Paul Krugmann pensa que a raíz da crise que a zona euro está a atravessar radica mais na Espanha que na Grécia, dada a dimensão desta última economia e que não nasceu da irresponsabilidade fiscal - que a Espanha não teve - mas dos choques assimétricos previsíveis da integração monetária sem integração fiscal e social. Para estes, não criámos mecanismos e os países que perdem competitividade ficam apanhados entre dois males: regressão social ou crise económica profunda.
Que fazer? Há quem pense que é só apertar o cinto nas zonas sob pressão até que passe. A proposta de Krugmann é bem mais radical:
I think Europe is now stuck with this creation, and needs to move as quickly as possible toward the kind of fiscal and labor market integration that would make it more workable.
Há por aí alguém que queira ouvir falar desta saída para a "euromess", dolorosa, mas estrutural? Se Krugmann fosse mais específico, julgo que os apoios no centro da Europa seriam ainda menores, mas o milagre das omeletes sem ovos está a sobrar para os espanhóis, os gregos e... os portugueses que queiram viver e trabalhar nos seus países.
Em dia de Orçamento de Estado vale a pena ter a noção precisa do que pode ser feito pelos portugueses e do que só pode mudar se acontecer à escala do euro, sem o que os sacrifícios de hoje se arriscam a ser meros prenúncios dos sacrifícios de amanhã.
Por coincidência, também hoje os Ministros das Finanças se "reunem" de urgência, por teleconferência, para tratar do assunto. Tal como aconteceu o ano passado com a banca, teme-se o efeito de contágio (o risco sistémico) dos problemas gregos a outras economias.
Ontem, num texto interessante e algo polémico, um economista escrevia sobre verdades e mitos em torno da crise da dívida pública um texto premonitório anunciando que a Grécia seria alvo de uma intervenção de resgate da situação de apuros. Escrevia ele:
Contagious debt defaults, along with bank failures, could lead to a double-dip recession in Europe, possibly affecting the US as well. If that were to happen, with the interest rate at the zero lower bound and fiscal policy not available any more, we could face a terribly bad situation. This is the most generous interpretation of why Eurozone governments will bail out Greece.
Hoje, os Ministros das Finanças estão exactamente a discutir esse "bailout" da dívida grega, aparentemente divididos entre os que admitem o recurso clássico ao FMI, reconhecidamente implacável; uma ajuda bilateral, algo humilhante, que poria o governo grego a responder a condições postas por outro "grande irmão" do euro, como a Alemanha; ou uma intervenção institucional ao nível europeu, que teria que ser tomada por unanimidade e abriria um precedente de assistência mútua que foi deliberadamente restringido drasticamente na criação do Euro.
Tal como os grandes bancos americanos, os Estados europeus são "too big to fail". A Grécia não o seria, nem Portugal, mas o receio de que arraste(m) consigo a Espanha e a Itália despertou a Europa.
A resposta para esta crise parece ser, pois, à europeia: princípios firmes, excepções largas, regras opacas, quadro regulador cada vez mais complexo. Funcionar? Tem funcionado, mas, voltando ao princípio, Krugmann tem razão, criámos uma euromess.
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