A educação conviveu mal com a democratização. São populares, mesmo nas elites sociais,
as conceções neoelitistas que associam as estratégias reais de democratização a
dois termos fortemente pejorativos: o “eduquês” e o “facilitismo”, para
desvalorizar as pedagogias, estigmatizar a inovação no desenvolvimento
curricular e na avaliação das aprendizagens.
Portugal geriu mal, também, a relação entre a
educação e o trabalho. A
evolução tecnológica, as transformações organizacionais e o desenvolvimento da
sociedade conhecimento requerem da escola que participe ativamente da
socialização para o trabalho de todos e para todos os tipos de trabalho. A boa escola educa para o trabalho, educa
pelo trabalho e prepara para a profissão.
O trabalho é uma atividade – de produção de um
bem, de prestação de um serviço ou de desempenho de uma função – com utilidade
social e valor económico, desempenhado com recursos a uma tecnologia e num
contexto organizacional determinado.
Educar para o trabalho é educar todos para os requisitos de um
desempenho profissional, nas atitudes, no domínio das tecnologias e na
socialização para os contextos organizacionais em que ocorre, o que implica,
conhecer hierarquias, colocar-se em relações verticais e horizontais em
processos colaborativos.
Educar pelo trabalho é educar todos pela criação de atividades que se
finalizem na produção de algo com utilidade social e valor económico. Implica
aprender que essa finalização com sucesso, num tempo preciso e com qualidade
adequada, é condição de sucesso.
Aprender uma profissão corresponde a obter as competências necessárias
ao desempenho de uma atividade específica. Cada um terá que, numa sequência de
aprendizagem adequada, no nível
educativo próprio, aprender a sua ou as suas profissões.
A escola democrática devia incorporar essas três
dimensões. Mas aquilo que o neoelitismo nos propõe é a redução da relação entre
educação e trabalho à aprendizagem de certas profissões e o reforço da relação
entre ensino vocacional e percursos de insucesso educativo, apostando agora num
ensino vocacional básico e secundário e num ensino superior de curta duração,
que propagam a ideia de que aprender uma profissão é destino de quem “não
aprende”.
Quem hoje comanda
a educação parece não ter aprendido nada com os desafios que o século XX trouxe
quer a esta quer ao trabalho.
(contributo para uma tertúlia das Inquietações Pedagógicas, publicado no Jornal de Letras, Artes e Ideias, Março de 2014)
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