31.8.11

Creches: o milagre da multiplicação dos lugares

São precisos mais lugares de creche e não se quer investir mais dinheiro em infraestruturas? Pedro Mota Soares encontrou o ovo de Colombo: aumenta-se o número de lugares por sala. Para isso revogou uma portaria de 1989 (sim, não é uma determinação dos despesistas do PS). Concedendo o benefício da dúvida ao milagre da multiplicação de lugares, faço aqui um pedido público de esclarecimento. Apenas dois tipos de questões:

a) Em que estudos, de que técnicos, feitos quando e onde se baseia este aumento do número de lugares por sala? O limite anterior revelou-se errado e está ultrapassado? Porquê?

b) O co-financiamento do Estado às IPSS vai ser revisto para contemplar o facto de haver mais alunos por sala, logo por educador, auxiliar, etc. ou a capitação mantém-se aumentando assim em termos reais a receita das ditas instituições?

Depois de ter respostas claras a estas duas questões direi se acredito que se podia operar este milagre, se me rendo a que é um exemplo de boa gestão ou, tese para que hoje com a informação que tenho me inclino, estamos perante uma dupla esperteza que deu ao Ministro boa imprensa e às IPSS lucro, mascarando a falta de vontade e disponilibilidade para investir no alargamento da rede de creches.

Fico à espera de que almas caridosas, nomeadamente da àrea governamental e das IPSS que aplaudiram a medida, esclareçam estas pequenas dúvidas.

5.8.11

Because de night, no Delito de Opinião.

Excelente. Escrito ontem, mas também podia ter sido hoje, no Delito de Opinião.

Isto é jornalismo

Nelson Jobim podia ter a intenção de o fazer ou pode ter sido levado a dizê-lo, mas é um bom momento de jornalismo, aquele em que o jornalista pôe o Ministro da Defesa a dizer em público que votou no adversário da Presidente a cujo governo pertence. As consequências foram as que tinham que ser num caso destes, num país normal. Saíu do governo.


PS. Alguém conseguiria saber se os membros do Governo português votaram todos no PSD ou no CDS? Ou mesmo se votaram? Isso também seria jornalismo.

4.8.11

Uma empresa privada teve informação do SIED. Há um lado bom na notícia?

Uma empresa privada teve informação do SIED que não devia ter de lá saído? Assim concluiu o Conselho de Fiscalização, depreende-se da notícia. Há um lado bom nesta notícia? O dito Conselho diz que a fuga corrida não põe em causa a segurança nacional. Que alívio! É coisa menor, não alimentaria um capítulo de Le Carré. Podemos dormir descansados.
Que mais informações que não ponham em causa a segurança nacional terão saído do bunker? Afectarão bom nome de pessoas, distorcerão concorrência nos mercados, serão verdadeiras, falsas, meras coscuvilhices? Alguém vai investigar isso? Quando? Como? Com que consequências? Não me agrada a ideia de termos serviços secretos a pingar cirurgicamente informações a pessoas ou entidades ilegítimas para as receber. Regresso à minha tese, já aqui defendida: em Portugal há um défice de institucionalização. As pessoas não conseguem vestir o papel das instituições quando as representam. Uma sociedade que desculpa estes comportamentos é perigosa. Mais tarde ou mais cedo, com um preço mais alto ou mais baixo, vamos dar colectivamente por isso.

3.8.11

Defeito meu.

Segundo a Lusa, citada pelo Osvaldo Castro, enganei-me redondamente quanto à inclusão de Paulo Portas na lista de nomeações do PSD para o Conselho de Estado. Isto é, o governo ainda agora entrou em funções e Passos Coelho já humilhou publicamente o seu parceiro de coligação, do qual depende a estabilidade desta maioria. Isto não vai dar nada de bom. Afinal não eram os vices do PSD que estavam desmiolados...
Confesso que também não acertava em metade da lista do PS, apesar de todo o respeito, simpatia e admiração que me merece o nosso ex-candidato presidencial, que apoiei sem qualquer reserva e que julgava que se tinha retirado da política.
Desculpem o desabafo, mas eu, que sou míope, não percebo a visão dos líderes dos dois maiores partidos quanto às saídas para o país à luz da crise, do novo ciclo e da necessidade de romper com os atavismos que têm tolhido Portugal. 
De longe, vejo as lideranças da política portugesa a escolher senadores com golpes de asa de crocodilo. Defeito meu.

Os vices do PSD.

Paulo Portas pertencerá, evidentemente, ao Conselho de Estado por designação do PSD e a notícia de que os Vice-Presidentes desse partidose esqueceram do seu nome não tem nenhuma consequência no convite que Passos Coelho inevitavelmente lhe fará.
A notícia, contudo, é relevante. Alguém quis que o "esquecimento" fosse público e esse alguém só pode ser um dos que se "esqueceram", a menos que o DN tenha aderido às técnicas dos súbditos de Murdoch. Logo, ou quiseram dizer em público a Portas que não é muito amado pela direcção do PSD ou a Passos Coelho que as necessidades institucionais óbvias da solidez da coligação não estão no topo das preocupações dos seus vices. São nuvens cinzentas na São Caetano. Ou se dissolvem ou, caso continuem a adensar-se acabarão por dar borrasca. Barroso nunca permitiu estas liberdades aos vices.

2.8.11

Krugman e o dominó europeu

Os EUA e a Europa estão juntos na incapacidade de enfrentar a crise. Como diz Krugmann, estamos a olhar para o "debt ceiling", mas... Italy and Spain are too big for extend and pretend, and they’re also too big to save.

Demagogia minha a propósito da demagogia de Passos Coelho

Quantas viagens do Primeiro-Ministro em económica são necessárias para poupar o suficiente para pagar o ordenado extra da chefe de gabinete do Ministro da Economia?

Nota: A política não é isto. Aos leitores que acreditaram que eu acredito neste tipo de argumentos digo abertamente que, ao contrário de algum aproveitamento populista que aí venha,  não critico que a chefe de gabinete de Álvaro Santos Pereira usufrua dos seus direitos salariais. Critico antes a retórica franciscana de  um Primeiro-Ministro que tinha o dever de ter postura de Estado num assunto de que tentou tirar um miseráveis dividendos de curto prazo. Cada político cunha o seu "no jobs for the boys"  nos entusiasmos dos primeiros dias de cargo. Tarde ou cedo, essas frases voltam sempre sobre as cabeças dos autores.

Pressão sobre o mercado de trabalho vai aumentar nas próximas décadas

Está online um interessante estudo sobre a relação entre a participação no mercado de trabalho e a pressão fiscal que resultará das transformações demográficas, que abrange 21 economias desenvolvidas e 29 em desenvolvimento.

O indicador de pressão sobre o emprego que os autores  construiram - Loek Groot e Marga Peters - reforça a necessidade de repensar as nossas políticas de empregoe  a sua sustentatibilidade de médio e longo prazo. Se em 2010 aparecemos num relativamente confortável 26º lugar, que sugere que não é a pressão fiscal associada à variação demográfica que pressiona a nossa situação no emprego, temos que juntar nas décadas que vêm esta preocupação às que já conhecemos. Segundo os cálculos dos autores saltaremos para um desconfortável 8º lugar em 2020, 5º em 2030, 4º em 2040 e 5º de novo em 2050. O estudo, que merece ser lido, está disponível aqui e serve de base a este post do Vox.

Ou há solidariedade ou...

Ahora España. Em Abril de 2010, defendi que deveríamos ter uma estratégia ibérica ofensiva e concertada, na falta de uma estratégia europeia. Mas nem nós nem os espanhóis fomos por aí, ao contrário do que Stiglitz tinha sugerido em entrevista ao El País, recordando a ofensiva conjunta anti-especulativa de Hong Kong e da Malásia na crise asiática dos anos oitenta.  O sucesso da estratégia cada um por si à espera que Merkel e Sarkozy actuem por todos deu no que deu. Aguardam-se os próximos capítulos do dominó europeu. Ou há solidariedade ou...