21.2.14

Sobre a limpeza da saída da troika e a necessidade de uma agenda realista de esquerda

Ontem, o influente think-tank Brueghel tornou público que acha que Portugal deve sair do programa de ajuda com um programa cautelar e que, não apenas nós, mas também a Grécia e a Irlanda deveremos ser sujeitos a "vigilância" pós-programa por décadas.
No que diz respeito a Portugal, os factores de vulnerabilidade que o think-tank aponta são as elevadas taxas de juro, as baixas perspectivas de crescimento económico e a improbabilidade de o país gerar consistentemente excedente orçamental primário.
Pode ser que a vontade europeia de fingir que a crise das dívidas soberanas se deve a desvios conjunturais e não a problemas estruturais do Euro faça com que a previsão central do Brueghel não se concretize. Mas isso não elimina a necessidade de, quem quiser governar Portugal, pensar agendas alternativas que compatibilizem dificuldades de financiamento externo da economia, equilíbrio entre receitas e despesas públicas e promoção do crescimento.
O Brueghel não se preocupa com os equilíbrios sociais nem com a sustentabilidade do modelo social dos países. Não é dificil de imaginar que veja aí as margens de ajustamento, sustentando uma agenda de direita para a retoma da competitividade à custa da coesão social ou seja, a substituição do empobrecimento geral actual por um empobrecimento selectivo, em particular dos mais desfavorecidos à partida.
 Com base nesse raciocínio, a direita tem uma agenda, que passa por desmantelar o Estado Social e, assim que o tiver conseguido, redireccionar o Estado para as funções de soberania e económicas.
À esquerda, há quem pense em Portugal fora do Euro, que julgo ser uma receita para a catástrofe e a refundação - talvez não saudável do regime. E há quem pense que não é possível fazer nada enquanto a Alemanha não mudar, a não ser gerir as expectativas e esperar para chegar ao poder. Mas, em política, os constrangimentos gerem-se e vencem-se, não nos vencem nem os podemos ignorar.
Assim,  no quadro que se desenha, os portugueses de esquerda, se quiserem ser úteis ao país e aos cidadãos, terão que discutir por sua própria iniciativa e seriamente quanto querem pedir que paguemos ao Estado - pessoas e empresas - e como; quem querem que pague o quê; assim como o que acham que é justo que o Estado assuma como serviço universal da sua responsabilidades e como apoios diferenciais;  que prestações deve pagar, a quem e por quanto tempo, quem deve compensar e como por situações de desvantagem; como pode agir para aumentar a coesão social e desejavelmente a igualdade. Sem repensar os impostos e sem reanalisar as funções sociais do Estado, a esquerda estará provavelmente bloqueada, mesmo que ganhe eleições, mesmo que tenha boas intenções.
Aquilo em que não acredito é na viabilidade e no futuro de um discurso que passe simultaneamente por baixar impsotos, aumentar incentivos empresariais e expandir ou mesmo manter o nível das funções sociais do Estado. O século XXI não permite aos portugueses planear a sua vida com tal raciocínio.

3 comentários:

asilvestre disse...

É curioso que se descreva como catastrófica a hipotética saída do Euro mas ao mesmo tempo se permaneça cego à catastrofe efectiva e vísivel diariamente da permanência de Portugal no Euro.

Anónimo disse...

"...quem querem que pague o quê"...Pois é: por exemplo, eu -e acho que muitos outros portugueses-queremos que as empresas do PSI20 não possam aproveitar-se da "competitividade fiscal" e pagar menos impostos; eu quero que se reponha legislação do trabalho para que "trabalho digno" não seja uma "ingénua" intenção. E, já agora, eu quero que muitos camaradas deixem de pensar que isto são apenas ilusões da esquerda, ou que são ideias de esquerda não realista. Cláudio Teixeira, 22/02/2014

Anónimo disse...

"...a limpeza da saída da troika..."
Boa questão! Mas de fácil resposta.
Apenas é necessário fazer a comparação entre os ORDENADOS de um(a) empregados de LIMPEZA, em Portugal e no ESTADO BÁVARO. como primus enterum pares. E pronto!

Enquanto houver ORGULHO PELA NAÇÃO, PORTUGAL SEMPRE NO CORAÇÃO.


P.s. Alentejano de raíz.