20.12.11

Sobre a homenagem a João Martins Pereira (4ª parte): contra a ideologia do pequenês


Correu nos dias 25 e 26 de Novembro p. p., uma “Homenagem / Evocação a João Martins Pereira”, o intelectual português mais brilhante da segunda metade do século passado.

Este meu texto será o quarto e último, de uma série que o Dr. Paulo Pedroso entendeu por bem inserir neste seu blog “Banco Corrido”. 
Agradeço ao Dr. Paulo Pedroso este seu convite, que me permitiu homenagear o meu querido e saudoso Amigo João Martins Pereira.

1. A Doutrina Corporativa espreitando, na falta de uma Crítica Radical ao Corporativismo


Numa intervenção muito maturada e claramente virada para contribuir com uma achega à construção de uma alternativa ao tipo de sociedade que temos, e à atual situação política de Destruição do Estado Providência, desmantelamento do Estado de Direito e preparação de uma “Democracia Musculada”, eufemismo de Estado Repressivo, surgiu uma intervenção anotando o como mobilizar pessoas para participar nessa derrogação/ construção.
A anotação passava pelo não negligenciar o “Espirito de Corpo”, enquanto agregador, corrigindo uma fragmentação. Não vou por aí, como diria Régio.

A nova plataforma política, terá sim de passar por uma crítica radical, a toda a doutrina corporativa, não compaginável com a democracia, e terá de saltar por cima do “pragmatismo” perverso, que tem presidido à “utilização” do conservadorismo e egoismo, presentes em vários sectores, aliás como reiteradamente o Dr. Jorge Sampaio tem , muito justamente, pontuado.


Não creio possível, face às actuais técnicas e tecnologias, passar por cima da “Empresa Célula Base do Aparelho Produtivo e do Aparelho de Distribuição”. É nas Empresas que o processo de apropriação das “mais valias” vai tendo lugar, embora esse processo surja noutros pontos.   Curiosamente, o Patronato, sobretudo a partir da década de 90 , introduziu na “Gestão”, (termo que uso numa versão ampla), “descobrindo” duas coisas carregadas de consequências:


  • aceitou partilhar as “mais valias”com os Gestores, que mudam assim de Estatuto; 
  • recomenda aos Gestores que se desdobrem em: “aconchegarem” os Acionistas da Empresa; “aconchegarem” os Banqueiros da Empresa; “aconchegarem”os Fornecedores da Empresa; “aconchegarem” os Clientes da Empresa “descobrindo” as suas necessidades mutantes; “aconchegarem” os Vizinhos da Empresa, o que trocado por miúdos, é atender às necessidades que o Poder Local tem de satisfazer; “aconchegarem” os detentores da Investigação e da Formação, isto é, as Universidades
Do meu ponto de vista, a Professora Doutora Manuela Silva, interveniente central nesta “Evocação”, terá de burilar o seu importante contributo para a maturação da alternativa.


2. Outras memórias evocadas pela existência da evocação


Vou chegando ao fim. Esta ida a Lisboa, sempre gratificante para mim, por lá ter vivido mais de vinte anos, desta vez teve outros condimentos.
No centro, o meu querido e saudoso Amigo João Martins Pereira.
Depois, o ficar próximo do meu querido e saudoso Amigo Ernesto Melo Antunes, via a Doutora Manuela Cruzeiro, e pensei numa obra dela.
Para ficar bem próximo da minha querida e saudosa Amiga Engenheira Maria de Lourdes de Matos Pintasilgo via Professora Manuela Silva.
Os três pilares que me vão sustentando.



3. Conclusão: contra a ideologia da pequenez


Concluo com uma citação de João Martins Pereira, no seu livro “Para a História da Indústria em Portugal- 1941-1965”, escrito por volta de 2005, constante a página 231, no exemplar que tenho, que o João me  mandou em 4 de Janeiro de 2007, numa troca de galhardetes de Fim de Ano:

“A ideologia da pequenês. Enquanto a autarcia pode associar-se ao vector “pátria” ( que tem de ser “grande”, “rica”, “orgulhosa”) da trilogia ideológica do regime (Estado Novo), a pequenês pertencerá ao vector ”família”. O que é desejável é o “familiar”, o “todos se  conhecem”, “a pequena comunidade”- como no mundo rural. A própria ideia base do corporativismo é a cooperação entre patrões e trabalhadores, no limite a empresa como “familia”, como a quiseram os patrões “paternalistas” (na sua maioria pequenos empresários”). Salazar, em vésperas de se lançar o projecto siderurgico, referia-se como “a nossa pequena siderurgia”, pois neste país  não cabia outra- e, curiosamente, a  ele coube decidir-se pela “grande siderurgia”, que, na verdade, nunca chegou a sê-lo. O argumento da pequenês aparece explicito em vários parceres que U. Cortês recebeu sobre o primeiro projecto da SN. Também. F. Dias, ele que foi o arauto da “dimensão” (escala) económica das industrias, foi o licenciador de três pequenas unidadesde sulfato de amónio, em lugar de uma, de bem menores custos (de investimento por tonelada produzida e de exploração, e o defensor, nos primeiros tempos, de uma unidade siderúrgica “experimental”. É claro que os complexos industriais de Estarreja, de Alferrarede e sobretudo , essa sensação de “gigantismo” que assustava- quanto mais não fosse , e muitos o disseram, pelos “perigos sociais” das grandes concentraçõesindustriais: a deserção dos campos. O desenraizamento dos novos operários, que os levaria ao alcoolismo ou à subversão, etc.. Esta era uma componente política muito presente na ideologia da pequenês: quando há uma empresa com umas centenas , ou mesmo milhares, de operários, é muito mais dicícil controlá-los”

Esta citação suporta as minhas considerações sobre uma crítica radical à doutrina corporativa.

Mas esta citação serve ainda para desbancar o “Compromisso Portugal”, dos Marcelos e Carrapatosos, do “Small is beautifull”, e, numa outra vertente, os populistas/ maximalistas, detratores do Projeto Ota e do Projeto TGV.

Acácio Lima


Nota: 
Este texto encerra a evocação de João Martins Pereira que Acácio Lima, seu camarada e amigo aceitou fazer aqui no Banco. Visite os textos publicados anteriormenre:


1. João Martins Pereira: o mais desconhecido dos mais influentes pensadores da esquerda portuguesa, publicado a 18.11.2011;


2. Sobre a homenagem a João Martins Pereira: uma análise (1ª parte)publicado a 5.12.2011;

3. Sobre a homenagem a João Martins Pereira: uma análise (2ª parte)publicado a 5.12.2011;

4. Sobre a homenagem a João Martins Pereira (3ª parte): a necessidade de um macro-regulador e a importância do Estado de Direito, publicado a 6.12.2011;


Obrigado, Acácio, pelo tempo despendido. Paulo.

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