25.11.09

A CDU de Almada e o Cardeal Cerejeira. O oportunismo não tem ideologia.

Há-de haver sempre um motivo através do qual a revisão da história se esconde para fazer de conta que está a celebrar algo diferente do que está realmente a fazer. Vem esta reflexão a propósito da inauguração de um busto de homenagem ao Cardeal Cerejeira, arquitecto da participação da Igreja Católica no fascismo português. Evidentemente, o busto não visa homenagear esse papel e surge a pretexto de que foi o inspirador da construção do Cristo-Rei. Como bem nota o Diário Ateísta, este subterfúgio é igual ao do Presidente da Câmara de Santa Comba Dão a propósito de Salazar.
Haverá quem contra-argumente que é uma homenagem legítima da Igreja Católica a um seu dignitário, o que não deixa de ser verdade. Ou mesmo que, sendo Manuel Cerejeira um Cardeal Patriarca e tendo nessa qualidade promovido o monumento, o actual Cardeal Patriarca de Lisboa se limitou a fazer-se representar na cerimónia pelo seu Vigário Geral em vez de estar em pessoa, num inequívoco sinal de distanciamento.
Assim como há-de haver quem veja na crítica a esta homenagem um sinal de anti-clericalismo serôdio ou uma desvalorização do papel que o Cristo-Rei pode ter para Almada no plano do turismo religioso. Mas estes últimos são feitos da mesma massa dos que acham que se pode homenagear Salazar em Santa Comba Dão pelas obras que promoveu.
Mas, inaceitável mesmo, é a cegueira a que chegou o idílio entre a CDU de Almada e  o que quer que venha da Igreja Católica. Não apenas o vereador António Matos esteve presente na inauguração do busto ao nosso cardeal-pilar do fascismo e da guerra colonial, como conseguiu afirmar que "este é um momento importante para a nossa terra. Portugal está mais rico e a nossa cidade também". Se o Reitor do Santuário se lembrar disso, o autor da frase ainda há-de saudar a inauguração de um museu Manuel Gonçalves Cerejeira em Almada.
E se um dia alguém se lembrar de homenagear António Salazar por ter-se empenhado na realização da Ponte 25 de Abril e quiser implantar um busto na praça da Portagem? Ninguém há-de negar a importância da Ponte para Almada, nem o papel dos governos de Salazar na sua construção. Iria António Matos a essa inauguração e diria estas palavras? Seguramente que não, que o seu contentamento com monumentos a fascistas termina nos que ainda rendem votos e permitam continuar a ter na Igreja Católica local um aliado político de peso. Para os outros, a ideologia permite pronunciar o vaderetro Satanás adequado.
Nos tempos que correm, porque haveriamos de levar a mal que uma autarquia comunista se deixe confundir com os ícones do fascismo? Bem vistas as coisas, o oportunismo político não tem ideologia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vá ver quem ajuda quem precisa...
Vá...
Vá à Cova da Piedade...
fale com o padre Ricardo...

Tristeza!

viriato teles disse...

Por este andar, ainda havemos de ver Jerónimo de Sousa ir a Fátima a pé...