31.3.09

CDU: A classe operária já não é o que era...

Dos 30 candidatos da CDU ao Parlamento Eueropeu, 22 têm formação superior, a que acresce uma sindicalista finalista de direito. Destes, 2 são doutorandos e membros da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, particularmente bem colocados (em 2º e 8º) Dos 7 professores/educadores, 5 assumem-se como dirigentes da FENPROF e/ou sindicatos de professores. A sindicalista Ana Avoila, um sindicalista judicial e dois da FEQUIMETAL completam o leque sindical. A classe operária está sub-representada (quota de 12%): um metalúrgico, um pescador, uma operária da indústria de relojoaria, uma operadora especializada (a concluir o curso de direito). Da CGTP surgem 3 membros do Conselho Nacional, uma das quais - Ana Avoila - da Comissão Executiva. Mudança de paradigma: antes, a classe operária e os seus aliados. Hoje, os aliados e a sua classe operária... (O texto não é meu, recebi-o por mail, mas confio na fiabilidade da fonte)

Carlos Fiolhais sobre a exposição Coimbra judaica

Não podemos reparar os erros da história, mas podemos reparar neles, mostrando que não os olvidámos. A evocação, através das suas obras, dos melhores de nós só nos poderá ajudar a tornar melhores.

Convite: vemo-nos domingo na Incrível.

30.3.09

A minha luta pela reposição da verdade

Os processos que coloquei contra os difamadores foram conduzidos exclusivamente pela vontade de contribuir por todos os meios ao meu alcance para que a verdade fosse descoberta. À medida que esses processos se vão concluindo, fico com a consciência de que lutei até ao último limite para que a verdade fosse totalmente reposta e que, se não o for, não será por eu ter desistido, mas porque outros se desinteressaram de a buscar. Cumpri o meu dever. Se os tribunais entendem que as mentiras que os difamadores disseram a meu respeito não eram dolosas mas resultantes de erros de identificação, se consideram que os difamadores se afastaram da verdade porque foram ouvidos diversas vezes e não porque tivessem intenção criminosa ou mesmo se considerarem que deixou de ser possível isolar a mentira nos seus depoimentos, tal corresponde a uma valoração judicial da prova que está para além de onde um cidadão vítima de difamação pode e deve ir.

Três eleições, um blogue

O Público e alguns bloggers acabam de abrir um blogue sobre o ano de todas as eleições. Seguirei, atento, como blogger e como parte interessada.

Medvedev, realista. E Putin, como reage?

"Medvedev, pelo menos, é realista. Talvez esta seja uma das razões dos atritos que se têm vindo a observar entre ele e Putin, que são cada vez mais evidentes", conclui José Milhazes da análise dos efeitos da crise mundial no seu país pelo Presidente da Rússia. A evolução da situação política russa após a sua base económica ser submetida à forte pressão da contracção dos mercados internacionais merece ser acompanhada.

Obama "salva" indústria automóvel: a política e a segunda onda da crise nos EUA

A crise económica global terá, provavelmente, três ondas. A primeira arrasou sectores significativos do sector financeiro especulativo que a gerou. A segunda está a sentir-se no mercado dos produtos devido à contracção da procura a nível mundial, que afecta o comércio internacional. Também nesta a economia americana é das primeiras afectadas. Hoje é notícia que a administração Obama vai lançar um plano de injecção financeira no sector automóvel e que o Presidente da General Motors resignou sob pressão da Casa Branca, que exige concessões a accionistas e trabalhadores. Pareceria impensável ainda há um ano que a política recuperasse esta centralidade no governo da economia e se, por um lado não é um bom sinal, por outro, oxalá, se generalize a ideia da partilha de esforços e ela se encaminhe para a partilha de lucros, quando os houver. Em todo o caso, a indústria automóvel americana é pouco eficiente no mercado global e medidas proteccionistas ali terão forçosamente que originar outras algures. Mas a terceira onda da crise, a crise social das famílias afectadas pelo desemprego e, consequentemente, a prazo mais ou menos longo pela pobreza, também se aproxima. Se as duas anteriores não forem eficazmente travadas, pode atingir proporções difíceis de controlar. Se, para esta última, ainda não é tempo de anunciar planos com a dimensão dos que vêm sendo apresnetados para "salvar" o sector financeiro e agora o da grande indústria, é tempo de os ter prontos para, se e quando se impuserem.

24.3.09

A hora do planeta: a WWF apela

A WWF lançou uma iniciativa simbólica contra o aquecimento global. Apela a que dia 28de Março às 20h30 desliguemos as luzes durante uma hora como sinal do nosso empenhamento nessa causa. Em Portugal, segundo os organizadores, já aderiram o Primeiro-Ministro, o Ministério do Ambiente, o Ministério da Agricultura e da Câmara de Lisboa. Quem se segue? Para saber mais sobre a campanha vá ao site da WWF Portugal.

21.3.09

O Pedro voltou, agora a solo

Desde segunda-feira que o Pedro Adão e Silva voltou à blogosfera, agora a solo. Para já, música e política são as palavras mais frequentes no léxico familiar.

20.3.09

A desvalorização da habitação social agrava uma das doenças urbanas que atacam Almada

A carência de habitação condigna é uma das doenças urbanas que as autarquias são chamadas a combater. Infelizmente, fazem-no frequentemente de modo errado e, algumas, desvalorizando a questão e os seus impactos sociais. Uma má política de habitação tem consequências sobre a vida da cidade extremamente negativas que têm que ser prevenidas e corrigidas, pelo que o combate ao autêntico apartheid social que as políticas tradicionais tenderam a favorecer é uma prioridade fundamental de uma política urbana que vise construir cidade sobre a simples conjunção de agregados residenciais. Hoje, Almada é um dos municípios em que a inércia é grande, como dois factos recentes, citados no requerimento que o PS/Almada apresentou para convocatória de uma Assembleia Municipal extraordinária tornaram patente: A Câmara Municipal de Almada, ao abrigo de um Protocolo que tem com a Administração do Porto de Lisboa, recebeu da APL, há 9 anos, uma verba de cerca de 800 mil euros para realojar as famílias do Bairro do 1.º Torrão, na freguesia da Trafaria, sem que o tenha feita até ao momento, nem se vislumbrando um realojamento breve dessas famílias, o que nos parece uma situação inadmissível. Por outro lado, os acontecimentos amplamente publicitados de uma família residente na Quinta das Amoreiras, no Feijó, que viu a sua “casa” ser demolida, teve como consequência que o casal e os três filhos deixassem de ter qualquer tecto para viver, tendo de dormir ao relento, sem que qualquer medida fosse tomada por parte das entidades competentes. Na perspectiva de idêntica situação estão mais 4 famílias. A resposta da Câmara Municipal de Almada a este drama social, publicitada em vários meios de comunicação social, choca pela total insensibilidade, e choca igualmente pela falta de capacidade de resposta a verdadeiras situações de emergência. De facto, constatamos que inexiste, por parte da Autarquia, qualquer resposta preparada para uma situação de emergência social, ou se existe, a mesma não foi accionada. Os dois cenários são igualmente preocupantes. A Assembleia Municipal extraordinária será um bom momento para pôr em confronto as visões os partidos nesta àrea e fazer da política o que ela deve ser: a discussão de ideias e projectos. Adenda: o Público notícia a existência deste bairro clandestino sem acesso a àgua potável há sete anos.

Um elefante albino no Botswana

O bébé-elefante albino da foto é o primeiro a ser avistado no Botswana e terá reduzidas hipóteses de sobrevivência segundo os jornalistas da BBC, que também reportam a sua inteligência adaptativa. Leia aqui.

19.3.09

Traumas da guerra (João Vasconcelos Costa)

Como certamente muita gente de/dos 60s, acabei de ver o Guerra. Confronto-me com coisa esquisita. Durante muitos anos, calei muita coisa, por um pudor de quem foi apenas pequena peça de tão complexa coisa que foi a luta antifascista, a luta anticolonial, pudor de quem não quer aparecer em bicos de pés quando o tempo já não permite ser contraditado se disser inverdades. Por outro lado, diz-me alguém muito próximo que mesmo a sua pequena diferença de idade em relação a mim já causa alguma falta de vivência dessa realidade, que a sua geração quer partilhar, até para poderem dar aos seus filhos a ideia do que é a felicidade que têm em ter nascido e terem-se feito cultural e informativamente em tempos que lhes tornam hoje estranhas e muito distantes coisas como esta série de reportagens. Por isto, vai hoje apenas a recordação de um “pequeno” episódio, a propósito de uma declaração taxativa e corajosa do cor. Fabião. Não participei nele, não tenho culpas directas na consciência, creio que foi um acontecimento que devo assumir como tendo sido vivido por mim como consequência inevitável de uma decisão política: de ir fazer a guerra, com grande trabalho político junto dos meus companheiros militares, do comandante até marinheiros (com todo o respeito pelos que optaram pela deserção, em vez do que eu decidi). Em Julho ou Agosto de 1971, em Vila Nova da Armada, quartel de uma companhia de fuzileiros, no Cuando Cubango, tratei de feridas extensas de um prisioneiro. Foram horas de suturas e pensos. Saíu do posto médico já ao fim da tarde, para a prisão, um casinhoto sem janelas, a um canto da cerca de arame farpado. Entretanto, chegou um pide para o interrogar, juntamente com dois ou três fuzileiros, já não me lembro bem. Durante horas, não dormi, com os gritos. Depois, muito menos dormi, quando se fez um silêncio terrível. João Vasconcelos Costa

17.3.09

A cidade do Sul do Tejo: nova visão para Almada

A grande metrópole de Lisboa precisa de ser policentrada, em vez de uma estrela que converge sobre a cidade-centro. Nas últimas décadas, Almada tem procurado ser o braço esquerdo de Lisboa, que atinge o seu melhor quando prolonga o braço direito e tem o seu pior na dependência funcional quase total dele e no risco de periferização de vários tipos associado a essa estratégia. Se olharmos para as oportunidades que se abriram nos anos sessenta, com a ponte hoje 25 de Abril, essa foi a estratégia mais inteligente durante décadas. Foi essa oportunidade que permitiu reduzir os choques económicos e sociais da reestruturação económica que levou à perda de importância, quando não ao desaparecimento, dos sectores tradicionais de actividade do concelho. Foi a capacidade de crescer em população, dada a relação qualidade-preço, que habita em Almada mas procura emprego em Lisboa, que conduziu o concelho ao ponto onde hoje está. Foi a capacidade de alargar a sul, alguns pólos como os de ensino superior, vindos da margem norte, que diferenciaram o concelho e o afirmaram. Mas esse crescimento foi também desordenado, criou pressões insuportáveis sobre as acessibilidades, dificultou a afirmação da vida urbana própria e, sobretudo, assenta num enorme sobreesforço das populações apanhadas no movimento pendular. Quando digo que Almada tem que saír da sombra de Lisboa é à necessidade de mudar de visão que me refiro. Em pleno século XXI há que deixar a cidade centro ser o que é, aproveitar da vantagem de estar próximo dela, mas também que ambicionar mais do que as oportunidades que derivam, por inércia, de estar na sua proximidade. Vejo Almada como parte de uma cidade do sul do Tejo, que usufrui da sua pertença à Área Metropolitana de Lisboa, mas que se afirma nela autonomamente. Terá que se preparar para absorver os bons impactos da proximidade do novo aeroporto, como deve melhorar a capacidade de beneficiar da mancha urbana contínua que se estende pelo Barreiro, Seixal e Sesimbra. Deve aproveitar o seu lado de braço esquerdo de Lisboa para produzir uma centralidade que faz dela simultaneamente coração dessa nova cidade e gémea rival da margem norte.Esta rivalidade não diminui ninguém,pelo contrário ajuda a qualificar toda a grande cidade. Mas deve também ser mais do que um dos concelhos entre Lisboa e o aeroporto. As potencialidades naturais do concelho precisam de outro aproveitamento: a frente de costa, a frente ribeirinha, o ambiente urbano, os equipamentos sociais fazem de Almada, se bem gerida do ponto de vista urbanístico, o ponto onde se pode encontrar a melhor relação qualidade-preço para diferentes estilos de vida urbanos, como para a localização económica que dependa de força de trabalho de qualificação intermédia e superior. Assim como, não o esqueçamos, Almada é o melhor ponto do sul para ver Lisboa, o melhor sítio para estando fora, estar dentro dela. Mas essa possibilidade, até de contacto visual, acontece sem que tenha sido potenciada devidamente. É nessa força, nessa tensão entre ser dentro e fora, nessa relação entre proximidade e distância que deve acentar a afirmação competitiva autónoma de Almada. Seguramente que não contra os outros concelhos da margem esquerda do Tejo. Mas competindo saudavelmente com os outros do Norte, "puxando" um centro da cidade para o Sul. Julgo que o modo como o Walter Rodrigues vê a questão não é, no essencial, diferente, embora ache que acentuo excessivamente a vertente competitiva da visão e agradeço-lhe o contributo que espero que continue a fluir, porque ele é uma das pessoas que melhor pensa a metrópole de Lisboa, embora o venha fazendo demasiado discretamente. Já agora, também o saúdo por esta nova entrada, especializada, na blogosfera, com o Metapoles, que vai já para a lista das leituras, para além do Forum Comunitário de sempre.

16.3.09

Palavras excessivas (artigo de opinião no Semanário Económico)

A diferença de opiniões entre Manuel Alegre e José Sócrates a propósito de algumas medidas de política do Governo, concretas e identificáveis, é real. Em parte, são a resultante natural da vida interna de um partido plural, no qual não há linhas oficiais e dissidências, apenas convergências e divergências. Noutra parte podem derivar da divisão real dos eleitores socialistas nas últimas eleições presidenciais e da interpretação que cada um terá sobre o que ela significou. Noutra ainda, correspondem ao afloramento actual e português de um processo recorrente de tensão interna nos partidos socialistas quando passam pelo poder. Como não tenho bola de cristal para nela ler onde conduzirão essas diferenças de opinião, apenas tenho opiniões sobre o seu desfecho desejável. O PS só chegará às eleições na sua máxima força se tiver a energia reformista que o Governo mostrou nesta legislatura, a capacidade de interpretar as discordâncias e resistências que gerou, a inteligência de corrigir o rumo aqui e ali, a ousadia de propor ao país uma nova ambição para quando sair da crise e contar com todos os protagonistas das diferentes maneiras de viver o PS. As diferenças de opinião na interpretação da presente legislatura não devem pôr em causa a adopção de uma plataforma comum em que se respeite a vontade dos militantes, que o Congresso consagrou, o sentimento dos eleitores socialistas, de cuja vontade ninguém tem o monopólio da interpretação e as necessidades do país, que carece de governação que não pode ser tímida, conservadora ou meramente orientada por cartilhas ancestrais. O PS das Novas Fronteiras não deve fechar-se a uma parte de si. Relendo as palavras de Alegre, parece-me que já deu sinais claros de que não prescindiu da sua qualidade de socialista, pelo que não deve o seu partido imaginar prescindir dele e, nem ele nem Sócrates podem sobrevalorizar o acessório, porque palavras excessivas leva-as o vento.

12.3.09

O Ministério da Saúde garante que não há discriminação de dadores de sangue em função da orientação sexual

A Maria Antónia Almeida Santos e eu próprio interrogámos o Ministério da Saúde sobre a alegação de existência de discriminação de cidadãos homossexuais na dádiva de sangue. Entre a pergunta e a resposta houve quem ficasse irritado por eu ter vontado contra uma iniciativa legislativa do Bloco de esquerda que pressupunha a existência de tal discriminação. O Ministério da Saúde responde-nos agora, afirmando que "os seviços de recolha de sangue não restringem a dádiva de sangue por parte de cidadãos homossexuais em função da sua orientação sexual, mas tão só com base na avaliação do risco potencial associado ao estado de saúde e aos hábitos de vida dos dadores". Os fundamentos desta conclusão são apresentados na resposta que publiquei online e a que poderá aceder aqui. Depois de desfeita a dúvida sobre a existência de discriminação, a menos que alguem refute com base em elementos verificáveis, a garantia do Ministério da Saúde, a questão reconduz-se a outra, a da ponderação entre a generosidade do dador e o dever de garantir a segurança do sangue recolhido e a confiança no sistema de recolha. Será adequado barrar a dádiva de sangue em função da avaliação de que há um risco acrescido de exposição ao vírus da AIDS? Parece-me um debate que deve manter-se aberto,mas totalmente distinto da alegação de discriminação. Estarei errado?

11.3.09

Almada e a cidade do sul do Tejo

Estou convencido de que necessitamos de mudar de paradigma urbano na Àrea Metropolitana de Lisboa e em Almada em particular. Almada, Seixal, Sesimbra e Barreiro podem ser o núcleo central de uma grande cidade do sul do Tejo, em competição com a envolvente Norte de Lisboa. Ao ler que o Governo tenciona transformar o problema urbanístico do Arco Ribeirinho Sul numa zona estratégica para essa cidade, aproveitando a oportunidade do Novo Aeroporto ser na margem esquerda do rio, vejo neste projecto um bom contributo para a tese de que Almada tem que saír da sombra de Lisboa.

10.3.09

Sócrates está a cavaquizar o PS? (contributo de João Vasconcelos Costa)

Tenho uma velha simpatia por São José Almeida. Conhecia-a há bastantes anos, quando ela era destacada para recolher algumas bocas do porta- voz, eu, do então interessante MDP, divorciado do PCP. Fiquei seu leitor e hoje é das comentadoras políticas que me agrada ler, aliando argúcia de análise a uma evidente importância dos princípios. Hoje não estou de acordo com ela, embora de facto o que refiro é citação, não obrigatoriamente opinião sua. A questão, bem pertinente, é se Sócrates está a cavaquizar o PS, a pô-lo ao serviço do governo, como fez Cavaco. Sem o criticar (e aceito que um jornalista, excepto em artigo de opinião, não deve criticar por conta própria) SJA reproduz o argumento de que o PS não está hoje cavaquizado no sentido de ser apenas câmara de ressonância do governo, logo do primeiro ministro. Parece que os números resolvem a dúvida. No secretariado do PS, só 40% dos membros pertencem ao governo. No cavaquismo, eram 55%. Mas o que é que isto interessa? Hoje só se pensa em números? Com que frequência reúne o secretariado? Qual é a sua agenda-tipo? Melhor dito, quais são os seus poderes? Pode subordinar qualquer ministro, impor ou bloquear qualquer proposta de lei? Mais, pode condicionar o próprio primeiro ministro? João Vasconcelos Costa (via mail) Comentário meu: Quer São José Almeida quer João Vasconcelos Costa têm uma parte da razão. Ela, porque refere que continua a haver no orgão executivo máximo do PS uma "energia política" significativa exterior ao governo. Ele, porque se essa energia não se materializar em actividade relevante se reduz a uma estatística. O Secretariado Nacional do PS reflecte o tipo de liderança de José Sócrates? Naturalmente, é para isso que existe. Sócrates faz parte do tipo de líderes que trabalha com um grupo restrito de pessoas em quem toda a confiança? Isso é bom? É um tipo de liderança, com vantagens e inconvenientes, como vem nos livros. Escolher ter um "team of rivals" acontece, mas é raro, não só no PS ou em Portugal. Nota: O Banco Corrido está aberto à opinião de quem, estando de passagem por ele, me faça chegar os seus textos. Nestes casos, evidentemente, o critério de publicação ou não, pertence-me exclusivamente a mim.

Governo precário em tempo de crise? Não, obrigado.

Portugal não se pode dar ao luxo de ter um governo precário em tempo de crise. Jorge Sampaio tem razão (e é para mim um prazer concordar com ele): "Sofri como Presidente da República o que é a instabilidade, o que é a precariedade dos actores políticos quando estão num conjunto de processos de instabilidade absoluta. É fundamental, numa crise que estamos a atravessar - que não se resolve até ao fim do ano, como toda a gente já percebeu - se não houver uma estabilidade governativa, que tome as suas decisões na sequência de um sufrágio popular que deve, pelo menos, conduzir a que essas soluções possam ser encontradas”.

Partilha da Palestina: um consenso internacional que não convence as partes

O consenso internacional de que a questão israelo-palestiniana não se resolve sem o reconhecimento do direito à existência de dois Estados - Israel e Palestina - não é assumido pelas opiniões públicas de nenhum dos potenciais vizinhos. Para agravar as dificuldades, de um e outro lado da fronteira, os que se opõem a esta tese ganham eleições com frequência. A recusa do reconhecimento do Estado de Israel não impediu o Hamas de ganhar democraticamente as eleições em Gaza e a política irrealista do Likud não o impediu de se estar a preparar para formar governo na sequência dos resultados eleitorais em Israel. Acabam por ser as pressões dos parceiros internacionais que introduzem algum realismo quando as opiniões públicas se orientam para os extremos. Hoje, sob pressão egípcia, a Fatah e o Hamas iniciam negociações tendentes à formação de um governo de reconciliação nacional. Conseguirá a pressão da comunidade ocidental e em particular dos EUA impedir que Israel prossiga o caminho do conflito que se anuncia?

9.3.09

Desemprego: apesar de tudo, Portugal continua a resistir

O Público tem online os dados sobre desemprego harmonizado da OCDE referentes a Janeiro. A tendência global é de subida ligeira, com países com que nos comparamos frequentemente a registarem, de novo, um agravamento sério. Enquanto os EUA tendem a ter uma evolução mais negativa que a Europa, Portugal continua a acompanhar a tendência da zona euro, como se pode ver no gráfico. Como já se havia notado o mês passado, apesar de tudo Portugal continua a resistir. (publicado também no Canhoto)

Registo Parlamentar - Fevereiro de 2009

Aqui ao lado já se pode visitar o meu Registo Parlamentar de Fevereiro de 2009. Quem o pretenda, pode recebê-lo regularmente desde que me envie o endereço de mail.

6.3.09

Nuno Alvares Pereira, a santidade, o laicismo e o parlamento

O CDS apresentou hoje um voto de congratulação pela canonização de D. Nuno Alvares Pereira. A sua intenção é óbvia, apresentar-se aos seus eleitores como Partido da Causa dos Santos e reivindicar para si o estatuto de representante dos católicos na política. Como manobra é frágil, porque há décadas que os católicos definem o seu sentido de voto separando a fé e a política. Mas interpela os parlamentares laicos sobre o sentido e o significado do seu voto. Parece-me evidente que a Assembleia da República não tem nem deve ter opinião sobre a santidade de D. Nuno. Mas se a instituição relevante a nível mundial que dá pelo nome de Igreja Católica Apostólica Romana distingue um dos seus membros, pelos seus critérios, não vejo porque há-de o Parlamento abster-se de se congratular pelo facto. A Assembleia da República não avalia os méritos culturais, desportivos ou religiosos dos cidadãos mas, como representante dos portugueses pode, sem se imiscuir nos critérios pelos quais esses méritos lhe são atribuidos, congratular-se quando um português é distinguido por esses critérios. Por isso entendo que nem o CDS andou bem procurando chamar a si a fé dos portugueses, nem há razão para dúvidas de que o parlamento se afasta dos valores do laicismo por ter aprovado este voto.

3.3.09

Ataque preventivo: as IPSS e a obrigatoriedade da educação pré-escolar

A TSF, esta manhã, tem estado a dar destaque a umas declarações do Padre Lino Maia, Presidente da Confederação das IPSS, sobre a efectivação da obrigatoriedade de educação pré-escolar anunciada por José Sócrates, no fim do Congresso do PS. AS IPSS acusam o estado de "concorrência desleal" por impôr esta obrigatoriedade, pressupondo que o farão pela expansão da rede pública e que isso ameaçaria a rede de equipamentos que gerem. O Secretário de Estado da Segurança Social já veio dar garantias de que a rede solidária será tida em conta.Se as IPSS podem estar mais tranquilas com estas declarações, não deixa de ser curioso que tenham feito tal declaração, apesar de todo o respeito que me merece a sua fundamental presença no terreno na área dos equipamentos sociais. Afinal, nem a sua actividade nesta área é um negócio nem é autónoma do Estado, que a co-financia largamente. Pode (e deve) discutir-se se é mais eficiente o uso de recursos públicos para apoiar a rede solidária, para criar uma rede própria ou para combinar ambas e porque critérios. Mas acusar o Estado de concorrência desleal nesta matéria é como acusá-lo de deslealdade para com outros agentes por haver hospitais públicos. Em todo o caso, estou convencido que esta acusação não era bem uma acusação, antes um precoce ataque preventivo. Ao que parece, dado o rápido desmentido do Governo, bem sucedido. (Publicado também no Canhoto)

2.3.09

A democracia na Guiné Bissau é possível?

Em África, a estabilidade democrática é algo muito dificil de atingir, tornando-se dificil perceber as verdadeiras e profundas motivações por trás dos acontecimentos que tornam muitos dos países ingovernáveis. Agora foi, de novo, a vez da Guiné-Bissau. No dia em que a Assembleia Nacional da Guiné-Bissau tinha previsto iniciar o debate do programa do Governo de Carlos Gomes Júnior, que obteve 2/3 dos votos numas eleições classificadas por todos os observadores internacionais como democráticas, o Presidente da República, Nino Vieira, foi assassinado por militares, numa aparente retaliação ao ataque da noite anterior ao quartel geral das forças armadas, que culminou na morte de várias pessoas, entre as quais do próprio Chefe de Estado Maior. (continue a ler no Canhoto)

1.3.09

2009, o ano de todas as escolhas (base da minha intervenção no Congresso do PS)

Em Portugal têm acontecido coisas que não são normais. Não é normal que a difamação seja recorrente, mal se esperando que uma se dissipe para que outra surja no horizonte. Entre nós, os homicídios de carácter são demasiado fáceis e transformam a vida pública numa interminável telenovela de argumento muito negro. Mas a vida e a dignidade das pessoas não é uma trama novelesca e não nos podemos conformar com a ideia de que assim seja. Por isso aqui saúdo a coragem cívica com que José Sócrates abriu este congresso e queria aqui recordar o lema que orientava a vida do Professor Sousa Franco, que faleceu há 4 anos lutando pelo PS: “quem teme as tempestades, morre rastejando”. E toda a coragem é necessária no tempo de crise que vivemos. Que crise é esta? A que a deriva aventureira do capitalismo especulativo que se iniciou com Reagan, Tatcher e Kohl provocou, mas também a de que os que se lhe sucederam, embora vindos da esquerda, como Clinton, Blair e Schroder, não se distanciou suficientemente. A alternativa a esse capitalismo é hoje o ponto essencial que nos deve orientar. Nessa alternativa, o PS está a assumir um compromisso claro com os portugueses: a) tudo faremos para melhorar a vida das classes médias, esmagadas entre os baixos salários e as despesas que têm que suportar; b) tudo faremos para que o desemprego não suba e para aliviar o sofrimento de quem caia no desemprego; c) tudo faremos para que haja mais justiça fiscal, pedindo mais a quem mais pode dar para poder apoiar mais quem mais precisa Não é justo que entre duas pessoas que ganhem o mesmo rendimento, a que paga mais impostos possa ser a que os ganha do seu trabalho e a que paga menos possa ser a que os ganha fazendo lucros ou mais-valias, mesmo que não recorra aos inaceitáveis truques via off-shore. 2009 é também o ano de escolhas,onde a democracia começa, nas autarquias locais. Neste ano devemos prescindir do direito a estar ausentes. Por mim, disse sim a Almada. Tem-se falado nos adversários do PS. Só temos um tipo de adversário: os valores, nomeadamente os do conservadorismo e do populismo, não partidos em concreto. Não escolhemos como adversários os partidos à nossa esquerda, mas não podemos fechar os olhos ao facto de que eles nos escolheram como inimigo principal. O nosso adversário é a desigualdade não é nenhum partido em concreto. O nosso adversário é o desemprego, não é nenhum partido em concreto. Para vencer esses adversários, temos que estar preparados para o ano eleitoral de 2009. Neste ano, não é o PS que precisa de uma maioria absoluta, é Portugal que precisa do governo forte que, nas actuais circunstâncias, apenas uma maioria absoluta do PS pode dar aos portugueses.