7.6.14

Desde as europeias, o PS

Desde a noite das eleições europeias, o PS entrou finalmente em ebulição. Infelizmente, por enquanto, para dar aos portugueses todos os sinais de que a desconfiança com que olham para a sua actual direcção é justificada.
Na noite de domingo, Assis e Seguro tentaram a chico-espertice táctica de se auto-proclamarem grandes vencedores de uma contenda em que não o foram. Mas esta questão já está suficientemente analisada. Adiante.
António Costa, de seguida, teve o sobressalto cívico e a energia anímica que lhe faltaram na noite do abraço de há um ano, simplesmente proclamando como a criança da fábula que o rei vai nu. Evidentemente, ao fazê-lo, tal como a dita criança criou um problema ao rei, à corte e mesmo aos súbditos que aplaudiam e foram subitamente confrontados com essa denúncia de nudez.
A reacção de Seguro foi a pior possível. Revelou a público os traços autoritários que tinha meticulosamente protegido nestes anos, exteriorizou a raiva acumulada contra o seu adversário de décadas, expôs como nunca antes tinha feito a sua relação com as questões de regime. Numa semana, a grande vitória do PS passou a ser a expressão da grande crise do sistema político e, qual Manuel Monteiro dos velhos tempos, promete sangue contra "os políticos" ao povo. De uma só medida, nada menos que a maior redução de deputados desde 1975, uma reforma do sistema eleitoral, uma nova lei de incompatibilidades e, para o PS, um sistema de eleições primárias abertas. Todos sabemos o que Seguro pensava ainda há pouco tempo d as primárias abertas e todas as outras medidas foram já discutidas vezes sem conta dentro e fora do PS sem que houvesse a vocalização de tão profundo descontentamento e necessidade de tão radical mudança. Porquê agora?
Porque há lideranças políticas para quem princípios são a expressão conjuntural das prioridades tácticas. Seguro tem hoje três objectivos tácticos - dificultar ao limite a possibilidade de ser formalmente deposto do seu lugar de Secretário-geral, prolongar ao máximo o tempo que medeia entre o choque eleitoral da auto-proclamada vitória que demonstrou a nudez da sua liderança e a disputa da liderança do PS e colocar entre hoje e o seu confronto com António Costa momentos para recuperar o controlo ameaçado das estruturas intermédias do partido em que assenta o seu poder. É ao serviço desses objectivos que se entende a sua actuação na aberta crise do PS.
As suas propostas sobre o sistema político são uma mera manobra de diversão para tentar dar uma aparência séria à sua conversão súbita - para ganhar tempo - a umas eleições primárias que exigem um recenseamento, que carecem de um estudo de "direito comparado" que na solidez das suas convicções nunca tinha pensado em pedir e que fez questão de impor que se disputassem a quatro meses de distância, a ver se a irritação com a sua falta de capacidade de liderança democrática arrefece. Vamos a ver se nos próximos dias não surgirá a cereja em cima do bolo desta táctica com a convocação de congressos distritais para antes - repito, antes - das eleições primárias, na expectativa de colar alguns cacos partidos em certas distritais a tempo.
António Costa tem resistido estoicamente a todas as armadilhas de abertura de pretensos debates sobre a natureza do sistema político, sobre a legitimidade das manobras estatutárias, sobre o formalismo intermitente com as conveniências sobre as regras desta disputa. Mas arrefeceu o ímpeto com que apresenta novas ideias ao país, embora esteja mais que a tempo para ir concretizando as linhas estratégicas que o diferenciam de Seguro para além de todas as diferenças de estilo, de personalidade e de concepção da vida política que todos sabemos que o distinguem.
Com o PS afundado pelas manobras da sua direcção num crise que será prolongada em vez de rápida, como deveria ser; com as fragilidades políticas do seu líder, exposta pelas suas performances televisivas em período de maior exposição; coma mediocridade dos principais dirigentes actuais visibilizada  pela sua súbita aparição e em algum casos pelas suas patéticas declarações e ameaças, o PS desce nas sondagens.
Os portugueses descobrem que o rei vai nu e este, em vez de olhar as suas vestes, indigna-se com quem diz em voz alta que o vai e o risco que é para o PS, o país e a democracia não o apear. Uma volta esta manhã pelas páginas de Facebook dos dirigentes do PS não deixará margem para dúvidas. António José Seguro e a sua corte não percebem o que estão a fazer à credibilidade do PS e acreditam na teoria do inimigo interno. Felizmente não têm os instrumentos que outros cultivadore dessa teoria tinha. E também felizmente mesmo com quatro meses arrastando este circo pelos média, o povo socialista vai acabar com esta tragédia antes que se torne farsa. 
A alternativa da esquerda democrática para Portugal segue dentro de momentos. pedimos desculpa por esta interrupção.

6 comentários:

Jaime Santos disse...

O que diz é puro bom senso, mais nada. Porque será que isso não entra pelos olhos dentro dos actuais dirigentes do PS? Tentaram e falharam, deveriam agora dar o lugar a outros, sem dramas. Perder não é vergonha nenhuma, mas não o reconhecer revela apenas teimosia...

antónio ribeiro disse...

Muito bem. Excelente e certeiro comentário.

Anónimo disse...

OH NÃO!!! Outra vez os lobbies do passado a atacarem as pessoas honestas do PS???

Anónimo disse...

É claro que não serão aprovados (pelo dono do blogue), os comentários da verdade, mesmo que sejam inofensivos! Mas, pelo menos, eles vão esbarrar na consciência intranquila do dono!

Anónimo disse...

Comentário globalmente na "mouche". Mas definitivamente não incluiria o Francisco Assis no "pacote", sendo injusto chamar "chico-espertice" à sua proclamação de vitória. Assis teve mesmo uma vitória pessoal, e fê-lo para o PS. Assis fez mais, em 15 dias de campanha veemente e assertiva, pela reposição da verdade sobre o papel do PS no pedido de ajuda externa e em tudo o que o antecedeu (desnudando assim a argumentação primária e até indigna de Rangel), do que Seguro fez - ou melhor, não fez nem quis fazer - durante 3 anos de uma oposição que "tem dias". Foi Assis, e não Seguro, que arrancou aquela vitória a ferros, e isso não pode ser escamoteado, até por honestidade intelectual. Assis mostrou que não é da turminha de Seguro, e o PS vai precisar dele.

Anónimo disse...

Bom dia Paulo mais uma vez, com tiro certeiro,excelente análise.
A questão é esta a actual direcção do PS com o seu secretário geral à frente está a destruir na melhor das hipóteses a enfraquecer o partido e com isso a retirar a hipótese de poder dar esperança aos portugueses no futuro.
Este secretário geral sofre de alguns tiques estalinistas de centralismo democrático e não compreendeu que o PS é foi e sempre será o partido da Liberdade,na tradição daquele que quando os tempos eram difíceis sempre soube empunhar essa bandeira Mário Soares em que outros como Sampaio, Guterres,Sócrates e Ferro souberam e quiseram prosseguir em respeito pelos pergaminhos e histórico do partido.
Seguro não consegue dá uma imagem pálida do partido e resposta pouco conseguida ao país, também não apreciei muito da colagem do Assis, pois há que saber o que se quer e por onde quer ir, António Costa é a única Esperança do partido e do país e com toda este triste espectáculo proporcionado pela actual direcção já não sei se chegará a tempo