19.3.14

A "aceitação" da Crimeia na Rússia deve fazer tocar o despertador daEuropa

A Rússia tem interesses e força suficientes para "aceitar" a integração da Crimeia sem que a comunidade internacional possa fazer algo mais do que gestos inconsequentes e dirigidos à opinião pública no curto prazo para o evitar. Sem orejuízo das sanções que se imporão - e que como escreve o think-tank Brueghel - têm que ser vistas também pelo seu impacto nos países que a imporão, há que pensar a resposta a este acto na perspectiva de médio e longo prazo.
Com este conflito por resolver, a integração da Ucrânia na NATO - que já não ocorreu porque os parceiros europeus reconheciam como legítimos os interesses de segurança russos no país - fica definitivamente excluída por muito tempo. 
Mas é a altura de saber se a União Europeia pode ser o embrião de uma nova potência política de nível mundial. A íntegração da Ucrânia na União Europeia é a única forma de impedir que o país volte com maior ou menos conflitualidade para a esfera de influência russa. Mas a União Europeia tal como existe não poderá absorver este país. Como dificilmente poderá incluir a maior parte dos países do sudeste europeu ou a Turquia.
Se a este puzzle acrescentarmos a dificuldade de o Reino Unido conviver com o a profundamente federalista da União, a crise ucraniana pode ser a nossa wake-up call. A Europa de geometria flexível, com um anel alargado de menor exigência de integração que o actual pode ser o único caminho para evitar o regresso à confrontação entre o eixo atlântico e a Rússia com fronteiras a mover-se como placas tectónicas entre o centro e o leste da Europa.
Para preparar a Europa para integrar a Ucrânia, a Turquia, os Balcãs orientais e para não perder o Reino Unido, é necessário preparar uma reforma institucional de sentido oposto às que tivemos nas últimas décadas, que crie uma forma de participação, real e mitigada, de escolha dos países que queiram ser "regiões especiais" da União.
É a hora de pensar a Europa como projecto de paz que transcende a paz entre a França e a Alemanha. Ou, se preferirem, de acolher uma segunda geração de país fundadores. desde que surjam os protagonistas com essa visão. Ou, senão, não teremos resposta para os movimentos da placatectónica  geopolítica que atravessa de sul para Norte o eixo mar negro-Báltico.


2 comentários:

manuel pereira disse...

O prof.Eduardo Lourenço há muito que afirma serem a Ucrânia e a Rússia extensão natural da C.E.,por óbvios motivos geográficos e culturais, e que esse será o futuro.Concordo,por razões extensas. Que outros blocos vejam a Europa, na sua real dimensão, como uma ameaça, será problema que resolverão com ajuda médica,já que os meios militares que sempre exibem os levaram,sem falhas, a resultados pífios.

Manuel Galvão disse...

"a Europa como projecto de paz" que nunca foi nem nunca será. Basta ler o último livro de Medeiros Ferreira!