31.5.10

A terrível possiblidade de vermos o Parlamento dominado por espíritas

O Pedro Adão e Silva descobriu o primeiro ângulo. Sim, o totalitarismo do orgasmo é temível. O Miguel Abrantes chegou depois e ainda apanhou o segundo elemento mais relevante, o modelo chinês é uma alternativa.
Eu cheguei tarde, mas ainda a tempo de me arrepiar com a pior das maldições. Diz o visionário "Mas se um dia, em vez de uma maioria porcalhona, tivermos um parlamento nihilista, espírita, xenófobo ou iberista, o que salva a identidade nacional?
Que alguém a quem chamaram Alan Kardec jogue futebol ainda vá, mas já imaginaram mesas pé de galo a ditar pacotes de austeridade, Estaline a aconselhar Jerónimo de Sousa sem intermediários, Louçã possuído por Mandel, Marques Guedes de morada aberta para Santo António de Lisboa e  Paulo Portas em transe a dizer por extenso o terceiro milagre de Fátima? O que seria do país?

O que eu gostava mesmo era de ver João César das Neves a tomar o lugar deixado vago por Bagão Félix nas Eleições Presidenciais.

Estudaram, acabaram os cursos e ainda se foram meter em política sem ser no partido oficial do município? Depois queixem-se.

Em Almada há trabalhadores que conseguiram concluir licenciaturas e gostariam de ver a Câmara reconhecer adequadamente esse esforço. Agora, decidiram tornar público o seu protesto por assim não ser. O que tem a CDU a dizer desse passo? Que "algumas destas pessoas são figuras que estiveram publicamente ligadas [aos] últimos processos de candidaturas autárquicas das forças políticas do concelho" (notícia reproduzida, com o protesto que acompanho, por Ermelinda Toscano, deputada municipal do BE, no Infinito's). Estudaram, acabaram os cursos e ainda se foram meter em política sem ser no partido oficial do município? Depois queixem-se. 
Alguém diga ao senhor Vereador José Gonçalves que o tempo em que se tinha que assinar um papel em que se repudiava certas ideias para poder ser funcionário público já passou. Agora todas as pessoas de todos os partidos têm direito à palavra e a lutar pelos seus direitos, senhor Vereador. Que pena que seja necessário recordá-lo a um militante do PCP.

Três ciclos de 4 anos? Uma boa ideia que podia estar aplicada há quase 4 décadas.

O JN dá hoje conta de uma proposta do Conselho de Escolas no sentido de que os ciclos sejam reorganizados e passe a haver 3 ciclos de 4 anos, sendo o primeiro ano do terceiro ciclo (o 9º ano actual) um ano de orientação.
Parece-me uma boa proposta, dado que o 2º ciclo do básico é apenas um corte entre a antiga escola primária e o antigo liceu que visava dissuadir os alunos de transitarem de um para o outro e sobreviveu sem ser racional no modelo de escolaridade prolongada para todos. Aliás, esta proposta do Conselho de escolas, sendo ambiciosa, não é nova. Tem fortes raízes históricas.
Era assim que a Reforma Veiga Simão, em 1973, propunha organizar o ensino não superior. Mas, curiosamente, o PREC recuou neste aspecto revolucionário e vivemos mais quarenta anos com a formula 4+2+3+3 em vez da 4+4+4 que então se propunha e agora, ao que parece, as escolas querem repôr.

25.5.10

Hipocrisia é...

...um anúncio a saladas da McDonalds. Eles sabem bem que campaínha nos toca no cérebro sempre que ouvimos a palavra. Se não tivesse sido proíbido, ainda haveriamos de ver anúncios da Marlboro à Meia Maratona de Lisboa.

Praia segura e de qualidade todo o ano.

Uma ideia simples. Em Almada, praia segura e de qualidade todo o ano. Este texto não tem um um dia, tem um ano e já sei que continuará actual daqui a um ano.

Sinais de quê?

Em 2010, os cargos políticos vão receber menos 5%, os funcionários públicos em geral têm os salários congelados e as remunerações da PSP e da GNR vão, segundo acabo de ouvir ao Ministro da Adminsitração Interna,  subir 1,5%. São sinais de quem é mais poderoso, de quem é mais importante, de que função é considerada mais relevante, ou de quê?

20.5.10

Direito a um trabalho digno

Hoje, às 11h da manhã, estarei na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a discutir este tópico com Manuel Carvalho da Silva e José Abraão. O debate insere-se no Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social e ocorre num ano em que há poucas boas notícias para dar ou discutir.

19.5.10

O princípio da realidade

"Tenho consciência que para servir bem o país precisamos de ter um acordo com o PSD, por forma a que as medidas sejam aplicadas e tenham credibilidade externa. Acontece que tenho um Governo de maioria relativa e preciso do apoio dos outros partidos", disse José Sócrates na RTP. 
Esta é a frieza dos factos. E, infelizmente, "outros partidos" é eufemístico enquanto nenhuma força da esquerda à esquerda do PS se converter à visão europeia do país e nela não emergir nenhum equivalente português de Joschka Fischer. 
Tudo isto resulta num paradoxo, segundo o qual quanto mais o eleitorado votar à esquerda do PS mais este está condenado a governar ao centro ou, em alternativa, a deixar o país ser governado pela direita. Em tempo de crise, o governo minoritário sem acordos estratégicos com ninguém - a que já chamei governo-mendigo - é uma ilusão. 
Evidentemente, quem quer de Portugal compromissos firmes não compra essa ilusão. É, infelizmente, bloco central nas questões decisivas para o país, com ou sem distribuição de pastas, pouco importa, ou nada. Quem não se conformar com isto, é melhor que vá começando a pensar se se pode desbloquear a esquerda em Portugal e por que lado. Seguramente não irá a esquerda a lado nenhum enquanto os interlocutores do PS forem aqueles que vivem sonhando com o momento mítico em que ultrapassarão os socialistas cá dentro e em que haverá lá fora uma Europa neosoviética ou anticapitalista e alterglobalizada. 
Alguém lhes  explica que o país tem que ser governado por quem obedeça ao princípio da realidade? Sê-lo-á, infelizmente menos pela esquerda do que eu gostaria, mas felizmente mais pela esquerda do que se tivessemos que viver com uma aliança Passos Coelho-Paulo Portas. 



18.5.10

Pode o exemplo ser Vitor Constâncio e António Guterres, caro Valupi?

O Valupi pede-me que lhe indique uma direcção na história do PS que tenha preparado e permanentemente a regeneração do partido. Vale a direcção de Vitor Constâncio e o trabalho que então fez António Guterres à frente da organização do PS, bem como a visão estratégica que então se desenhou para Portugal e as linhas programáticas de que em maior ou menor medida vivemos estes anos todos? Podia pensar num projecto mais recente, mas seria juíz em causa própria de experiências que foram tão curtas que não se chegou a saber se vingariam.

Bendita crise, que tal promulgação dás ao país.

Se acreditarmos em Cavaco Silva, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi promulgado por causa da crise e não da sua falta de vontade de ser derrotado a menos de um ano das eleições presidenciais, no Parlamento, por uma larga maioria de esquerda. Palavra de Presidente:

"Como Presidente da República não posso deixar de ter presente os milhares de Portugueses que não têm emprego, o agravamento das situações de pobreza, a situação que o País enfrenta devido ao elevado endividamento externo e outras dificuldades que temos de ultrapassar.
Os Portugueses recordam-se, certamente, de que na minha mensagem de Ano Novo alertei para o momento muito difícil em que Portugal se encontra e disse mesmo que podíamos “caminhar para uma situação explosiva”. E disse também que não é tempo de inventarmos desculpas para adiar a resolução dos problemas concretos dos Portugueses.
Há momentos na vida de um País em que a ética da responsabilidade tem de ser colocada acima das convicções pessoais de cada um."

Bendita crise que tal promulgação dás ao país, acelerando o fim da humilhação de um grupo de cidadãos até hoje discriminados. Há tanto tempo que procurava um ângulo positivo da tua existência.

13.5.10

Posso votar contra a senhora Merkel nas próximas eleições?

A Europa, hoje governada à direita, escolheu uma resposta ao ataque especulativo ao Euro que sacrifica completamente o crescimento económico e o emprego à contenção orçamental em passo de corrida. É o tipo de ajustamento que o FMI impunha na América Latina nos anos oitenta com os resultados que se viu e que a Irlanda está a aplicar agora a si própria com os resultados que se estão a ver. Contudo, perante esta guinada inesperada - ainda há pouco era corrente na Europa dizer-se que não podia retirar-se os estímulos à economia cedo demais - José Sócrates pouco mais pode fazer do que adaptar-se, procurar os aliados adequados (e necessários ao governo minoritário que Portugal tem) e escolher, de entre as possíeis, as medidas que minimizam os efeitos adversos ou, pelo menos, os distribuem do modo menos injusto que for possível.
De passagem, esta aceleração das restrições orçamentais deixa uma vítima interna na estrada porque demonstra que para efeitos de contenção orçamental, o ataque ideológico que o governo do PS perpetrou ou deixou perpetrar ao rendimento social de inserção, ao subsídio de desemprego e ao subsídio social de desemprego é totalmente irrelevante e só servia realmente outros fins.
Mas no que mais importa, o caminho que a Europa seguiu não é apenas o dos sacrifícios desnecessários dos portugueses, é o de enfiar-se num buraco recessivo onde ela podia não ter-se metido e que afectará mais certas regiões do que outras. Nisso,  o que me irrita é que eu, cidadão português e europeu, não possa estar com o meu voto entre os que escolhem o governo da Europa que toma estas decisões. Assim, a senhora Merkel só tem que preocupar com os votos da Renânia do Norte. Como votam os portugueses e os espanhois é-lhe indiferente.

11.5.10

Metas aceleradas, margens para errar diminuidas

Parece claro que o acordo que se atingiu na Europa para consolidar o Euro exige a Portugal e a Espanha uma receita amarga que, no que nos diz respeito, vai tornar ainda mais difícil evitar que a crise económica ganhe contornos sociais preocupantes.
Percebe-se que a aceleração da contenção do défice não é uma aposta estratégica do governo português, mas um passo dado, porventura a contragosto, no quadro de um acordo europeu que nos devolve a estabilidade que o ataque especulativo ameaçava tirar-nos de forma drástica e duradoura.
Ninguém disse que havia solidariedade grátis na Europa, mesmo se o instrumento criado este fim-de-semana se revele, como julgo, histórico. E ninguém terá dado a devida importância a que Portugal e Espanha são ilhas de socialismo democrático numa Europa governada maioritariamente pela direita. Acredito que com maioria de governos à esquerda, os europeus geririam de outro modo mais eficiente e socialmente mais responsável a crise, mas os europeus têm escolhido outros caminhos.
A terapia reforçada para a redução do défice que vamos ser forçados a adoptar  desequilibra o cocktail terapeutico de combate conjunto à febre do défice e à anemia do crescimento económico de que a sociedade portuguesa necessitava para passar esta turbulência sem crise social severa.
Já achava que o PEC não escolhia bem os alvos para um ritmo de contenção do défice também ele algo acelerado para o estado da economia a convalescer da recessão. Mas o passo de corrida que agora se impôs ao tratamento desta questão aumenta o risco de regresso à recessão, de desemprego elevado prolongado e, se dispositivos de protecção social não forem corrigidos, de protecção social insuficiente. Não é a primeira vez na história que medidas deste género fazem voltar crises e as recuperações fugazes da Bolsa antes do regresso da crise também não são inéditas.
Bem sei que não foi José Sócrates que escolheu este caminho, que ele é ainda assim bem mais suave que aquele que Ferreira Leite dizia querer impôr por sua escolha aos portugueses e que há uma diferença abissal entre ter esta via a ser gerida por quem tem convicções à esquerda ou por quem gostaria de a ter como pretexto para outras ofensivas ideológicas. Mas nada disso me deixa optimista quanto aos próximos anos.
Preparemo-nos, pois, para a terceira vaga da crise, a da crise social. E, se Vital Moreira tem razão quando diz que quando se tem que ir mais rápido, a viagem fica mais cara,  sobram os problemas de que viagens a alta velocidade exigem muitissimo mais perícia dos condutores para que não haja despiste e de que quem viaja sem cinto de segurança se aleija muito mais nos acidentes do que quem parte devidamente apetrechado e seguro. Por isso, os próximos anúncios sobre como se concretiza esta aceleração são muito importantes.
Como socialista, espero que o governo não se engane no modo como vai passar esta meta acelerada para as políticas concretas.

10.5.10

Enquanto Portugal se divide entre futebol e Fátima, finalmente há Europa.

Esta noite não foi fácil ter notícias do que se estava a passar fora do eixo Luz-Marquês, mas o dia da Europa de 2010 pode vir a ficar na história da União Europeia como a data de um grande impulso na integração económica da ZOna Euro.
Finalmente, após muitos meses de Europa a olhar para o lado, de muita pressão sobre a Grécia, que começou a transbordar para Portugal e Espanha e chegaria rapidamente à Irlanda, pelo menos, há uma iniciativa digna do nome a ver a luz do dia.
Nos últimos meses, a Europa mostrou a sua pior face, a de um espaço onde nada se decide em tempo e todos tentam até ao limite fazer de conta que nada é com eles.
Hoje, se tudo acabar em bem, finalmente a Europa contra-atacou o ataque especulador sobre o Euro que dura há meses e ameaçava intensificar-se. Pode sempre argumentar-se que a criação de um "fundo monetário europeu" vem apenas suprir uma lacuna no desenho institucional do Euro. Mas a sua criação demonstra o lado bom da Europa, a capacidade de dar saltos em frente no último minuto.
Por isso, enquanto Portugal se divide entre futebol e Fátima, finalmente há Europa a lançar uma operação a que o Financial Times justamente já chamou uma mensagem de choque e pavor aos mercados:

Germany, France and the eurozone’s 14 other countries looked set on Sunday night to deliver the “shock and awe” message to financial markets that had eluded them ever since the Greek debt crisis exploded last October.

In an initiative that far exceeded any measure announced by European governments over the past seven months, eurozone finance ministers were preparing to commit their nations to a €500bn ($644bn, £436bn) emergency facility to protect the euro area from potential disaster.
The emergency measures consist of a €440bn programme of government-backed loan guarantees for any eurozone country facing serious debt difficulties, and a €60bn increase in a balance of payment facility.

Only eurozone governments will contribute to the first element of the plan. All 27 European Union states will contribute to the second element.

6.5.10

Não temos o sistema, mas temos ecos (2).

Os ecos do sistema são mais do que se pensava. O Homem ao mar noticia o caso do Agrupamento de Escolas de Vialonga, uma experiência já com dez anos.

Quantos Blocos de esquerda há em Almada?

A versão Assembleia Municipal do Bloco de Esquerda interroga-se sobre a dimensão e fundamentação dos subsídios à Companhia de Teatro de Almada em 2009, a versão Câmara Municipal votou a favor dos subsídios atribuídos à mesma companhia em 2010 para fins que deveriam ser submetidos a concurso público. Só o PS votou contra. A versão Assembleia Municipal do Bloco de Esquerda assume-se como oposição frontal à gestão municipal, a versão Câmara Municipal fez maioria com a CDU para aprovar o orçamento 2010. Quantos Blocos de Esquerda há em Almada? Algo nesta história me faz lembrar a velha piada sobre trotskistas: três já dá uma dissidência. É pena que a ala colaboracionista do BE esteja sentada no único sítio onde podia fazer a diferença e a ala oposicionista esteja sentada na Assembleia Municipal onde a CDU pode fazer passar sózinha as suas propostas.
Ou será tudo isto truque táctico e o BE se inflama onde não dói para apagar o facto de dar o seu voto onde ele decide? Assim sendo, a piada apropriada não seria a dos trotskistas, mas a do PIDE bom e do PIDE mau.
A menos que este tenha sido um momento de viragem e o Bloco deixe a partir de agora a solidariedade de todas as horas com que tem brindado a CDU na Câmara desde o início do mandato. Só assim poderiamos falar de um só Bloco em Almada e talvez assim pudessemos começar a falar de oposição consequente e respeitadora do mandato dos eleitores que decidiram tirar à CDU a maioria absoluta que o Bloco, pelo menos até agora, lhe devolveu.

O custo com desemprego vai reduzir muito, pouco ou nada?

O Governo diz que as mexidas no subsídio de desemprego não visam poupar dinheiro, João Proença, que não é propriamente um radical inflamado, que "quem ganha 650 euros brutos (antes dos descontos para a Segurança Social e retenção na fonte de IRS e a que corresponde um salário líquido de cerca de 575 euros) terá uma penalização de três euros, face ao que receberia sem a mudança. A descida pode ultrapassar os 200 euros, no caso dos salários mais altos".
A transparência do debate democrático e o direito a sabermos se estão a ser feitos apenas ajustes técnicos, cortes marginais ou cortes relevantes nos subsídios de desemprego implicaria que fossem publicados os estudos dos impactos financeiros da medida em cima da mesa nos trabalhadores de diferentes escalões de rendimento bem como o impacto global estimado da sua adopção. Em quanto vai reduzir o custo com subsídios de desemprego? Muito, pouco ou nada? Sem estes dados é impossível saber se é um mero ajuste técnico ou uma redução da protecção social dos desempregados feita em tempo de crise conjugada com restrições orçamentais.

5.5.10

Cá não temos sistema, mas temos ecos.

O Rui Herbon sublinha a importância do sistema na Venezuela. Cá não temos, mas temos ecos na Amadora, sob a forma de Geração dolce vita, um projecto da Associação Unidos de Cabo Verde com a Chamartin, o Conservatório de Música de Lisboa e a Câmara Municipal da Amadora, que pode conhecer melhor através desta reportagem da SIC.

State of the World´s mothers: somos o 19º país no ranking mundial

O relatório da Save the Children sobre a maternidade coloca portugal em 19º lugar no grupo de 43 países desenvolvidos, à frente, por exemplo, dos EUA e do Canadá.
O índice divide-se em dois sub-índices. Um sobre as mulheres (saúde, educação, licença parental, igualdade de género no salário e participação política), em que surgimos em 22º lugar e outro sobre o estatuto das crianças (mortalidade infantil, frequência de pré-escolar e de ensino secundário em que subimos ao 8º lugar. apenas atrás da Suécia (1º) Itália (2º), Alemanha (3º), França (4º), Áustria (5º), Islândia e Japão (6ºs).
É apenas um índice, mas que diz algo sobre o sucesso da nossa saúde pública e a melhoria da cobertura da nossa escola pública, diz. Um elemento a ter em conta na avaliação do desempenho destas políticas públicas.

5-3, um balanço sintético do lançamento da candidatura de Manuel Alegre.

Manuel Alegre apresentou a candidatura  nos Açores com um discurso que está disponível aqui. Ao lê-lo, houve partes em que teria aplaudido se lá tivesse estado e outras em que teria torcido o nariz.

Aplaudiria:

1. A demarcação em relação à “cooperação estratégica”, que se revelou um eufemismo de Cavaco Silva para tentar legitimar tentativas de interferência presidencial na àrea de actuação do Governo.
2. O europeísmo presente na defesa de políticas europeias de coordenação económica e de estabilização financeira para responder à crise.
3. A leitura da crise, denunciando o presente ataque especulativo de que somos vítimas e afirmando a necessidade de defender o Euro.
4. A afirmação de que a saída para a crise deve ser pela via de mais resposta pública e de mais solidariedade europeia e mencionando claramente o investimento público gerador de emprego, o combate às desigualdades e a distribuição mais justa de rendimentos.
5. O empenho na preservação da ordem constitucional, equilíbrio de filigrana permanentemente sob pressão.


Teria torcido o nariz a:


1. Ter sido omisso em relação aos novos desafios à cidadania que implicam revisitar os direitos cívicos e afirmar uma nação portuguesa cosmopolita para o século XXI, batalha em que bem precisamos de um Presidente da República
que se demarque do conservadorismo do actual.
2. Ter-se declarado apenas republicano e socialista. Para não repetir a trilogia de Mário Soares não necessitava de omitir o valor da laicidade. Um escritor sempre conseguiria encontrar outro equilíbrio para os mesmos valores, sem incorrer na omissão de um aspecto matricial do espírito republicano, ainda para mais tendo em conta a propensão actual de tanta gente para, no mínimo, o contornar.
3. Dizer-se candidato em nome das gerações mais novas. É uma proclamação recorrente e, se visa ganhar votos nesse segmento, ineficaz. Mais, é contraproducente.

4.5.10

Quem endoideceu? Para explicar a Medina Carreira a diferença entre investir e impressionar o conjuge.

Medina Carreira, o ex-Ministro das Finanças, ataca assim a necessidade de investimento público (as famosas "grandes obras") nesta fase: "Imagine que anda de mota, é casado e tem uma dívida de 100 ao banco. Para chegar ao Porto mais depressa e mais polido diz à sua mulher que vão endividar-se em 150 e comprar uma moto mais potente. O que lhe diz a sua mulher? Endoideceste!". 

Recontemos o exemplo, não em estilo chefe-de-família marialva à conversa com a esposa, mas raciocinando como empresário previdente: Imagine que tem uma empresa de estafetas por mota, com sócios e tem uma dívida de 100 ao banco. Está a perder clientes porque a concorrência usa motas mais potentes. Para poder servir os clientes mais depressa e com melhor qualidade, como já faz a concorrência, diz aos sócios que vão endividar-se em 150 e comprar motos mais potentes. O que lhe dizem os sócios?   


Vejo com frequência a crítica liberal do Estado recorrer a piadas domésticas. O problema das analogias domésticas para os raciocínios económicos começa, contudo, com uma questão que um liberal sério deveria valorizar: na maior parte dos exemplos domésticos postos em cima da mesa, não há investimento nem concorrência, apenas luxo próprio ou inveja do vizinho. Aquilo que na piada doméstica é apenas ostentação ou inveja em economia pode ser a condição de sobrevivência face aos concorrentes. Mas quem nunca tenha tido que correr o risco de perder face à concorrência confunde uma coisa e outra com facilidade. 

Grandes cidades: a Amadora é o município mais bem gerido do país

O Anuário financeiro dos municípios tem vindo a ajudar a lançar nova luz sobre a gestão autárquica. Os seus critérios são, como todos, discutíveis e, quando chega a indíces, o grau de dúvida pode ainda aumentar. Mas isso não diminui a importância deste trabalho exaustivo sobre as finanças municipais nem desvaloriza as suas conslusões. Em 2008, segundo os autores deste anuário, o ranking dos grandes municípios portugueses em boa gestão financeira era encabeçado pela Amadora (PS), seguida de Cascais (PSD), Vila Franca de Xira (PS), Famalicão (PSD) e, em quinto, Almada (CDU). Como se atingiu essa eficiência financeira? É ler o estudo e descobrir-se-á.

Como todos sabemos, o mercado é racional.

Como todos sabemos, o mercado é racional. É por isso que o voo em que viajei ontem me teria custado mais se tivesse comprado um bilhete só de ida, para a mesma hora e companhia, porventura sentado no mesmo lugar, do que tendo comprado um de ida e volta mesmo que nunca venha a usar a dita volta. Há vestígios dessa mesma grande racionalidade do mercado no facto de uma garrafa magnum de vinho ter o dobro do vinho de uma garrafa normal e custar o triplo, o quádruplo ou mais, como  se viu na mesa marcada, que me chegou via mainstreet.

Os leitores do banco teriam ido buscar os 200 milhões que se prometem cortar nas prestações sociais a outro lado.

Tenho as maiores dúvidas sobre a escolha que levou a projectar no PEC cortes de 200 milhões de euros anuais nas transferências sociais. Estou, aliás, convencido que há muitas alternativas mobilizáveis antes de repercutir sobre os mais desfavorecidos e os desempregados o aperto orçamental do país.
Achei que valia a pena convidar os leitores do Banco a que se pronunciassem sobre esta questão e coloquei-a aqui sob a forma de "sondagem".
A adesão de 331 leitores, a que agradeço, encoraja-me a que volte à carga com este método noutros temas.
Os que aqui quiseram dar a sua opinião deixaram um recado a quem os queira ler, no sentido de que é no contexto das despesas gerais de funcionamento e não nas de soberania que acham que o Governo deve procurar primeiro. Se 70% disseram que iriam fazer cortes nas despesas correntes dos Ministérios e 50% eliminariam as missões militares no estrangeiro, a terceira resposta, atingindo o patamar dos 30% seria a do corte na despesa das autarquias e regiões autónomas.
Acresce que o corte das prestações sociais - o caminho escolhido pelo Governo praticamente não tem simpatizantes nos leitores que "falaram" (apenas 20 dos 331 o fariam).
São só os meus leitores a falar e não representam ninguém a não ser a si próprios, mas vale a pena que o Governo pondere a possibilidade de não serem eles a estar afastados do que os portugueses pensam, seja para (n)os tentar convencer do caminho seguido, seja para mudar de prioridades.

3.5.10

É um cartoon sobre o Afeganistão? Antes fosse.

Já me tinham falado de um powerpoint incrível, que define a situação e os problemas no Afeganistão, mas eu só me cruzei com ele na edição impressa do Diário Económico de hoje.
Googlado, o powerpoint apareceu rapidamente em versão digital. Se pretendia retratar a enorme dificuldade de entender aquele país, conseguiu, mas isso já Eça tinha feito no século XIX. Se pretendia dizer que a guerra pode ser perdida pelos aliados, também deve ter surtido efeito, mas isso já as imagens dos tanques soviéticos em retirada nos tinha dito. Bendito país que tem intelligence militar capaz de dar às suas forças armadas tanta e tão diversa informação sobre um teatro de guerra. Não é a complexidade que aqui se retrata, mas a impotência.
Quem quisesse fazer um cartoon sobre o tema, dificilmente poderia ter melhor inspiração. Não admira que o chefe das forças da NATO no terreno tenha reagido, dizendo que "quando conseguirmos compreender este slide, teremos ganho a guerra".