18.9.09

O BE e o centro de Almada: uma no cravo, outra na ferradura

Ontem de manhã acompanhei a manifestação convocada pela Associação de Comerciantes do Distrito de Setúbal em que foi lido também um comunicado da Comissão de Utentes do Centro de Almada, porque concordo com o protesto dos comerciantes e as razões que invocam. Na véspera tinha aqui escrito o que penso que deve ser feito para devolver a vida ao centro de Almada e quem acompanhar regularmente o que aqui escrevo sabe que aqui, aqui e aqui deixei bem claro o que penso. Nessa manifestação participaram também os cabeças de lista do CDS e do BE. Se Fernando da Pena tem também uma posição inequívoca de apoio a uma política alternativa para o centro de Almada, como se viu no debate da TVI24, a candidata do BE tem tido uma atitude errática. Na televisão fez, sobre esta questão, um discurso tirado a papel químico dos vereadores da CDU. Disse mesmo que não há um problema dos comerciants do centro de Almada. Na manifestação, como se vê nesta notícia do Público tergiversou e defendeu que a falsa zona pedonal continuasse como está. Não acredita? Leia aqui e veja ali. Helena Oliveira dá uma no cravo e outra na ferradura. Não quer ficar de fora do protesto intenso que se faz sentir no centro de Almada, mas continua encostada à CDU. Ou seja, como ontem foi àquela manifestação, amanhã poderia estar noutra que defendesse a manutenção do esquema de circulação absurdo que a CDU engendrou e no qual faz um finca-pé arrogante, ao lado dos actuais vereadores, embora pedindo-lhes mudanças nos detalhes. Tenho muitas dúvidas que os eleitores do BE pensem como ela, mas não me cabe ser àrbitro nessa matéria. Agora, com estes discursos, ficou clara uma coisa: toda a força que os eleitores derem ao BE servirá para manter o absurdo que induziu o aos no centro de Almada; servirá para manter uma falsa zona pedonal, artificial, que parte o coração da cidade; servirá para fazer a Almada o equivalente do que seria fechar ao trânsito a Avenida Luisa Todi, em Setúbal, ou a Rotunda do Marquês de Pombal e parte da Avenida da Liberdade em Lisboa.

8 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite , o Dr Paulo Pedroso já se antecipou escrevendo quase tudo o que eu tinha imaginado escrever, todavia queria deixar aqui a minha estranheza pelo facto dos candidatos do Bloco de Esquerda passarem em passo de corrida ao lado da Manifestação legitima dos comerciantes em Almada. É que nós levamos com eles uma legislatura inteira apregoando que estão do lado de quem quer trabalhar mas quando é preciso afastam-se deixando uma certeza de que nesta e noutras matérias tudo o que apregoam não tem credibilidade por isso eu afirmo e reafirmo todos os votos dados ao BE vão direitinhos para a CDU em Almada, já não bastava em todos estes anos estar o PSD casado com a CDU para a manter na Câmara, agora também o Moralista BE. Se estiver errado que seja corrigido.
O Programa do PS para Almada é consistente , moderno e seguro por isso só com o PS liderado por Paulo Pedroso o Concelho de Almada pode aspirar a modernizar-se , a atrair investimentos para o Concelho , e a colocá-lo no lugar de desenvolvimento aproveitando todas as suas potencialidades.

Liberdade disse...

Com a radicalização da luta dos comerciantes começamos a conhecer melhor as posições dos diversos candidatos sobre este assunto. A posição da candidata do BE sobre esta matéria parece ser ainda mais radical do que a do PCP/CDU.

Helena Oliveira crítica a CMA por ter recuado e alterado alguns sentidos de trânsito impostos pelo Plano de Mobilidade voltando às soluções anteriores.

Helena Oliveira entende que isso se tratou duma cedência às reivindicações dos cidadãos e nem sequer se atreve a admitir a rectificação dos erros do Plano de Mobilidade. Ela quer que o Plano seja implacável e aplicado a todo o concelho de Almada.

Helena Oliveira mostra que não entende nada do que está a falar quando fala do Plano de Mobilidade, porque ainda não entende com funciona uma cidade com 100 mil habitantes.

Por outro lado alinha com o PCP/CDU quando atira todas as culpas da situação do comércio local para a crise nacional, que parece ter caído toda em Almada...

É bom que se vá fazendo a separação das águas, até porque o Plano de Mobilidade, na forma como está feito, vai trazer mais problemas a outras áreas do concelho. Já aqui referido o que a CMA está a projectar para Palhais.

Andamos aqui com uma terrível dúvida na cabeça. Não acreditamos que o BE seja contra a utilização do automóvel, basta ver a área envolvente da sua sede de Almada em dia de reunião, para ver como os seus militantes se deslocam.

Então perguntamos se as posições intransigentes do BE e de Helena Oliveira sobre o Plano de Mobilidade terão a ver com a defesa do trabalho técnico dum seu conhecido militante.

É que o arqtº José Pedro foi Director do Departamento de Planeamento Urbanístico quando foi projectado o Plano de Mobilidade e o Projecto do Espaço Canal do MST, incluíndo a falsa zona pedonal.

Mas, a ser assim, então estará tudo explicado. Só que o BE pode perder uma boa parte da simpatia que tem vindo a conquistar em Almada, deixando o PS como a única alternativa útil, capaz de romper com o passado e até com anteriores erros seus.

Lear disse...

Veja-se, por exemplo, o caso de Viseu: uma pequena, média para os padrões nacionais, cidade do interior com não mais de 50.000 habitantes e um poder de compra substancialmente inferior ao de Almada. Tem, actualmente, dois grandes centros comerciais, o Fórum e o Palácio do Gelo, o que a mim me parece um exagero.
Mas, para além dos dois centros comerciais possui ainda um Continente.
No entanto, com tudo isto, se forem ver o comércio tradional no centro da cidade ele mostra-se pujante e praticamente não se vêem lojas fechadas.
Portanto, a tal dita crise nacional alegadamente responsável pela crise do comércio almadense, e assim referida por MES e pela candidata do BE é uma falácia.
Para mais, felizemente, esta crise não afectou tanto Almada como outras anteriores; desta vez foi a região Norte a mais afectada e ainda assim nós vamos às cidades do Vale do Ave, as mais afectadas pela crise, e apesar da existência das grandes superfícies comerciais o comércio tradicional continua a existir e não passa pela crise do seu congénere almadense.
Portanto, como já é hábito de MES, em Almada, o que é bom é dela a responsabilidade, o que está ou é mau, é sempre responsabilidade de terceiros, principalmente de todos os governos. O que vale é QUE aqueles têm as costas largas e se estão marimbando para o que ela diz.
Aliás, quem em seu juízo perfeito ainda a pode levar a sério ?

Minda disse...

Pretender que a grave situação que o comércio local em Almada atravessa (que não atinge apenas os comerciantes do eixo central da cidade, embora estes sejam, de facto, a face mais visível do problema) advenha, em exclusivo, da implementação do Plano de Mobilidade Acessibilidades XXI e, em particular, do encerramento ao trânsito das avenidas Afonso Henriques e parte da D. Nuno Álvares Pereira, é não querer, deliberadamente, ir ao cerne da questão (embora desconheça porquê).

Até à data, e apesar da insistente ideia veiculada pelo PS e pela ACSDS de que é necessário abrir de novo ao trânsito aquelas artérias da cidade, ainda não consegui perceber como é que os carros a circular nelas conseguem ser garantia absoluta de clientes a entrar nas lojas ali instaladas e, sobretudo, como é que esses automobilistas em circulação se transformam em consumidores efectivos. Se alguém aqui souber como se opera o milagre, gostaria de ser informada pois até pode ser que consiga mudar de opinião desde que garantidas essas premissas (veículo de passagem = cliente assegurado = comprador certo = dinheiro a entrar).

Sendo uma evidência que a autarquia tem muitas (demais até) “culpas no cartório”, não posso deixar de estranhar que, entre tanta reivindicação, não se dê igual relevância a questões como a do “congelamento” da renovação urbana (decretada por despacho da Presidente da CMA há cerca de uma década atrás) e que tem levado à degradação do património construído, a entrada em funcionamento do Almada Fórum, muito mais atractivo e sem problemas de estacionamento, onde se pode andar sem estar sujeitos à intempérie, e que afastou a população do centro da cidade, ou o largo período em que as obras do MST se arrastaram não tendo havido, à semelhança do que aconteceu no Porto, a criação de um fundo de apoio para indemnizar os comerciantes e menorizar os prejuízos sentidos.

Mas, há largos anos que se perspectivava uma realidade como a do presente. E é preciso ter coragem de o dizer, com frontalidade. A inércia da autarquia é a principal responsável, sim. Mas a acomodação dos comerciantes também tem a sua quota-parte de co-responsabilidade, sobretudo da respectiva associação que acordou tarde demais e não soube desenvolver acções regulares de dinamização do espaço público apostando, apenas, em projectos pontuais de parceria com a autarquia e pouco mais.

(continua)

Minda disse...

(continuação)

E já que aqui falaram em Viseu, não deixa de ser interessante referir que também na baixa dessa cidade existem ruas pedonais (tal como em Faro e Portimão, por exemplo) e é nelas que o comércio local é mais pujante. Ou seja, o dinamismo do comércio local não depende da passagem de automóveis pelas ruas onde se encontram os estabelecimentos.

Por isso o Bloco de Esquerda defende, e bem, na minha opinião, a manutenção da zona pedonal em Almada (embora reconheça que deveriam ter havido a assumpção prévia de determinadas medidas que só agora a CMA está a tentar resolver - como o dos parques de estacionamento – e outras ainda estejam por resolver não se perspectivando para quando a sua solução, como a da intermodalidade entre os operadores de transportes públicos) e exige sejam encetadas outras medidas estruturantes de revitalização do comércio local, conforme expressa no seu programa eleitoral, entre as quais:

Definição de uma política de marketing local concebida com visão estratégica, em parceria com as Juntas de Freguesia, os comerciantes e outros agentes locais, como associações e colectividades culturais, para que se possam promover acções de dinamização regular e permanente do espaço público.

Aposta em medidas concretas no que se refere à melhoria das condições físicas dos estabelecimentos, tornando-os mais atractivos, através da concretização de medidas de apoio aos pequenos empresários como forma de incentivo à modernização e requalificação dos seus equipamentos, bem como a requalificação dos edifícios circundantes.

Concretização da instalação da Loja do Cidadão.

Promoção, em colaboração com as autarquias (CM e JF) e os empresários, a divulgação das suas empresas e do seu potencial: criação de um “portal do comércio local”, on-line, onde cada estabelecimento tenha o seu espaço próprio, e de uma “agenda comercial”, em papel, de distribuição gratuita, a colocar em sítios estratégicos, nomeadamente nos postos de turismo.

Termino pedindo desculpa pela extensão do meu comentário mas eram explicações necessárias para clarificar a posição do BE aqui posta em causa.

Carlos Pinto disse...

Minda,

Vamos por partes.
Há de facto comércio no centro de Viseu, Faro e Portimão em ruas pedonais. Com duas grandes diferenças em relação a Almada:

1. Em nenhuma dessas cidades as ruas escolhidas para serem pedonais correspondiam as principais eixos viários, mas sim a ruas secundárias ou no centro histórico.

2. Em todos essas cidades há estacionamento muito perto das zonas comerciais, mesmo nos centros históricos.

Estas férias visitei ruas pedonais com comércio em Seia, Gouveia e Castelo Branco e também nestas cidades foram escolhidas ruas secundárias e garantido estacionamento.

Em Sintra, a minha terra, Edite Estrela pedonalizou uma rua comercial e algumas lojas fecharam ou mudaram de dono perdendo qualidade (foram para o mercado chinês...). Aguentaram-se os bancos, os cafés, a mercearia e o supermercado e outras mudaram para a ponta oposta da rua, onde há estacionamento.

A conclusão é que o comércio é sempre muito sensível a todas as alterações no espaço público. Isto dava um debate sobre a teoria da mobilidade urbana, mas não é aqui o local.

Portanto qualquer autarca responsável tem sempre de ponderar muito bem os projectos no centro comercial da cidade, que são muito mais do que meras operações de estética urbana.

E uma estética urbana sem responsabilidade social não serve à cidade, nem aos seus habitantes.

Lembro que neste blogue já foram referidas outras medidas relacionadas com o congelamento da renovação urbana pela CMA.
Eu próprio deixei aqui a proposta de 5 medidas imediatas a tomar nessa matéria e que estão também no blogue da candidatura do PS a Cacilhas.

Há duas crises que se abateram sobre o comércio do centro de Almada.

Uma crise nacional que afecta também o comércio de Viseu, Faro, Portimão, Sintra, Seia, Gouveia, Castelo Branco...

E uma crise provocada pelas decisões erradas da CMA, em particular no plano da mobilidade, mas há outras mais antigas como refere.

Mas a crise nacional não pode servir de desculpa local... antes pelo contrário, é nos momentos de crise que a CMA mais devia procurar apoiar os comerciantes, mesmo com medidas provisórias, e não é isso que está a ser feito.

A passagem de automóveis aumenta os número de clientes? A questão não é assim tão simples, é que não é só a passagem é a alteração radical dos hábitos antigos de muitas dezenas de milhares de cidadãos que sentindo-se expulsos do centro da cidade ganham outros hábitos noutras zonas do concelho e deixam de cá vir.

Mas de facto a circulação automóvel aumenta a exposição das lojas e potencia os clientes. Há uns meses passava eu de carro no eixo central de S. Pedro de Sintra e reparei numa gravata que estava exposta na montra duma loja. Não parei nessa altura mas no outro dia fui lá comprar a gravata e acabei por comprar outras mais que estavam dentro da loja.
Isto acontece-nos a todos sem darmos conta, caminhemos a pé ou andemos de carro, MST ou autocarro. É por isso que as lojas têm montras viradas para a rua.

É claro que os comerciantes também devem promover a modernização da sua actividade mas, como fez a Câmara de Portimão, a autarquia pode e deve ser o motor promovendo com os comerciantes projectos de urbanismo comercial adequados.

Espero ter contribuído para o debate.

Minda disse...

Carlos, em 1.º lugar tenho a dizer que me congratulo pelo facto de ter merecido uma resposta sua, e com o nível que os diálogos entre nós costumam adivinhar.

Temos ideias contrárias em muitas coisas, e esta sobre a abertura do eixo central da cidade de Almada ao trânsito parece ser uma delas. Todavia, sempre temos conseguido contribuir para um “debate são e positivo”, ainda mais estando nós na casa de um meu adversário político que, não tenho quaisquer dúvidas, respeita as posições de cada um de nós mesmo que não concorde com as minhas.

Em 2.º lugar, voltemos ao cerne da questão:
Julgo que tem havido nos últimos tempos, talvez por força do mediatismo das acções encetadas e da proximidade das eleições autárquicas (e não vale a pena negá-lo porque isso é demais evidente), algum aproveitamento político desta luta dos comerciantes, os quais, mais tarde ou mais cedo, disso se aperceberão, em particular quando se aperceberem que, afinal, o tempo vai passando e esgota-se no esgrimir de argumentos que, na prática, pouco (ou mesmo nada) têm contribuído para a resolução efectiva da crise que o comércio local enfrenta na actualidade.

Não digo que a contestação dos comerciantes almadenses não seja justa, muito pelo contrário (algumas reivindicações são-no, não temos a menor dúvida), contudo, volto a insistir, centrá-la, quase em exclusivo, na abertura do eixo central da cidade de novo ao trânsito (dando a entender que essa medida é suficiente para recuperar as vendas) é enganar os próprios comerciantes e focar a atenção no acessório deixando de parte o fundamental.

Por outro lado, pensar que a situação de crise do comércio local é culpa de um só carrasco (a autarquia), é outro engano (e, a meu ver, bastante grave porque impede uma análise séria do problema) a que alguns, infelizmente, mesmo sabendo o logro em que estão a cair, gostam de se agarrar para colher as simpatias dos visados e, por arrasto, uns quantos votos.

Para se chegar a esta situação (refiro-me à quebra acentuada das vendas) – deixando de fora a crise nacional e internacional que também teve reflexos municipais – todos sabemos que houve co-responsáveis e é preciso dizê-lo com coragem e frontalidade: os comerciantes não podem desobrigar-se das consequências que os anos de indiferença, acomodação e desunião entre pares tiveram. Branquear esses factos é limitar a acção no presente e manter no futuro os mesmos comportamentos que impediram o progresso do sector até hoje com consequências nefastas em termos económicos. Há que ter a humildade de saber o que falhou, o que ainda está a falhar e como ultrapassar esses erros para depois fortalecer a luta.

Quanto à circulação automóvel e aos ganhos que daí possam advir para o comércio local, continuo a ter as minhas dúvidas. E o exemplo que dá na compra da sua gravata, não me convenceu, até porque na minha ingenuidade pensava eu que as lojas tinham montras viradas para a rua para que os transeuntes as pudessem observar e não o condutor, que deve estar atento à condução… a não ser que se pretenda que o tráfego seja de tal modo lento que dê tempo para, de carro, ir vendo as ditas (o que me parece um contra-senso).

Muito mais haveria para dizer, nomeadamente sobre na concepção do espaço urbano e a vivência na cidade, mas fico-me por aqui porque decerto outras oportunidades haverão para, com elevação, reflectirmos sobre estas e outras questões.

Saudações democráticas.

Carlos Pinto disse...

Minda, é sempre um prazer polemizar consigo (mesmo quando se zanga comigo...)

Quero só fazer dois breves comentários.

Primeiro, os automóveis não transportam só os condutores também levam outros ocupantes e esses não vão concentrados na condução. A condução em ambiente urbano é sempre muito inconstante, com paragens e abrandamentos permitindo ao condutor dar alguma atenção à envolvente. Por todo o lado há publicidade dedicada aos condutores no espaço público das cidades.

Segundo, temos de reconhecer que o PS-Paulo Pedroso tem ido mais longe nas propostas que apresentou para apoiar o comércio do centro da cidade, do que a simples abertura do eixo central aos automóveis. Basta consultar o blogue.

Redobro as saudações democráticas.