crisis Reporting.

Para entender a política internacional americana: um novo blogue

O Rui Almas deu conta do surgimento de um novo blogue na John F. Kennedy School of Government de Harvard: Power & Policy. A seguir.

2.2.11

O CDS não quer contaminações de extrema-direita? Parabéns.

Se o CDS expulsou alguns dos seus membros por serem nacionalistas de direita e homofóbicos, ou seja de extrema-direita, fez muito bem e a direcção do partido merece subir um ponto na consideração democrática dos seus adversários.

Diálogo social em Espanha: o que eles conseguem e nós não e as medidas que nós tomamos e eles nem tanto.

O Acordo Económico e Social de Espanha merece ser lido por um português de dois ângulos, o do que eles conseguem no diálogo tripartido e nós não e o da relação entre as medidas que eles tomam e as que à nossa maneira já tomámos. Do primeiro, resulta que há acordos em Espanha que na actual configuração do diálogo social não se conseguiriam em Portugal, pelo menos com todos os parceiros sociais. Do segundo, resulta que a via unilateral é mais rápida e mais enérgica. Concluindo, parece-me que as vantagens e desvantagens de um e outro método ficam à vista. Eu preferia um diálogo social mais forte, mas sem reforma do sistema de concertação em geral, de alguns parceiros sociais - e de um em particular - não chegaremos lá.

O acordo pode ler-se na íntegra, aqui. A apresentação dos seus objectivos é a seguinte:

Con este objetivo, se hace necesario actuar con decisión y convicción avanzando simultáneamente en varios frentes para lograr alcanzar los objetivos señalados:

• Equilibrar las cuentas públicas de acuerdo con los compromisos adoptados, sobre la base de un ejercicio de austeridad que incluya esfuerzos en el gasto público para elegir aquellos con mayor grado de eficiencia y equidad, combinados con la definición de un sistema de ingresos capaz de sostener la presencia de un sector público eficiente que asegure no sólo la cohesión social en España, sino también su competitividad. Desde esta perspectiva también adquiere relevancia el papel de la lucha contra el fraude fiscal.

• Garantizar la sostenibilidad a largo plazo del Sistema público de Seguridad Social, especialmente en materia de pensiones, a través de las reformas que garanticen su papel fundamental en el Estado del Bienestar.

• Fomentar el dinamismo y competitividad de nuestra economía para que sea capaz de generar empleo de calidad en un entorno en el que la innovación tendrá cada vez más importancia.

1.2.11

"Parva que sou": tem tudo para se tornar num hino. Respostas precisam-se; aproveitamentos adivinham-se.

O countdown para o Congresso do PS: agora, os "socialistas católicos"

Cláudio Anaia e os seus "socialistas católicos" também se juntaram à procissão dos exercícios rituais pré-congresso. Fizeram o número de dizer que querem um novo referendo ao aborto e dizem querer também fazer uma moção. Algo me diz que nada farão, embora seja bastante fácil.
Registe-se, contudo, uma surpresa no discurso de Cláudio Anaia, o silêncio sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo. Será sinal de abertura ou a fixação na agenda passada conduziu-o ao esquecimento?
O pensamento social conservador também existe no PS? Claro, que o partido - tal como Pacheco Pereira gostava de definir o PSD do cavaquismo - deseja ser uma microrepresentação da sociedade portuguesa e clarificações ideológicas um pouco nítidas só fazem perder votos, acham os nossos estrategas.