"To be master of the machine you have to have the skills and knowledge to teach the machine" (Mitsuru Kawai, reponsável de projeto na Toyota)
Há um século que o mundo do trabalho é atravessado pelo processo da automação, intensificado nas últimas décadas. A generalização do recurso aos robots em várias fazes dos processos de produção industrial como "mão-de-obra" que executa directamente as tarefas sob supervisão humana marca o estádio corrente de desenvolvimento da grande indústria.
A notícia é a necessidade de reflectir sobre a interacção entre o humano e o robot e sobre como, se os saberes das antigas aristocracias operárias se poerderem, será possível "ensinar" os robots a executar o seu trabalho. O projeto em curso na Toyota de recriação de ateliers de trabalho manual para que os saberes operários (re)floresçam é um sinal de que a interacção entre humano e robot não é apenas um processo de substituição do primeiro pelo segundo mas, de aprendizagem que permita extraír as vantagens das capacidades de um e outro.
A Toyota quer que os humanos que dominam os saberes profissionais das tarefas que os robots executam "na vida real" possam continuar a deter o saber que permita melhorar a performance das máquinas. O raciocínio do tipo"se-não-sei-fazer-como-posso-ensinar?" levou a empresa a recuperar 100 ateliers "humanos", intensivos em trabalho.
Com o que os humanos que sabem o que fazem porque fazem puderam ensinar os robots a fazer, diz-se que numa fábrica japonesa se eliminou 10% do desperdício de material. Ou seja, a história da relação do homem com a máquina em tarefas de produção pode não ter terminado na sua substituição.
Este exemplo fez-me pensar na padaria que Richard Sennett descreve em A Corrosão do Carácter. Também lá a substituição dos saberes artesanais dos padeiros pela manipulação indiferenciada de máquinas levava ao aumento de produto defeituoso, no caso de pães que tinham que ser rejeitados.
Se a ideia da Toyota for seguida, uma nova fase da relação entre trabalho humano e robotizado pode emergir, na qual os humanos fazem trabalho real mas não orientado principalmente para produzir, antes orientado para melhorar a produção dos robots.
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