17.4.14

Quero ir para Macondo

Como acontece com todos os escritores que verdadeiramente importam, cada um de nós terá, por razões que só a gramática da reçepcão de uma obra pode explicar, as suas obras favoritas de Garcia Marquez. Quero ir para Macondo, mas a sua obra dá a cada um de nós a sua versão dela.
Bem sei quais são as obras consideradas primas, mas, a mim, as que continuam a tocar-me especialmente talvez não sejam as que a generalidade dos leitores preferem.

Se reconheço a genialidade da construção dos Cem Anos de Solidão, continuo a colocar no pedestal a novela sobre a espera, a ansiedade e o sentimento de abandono de Ninguém Escreve ao Coronel. Se me rendo ao fantástico lado mágico da obra de Gabo, continuo a sentir emoções muito fortes no retrato profundamente realista de Notícia de um Sequestro. Se acho fascinante a ideia de uma paixão para a vida que só a queda de uma escada pode destruir em Amor Nos Tempos de Cólera, acho que o relativamente menor O General no Seu Labirinto é uma poderosa metáfora da América Latina que veio por aí. (E não esqueço o marinheiro náufrago do navio sobrecarregado de contrabando).
No dia da sua morte, apenas posso dizer que mal-aventurados os pobres de espírito que tenham recusado o contágio lírico, histórico e político da sua obra. 

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