30.1.09

Pacheco Pereira merece bengaladas

Pacheco Pereira faz parte do leque de pessoas que se santifica a si mesmo e acha todos os outros capazes de todas as vilanias. Junta a esse pessimismo antropológico um grande desinteresse pela verdade material e uma visão conspirativa do mundo. A combinação dessas atitudes faz dele um guionista de telenovela, num mundo amoral. Não hesita em associar-se a difamações, a acusar sem provas, a julgar sem contraditório e em transformar as suas opiniões, mesmo as mais disparatadas, em verdades absolutas. Se as vítimas dessa sua maneira de ver o mundo não fossem pessoas a coisa não seria grave. Mas são e ele tem a fria consciência dos ditadores, conhece o poder destrutivo da sua influência e usa-o. Depois de tudo o que já li, escrito por si sobre mim, desejo-lhe apenas que nunca passe pelo que tive que passar. Aprenderia muito sobre a condição humana. Mas ele não conhece o sofrimento humano nem sequer a diferença entre a verdade e a mentira. Num mundo de gente de honra, coisas como as que escreve aqui merecem um processo por difamação ou bengaladas. Como a justiça portuguesa acha os opinion-makers irresponsáveis não terá processo, como não uso bengala fica este testemunho: Pacheco Pereira mente descaradamente sobre cabalas e contra-cabalas e fala de mim como um reles porta-voz dos difamadores, deliberadamente emprestando o seu nome e credibilidade a uma série monstruosa de falsidades.

26.1.09

Saúde 24: problemas laborais em vias de solução?

O Director-Geral de Saúde e a empresa concessionária da Linha Saúde 24 chegaram sexta-feira a uma «plataforma de entendimento para a célere resolução de problemas de natureza laboral», que passa pela «reanálise do processo de classificação e de dispensa de prestadores de serviços», segundo a notícia da TSF na sexta-feira passada.

Faço votos pelo sucesso da iniciativa, porque o serviço é necessário e os conflitos laborais que vieram a público têm dimensões inaceitáveis.

25.1.09

O caso dos dadores de sangue: a irritação dos oportunistas

O Bloco de Esquerda está n0 seu legítimo direito de apresentar a votação as propostas que entende quando acha mais oportuno. Pessoalmente, acho que o caso das alegadas discriminações de cidadãos homossexuais enquanto dadores de sangue são para resolver e não para agitarem bandeiras partidárias. Quando, pela mão do próprio Bloco, tive a informação de que há pessoas que se queixam dessa discriminação, agi em consciência, perguntei, sem cuidar de saber se isso era cómodo ou incómodo para o meu partido. O BE sabendo perfeitamente que esta pergunta estava feita, decidiu submeter a sua recomendação a votação. Como o Pedro Salles, que me critica irritadamente no Arrastão, deve saber, essa recomendação não teria nenhum efeito na eliminação da discriminação que exista, apenas traria a causa contra a discriminação para a lapela do Bloco. Não conte comigo para isso. Não porque ache mal que o Bloco a defenda, mas porque acho que a defende mal se age visando transformá-la em sua causa partidária. Acusa-me de ânsia mediática. Seguramente que teria mais destaque mediático se tivesse votado com o BE e contra o PS. A minha preocupação é outra. Quero que me respondam sobre como os serviços de sangue entendem o problema e depois agirei como entender e em função da resposta que obtiver. Compreendo a irritação dos oportunistas, mas quero contribuir para eliminar as discriminações dos cidadãos homossexuais, não para a transformação de uma agenda de igualdade que deveria ser um consenso democrático numa causa partidária, de toda a esquerda ou de parte dela e não quero brandir este tipo de problemas para efeitos eleitorais, mas ajudar a resolvê-los. A diferença que a atitude faz, caro Pedro Salles. Vai por caminho errado quando me vê no carneirismo ortodoxo por ter votado como votei uma proposta de resolução que acho ser um exercício meramente oportunista e inconsequente. Ou o Pedro Salles acredita que, se houver discriminação, ela se resolve com o que a resolução diz? O Pedro Salles critica-me duramente por não ter votado desta vez contra a minha bancada. Mas reparo que nunca nenhum deputado do BE votou contra a sua bancada. Estarão todos de acordo com tudo o que o BE propõe? Se não é por isso, então porque será?

24.1.09

Almada: sim

O Expresso (disponível online apenas para assinantes) perguntou-me como reagia às notícias sobre a minha eventual candidatura à Câmara Municipal de Almada. Esta foi a minha resposta, como pode ser lido na edição de hoje do jornal: Sim, estou disponível para dedicar os próximos oito anos da minha vida a Almada. Se for essa a vontade das cidadãs e dos cidadãos do concelho, abrir-se-á um novo ciclo na minha intervenção cívica, dedicado à qualidade da vida urbana.

22.1.09

Saúde 24: a liberdade de expressão não pode ficar à porta das empresas

A liberdade de expresão não pode ser posta em causa em nenhuma empresa, muito menos numa que tenha um contrato com o Estado. A notícia é do JN, a frase é minha e reflecte o que penso sobre o conflito laboral na linha de atendimento Saúde 24, na linha, aliás, do que foi dito aos deputados pelo Director-Geral de Saúde.

21.1.09

Diz-me como tratas os teus inimigos, dir-te-ei que democracia és

Não podemos esquecer nunca que o modo como tratamos os nossos inimigos diz muito de que democracia somos. Por isso saúdo, no Canhoto, a medida de Barack Obama em relação aos prisioneiros de Guantánamo.

20.1.09

Exterioridade crítica e fractura: resposta à resposta de Elísio Estanque

O Elísio Estanque respondeu-me. Deixemos de lado as questões menores. No que interessa e nos afasta, repito, julgo que ele marca mal a distância entre a exterioridade da crítica e a lógica de exterioridade em relação ao PS. No que nos aproxima, partilho a leitura de que houve excessivo tacticismo centrista nos últimos anos e, acrescento, sem abandonar esse espaço será dificil combater eficazmente a crise. Pessoalmente, sempre senti a necessidade do conforto da distância crítica, mesmo quando estive em funções de direcção e esta troca de posts fez-me lembrar um artigo que escrevi em tempos para o JN, sobre a função da divergência. Estou convencido da sua actualidade e de que entre a homogeneidade e a fractura há o espaço para a crítica, reforçando a diferença de opiniões e a qualidade da casa comum. Como fica claro, por exemplo, lendo o que o Luis Tito escreveu a propósito desta mesma questão.

19.1.09

Moção de José Sócrates: primeira leitura

O PS entendeu a natureza e profundidade da crise, sabe que foi gerada pelo neoliberalismo e diz com coragem que já não basta ajudar mais quem mais precisa. É também necessário pedir mais a quem mais tem para que se possa ajudar as classes médias a viver melhor.

18.1.09

Dadores de sangue: há discriminação em função da orientação sexual?

Os potenciais dadores de sangue são discriminados em função da orientação sexual? A Maria Antónia Almeida Santos e eu próprio fizemos a pergunta à Ministra da Saúde.

Um pé dentro e outro fora

Ou eu o estou a perceber muito mal e ele pode corrigir-me, ou o Elísio Estanque escreve com um pé dentro e outro fora do PS. Pior,não o faz por hesitar, como Manuel Alegre, na relação que o seu espaço de opinião deve ter com o futuro do PS, mas por medo de um eventual novo partido ainda não estar maduro. Respeito profundamente, umas vezes concordando e outras discordando, a reflexão que Alegre tem em curso. Acho,como ele, que é urgente uma renovação programática da esquerda que esteja disponível para põr em causa a tendência excessivamente centrista que se desenvolveu no PS Mas se o Elísio entende que a sua relação com o PS se tornou meramente táctica e exterior, terá que conceder que essa atitude, infeliz mas logicamente, conferirá a outros legitimidade para ver da mesma maneira o espaço político em que se insere.

16.1.09

Só para corrigir (e com gosto) a acta do debate sobre a esquerda e a governabilidade

O Porfírio Silva recorda "para a acta" que tem falado abertamente sobre o tema da relação do PS com a governabilidade do país. Corrijo, pois, a minha frase no post anterior. E faço-o com o gosto acrescido de, lendo-o, partilhar o sentido político do que escreveu sobre o tema na sua moção ao Congresso do PS de 2004. Quem nos conheça não deve ficar surpreendido com a consonância. Mesmo que tenha passado muito tempo sobre o período das longas conversas políticas da JS, parece-me que continuamos a ver o papel do PS no país de formas, no essencial, próximas, pelo menos a avaliar pelo que escreve no Machina Speculatrix. O que só aumenta o meu gosto em corrigir a acta da discussão com Vital Moreira.

10.1.09

As políticas de emprego em tempo de crise

Há muito que defendo que as políticas de emprego deveriam ajustar-se melhor ao ciclo económico, nomeadamente aforrando recursos nas fases boas do ciclo económico para libertar nas fases más. Por maioria de razão devem adaptar-se à crise económica. Foi isso mesmo que disse à Lusa, a respeito das propostas do Boletim económico de Inverno do Banco de Portugal.

9.1.09

Quanto mais fundo chega o mal, maior tem que ser o remédio

Paul Krugman acha o plano económico de Obama insuficiente, porque dotado de meios inferiores aos necessários e apostando parcialmente em reduções fiscais pouco eficazes. Sempre atento, o Bem-haja chamou a atenção. Eu secundo. Diz Krugman: the Obama plan is unlikely to close more than half of the looming output gap, and could easily end up doing less than a third of the job.

8.1.09

Porque não defendo a táctica do tabu sobre a governabilidade do país

Vital Moreira voltou ao tema dos anúncios prévios de fórmulas de governo pós-eleitorais. Como tenho sido, julgo, a única pessoa do PS a falar abertamente do tema, acho que é útil que esclareça o que penso e porque o penso. Defende ele que o PS não deve fazer nada que desfoque o eleitorado do seu objectivo que é o da renovação da maioria. Concordo com ele nesse ponto, mas chamo a atenção para o carácter aleatório das reivindicações de maioria absoluta. O PS nunca teve, nem nas últimas eleições, resultados que possam dar-lhe a confiança antecipada numa maioria absoluta. Pequenas variações no nível de votação do maior partido ou na distância entre este e o segundo partido podem dá-la ou tirá-la. Daí que a táctica erija o resultado em argumento e nos devamos perguntar, antes, o que podemos fazer hoje para tornar mais possível uma maioria absoluta do PS. Vital Moreira pensa que esconder o jogo amplia a base eleitoral. Eu apenas penso que há conjunturas em que sim e outras em que não. Por razões conjunturais, não creio que hoje o PS ganhe capital de simpatia e apoio popular por aparecer aos eleitores como um partido arrogante que se julgue o detentor único de soluções para o país. Por outro lado, por razões de fundo, penso que erra se der ao eleitorado o sinal de que é equidistante de todos os partidos à sua esquerda e à sua direita. O PS não tem procurado e não deve procurar ser o centro rigoroso do sistema político. Julgo que deve partir da esquerda para a cnquista do centro, ganhar quando o consegue e perder quando deixa que a direita o conquiste, em vez de tentar transformá-lo no seu lugar natural. Como pode, então, um partido de esquerda que ambiciona a maioria absoluta, apresentar a questão da governabilidade do país sem a comprometer? Penso que o PS deve balizar-se pelo reconhecimento da existência de duas reacções negativas no eleitorado em relação à governabilidade do país pelo PS: (a) há sectores que se mobilizam para que haja um Primeiro-Ministro do PS mas não se mobilizam para que ele tenha maioria absoluta (que julgo serem hoje muito superiores aos que se mobilizam para uma maioria absoluta seja de quem for); (b) há um balanço negativo dos governos minoritários do PS e das consequências de enfrentarem coligações negativas entre esquerda e direita. Julgo ainda que deve ter presente que o próximo ano decorrerá sob uma crise económica em risco de agravamento constante e que o tempo não estará para governos frágeis. A minha divergência com Vital é do domínio da avaliação dos efeitos eleitorais de um tabu sobre a governabilidade do país. Ele está absolutamente convencido que ele potencia eleitoralmente o PS, porque admitir explicitamente que pode não ter maioria absoluta o diminui e porque admitir implicitamente que pode haver coligações com qualquer partido excepto o CDS/PP faz fugir ou eleitorado ao centro ou eleitorado à esquerda. São axiomas que fazem parte da família das leis políticas que os resultados eleitorais de vez em quando desmentem. Em contraponto, penso que o PS deve aparecer como o partido que garante que fará um governo forte para enfrentar a crise respeitando as escolhas dos eleitores. E deve, antecipadamente, assumir as suas responsabilidades e confrontar cada um dos outros partidos com as deles. Excluir o partido mais à direita do espectro político, que tem posições xenófobas, chantageia o eleitorado com temas de segurança e tem uma liderança hoje totalmente encostada a todos os temas que se prestem ao populismo seria um sinal de seriedade e de que o PS não quer, de modo nenhum, pactuar com delírios autoritários de direita nem com demagogos populistas. Deixar claro que o país tem que ser governado no respeito pelos seus compromissos internacionais e com sensibilidade social, sendo os políticos suficientemente humildes perante os eleitores para lhes confiarem abertamente uma quota parte de responsabilidade nos destinos do próximo governo para além da confiança no partido vencedor, parece-me que aumentaria a nossa credibilidade à esquerda e à direita. Acresce que os portugueses têm dado sinais crescentes de que o tema da governabilidade é um tema em que querem ter voz, ao contrário do que as agendas partidárias têm postulado. Há, contudo, um ponto em que concedo razão a Vital Moreira, porque vejo o risco de tornar confortável para cada segmento do eleitorado optar por partidos que não tentam ganhar, para que tentem influenciar o que vencer e o efeito agregado desse comportamento seja a diminuição eleitoral do maior partido. Assumo essa limitação e por isso não transformo o que defendo em postulado mas em ponto para discussão, coisa que acho quepodia ser feita até ao Congresso do PS. Depois, a tese que vencer deveria ser defendida com disciplina. E tudo aponta para que seja a de Vital Moreira. Ou seja, a convicção de que o tabu é mais rentável que a confrontação de cada partido com as suas responsabilidades. A entrevista de José Sócrates à SIC, contudo, matou o tema. Respeito. Finalmente, a questão dos acordos com o CDS. A minha posição é clara e é pública: um governo do PS viabilizado pelo CDS que hoje existe daria razão aos que dizem que o PS abandonou a esquerda. Aí, diga a táctica o que disser, passa-se uma fronteira que, nas condições políticas de hoje, acho que devia ser inequivocamente estanque. Mas compreendo que se o tema das alianças for matéria interdita,não se queira excluir nada. Felizmente para os defensores desta táctica não há risco de o MRPP ou a PNR elegerem deputados, porque se houvesse também eles não deveriam ser abertamente excluidos para não se violarem as matérias interditas.

7.1.09

Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o BE - resposta ao Luis Tito

O Luis Tito reagiu ao meu texto sobre a renovação da esquerda e a relação com o BE com a franqueza que lhe agradeço. Com a mesma franqueza lhe asseguro que nunca estive e não estou entre os que viram nas iniciativas políticas que Manuel Alegre vem tendo uma instrumentalização do BE e nem sequer entre os que as receberam mal. Mas também lhe digo que não me parece muito certeiro ser ao mesmo tempo crítico da direcção do PS e acrítico da direcção do Bloco de Esquerda. Luis Fazenda e Francisco Louçã não são apenas militantes livres do BE. São, de facto, seus dirigentes de topo e o que digam não pode ser tratado como se representassem correntes ultraradicais e minoritárias. Juntos, eles lideram as correntes que fazem a larga maioria do BE. Por isso o que pensem sobre a relação entre o BE, a esquerda e o país tem que ser tratado como espelhando, até prova em contrário, a vontade do BE. Em textos anteriores, incluindo uma polémica com um editorialista do Esquerda.net, já coloquei as minhas questões e já tive respostas suficientes, aliás, concordantes com o que Fazenda agora escreve. Penso que o BE tem demonstrado recorrentemente que a sua liderança não está preparada para fazer rupturas consigo mesma e, não o estando, faz parte do problema que Manuel Alegre já identificou bem. Penso que O BE não anda (pelo menos não anda ainda) à procura de novas vias para a esquerda, ao contrário de Manuel Alegre e do que o próprio BE faz crer. Para mim, o texto de Luis Fazenda não deixa dúvidas sobre o que ele pensa neste momento do papeis do seu partido e do PS na esquerda, nem de quem ele tem como parceiros e como adversários políticos. Como já não as tinha deixado uma notícia anterior sobre palavras de Francisco Louçã. Se o Luis Tito entende que quem define o PS como estando fora da sua aritmética e o coloca entre os adversários, respeito a sua opinião mas discordo. Se ele não entendeu do texto de Luis Fazenda que ele define o PS como seu adversário, então, digo-lhe apenas que quem leu mal, não os sinais mas as palavras, foi ele e não eu. O Tito não precisaria que lhe reafirmasse a estima com que escrevo isto nem que lhe repetisse que acredito completamente na boa vontade com que organizou e participou no Forum das Esquerdas. Quanto a este último ponto, apenas lhe digo que há quem seja de esquerda e acho que este Governo não está a destruir a escola pública nem a capitular perante os neoliberais na regulação do trabalho, embore tenha linhas de reforma com alguns aspectos a discutir e,mesmo, a rever. O pior serviço, acho, que se poderia fazer às vossas iniciativas seria assimilá-las àquilo a que António Costa chamou a esquerda do não. Mas essa tendência só pode ser contrariada por vós, querendo, se reflectirem não apenas sobre os que pretendem criticar mas também sobre a postura dos companheiros de jornada que escolherem ou aceitarem. Por mim, digo apenas que me revejo plenamente na necessidade de encontrar novas vias para a esquerda, que ambicionem transformar a sociedade, mas estou longissimo de pensar que a atitude de futuro para a esquerda em Portugal seja a defesa da conservação do modelo social a que chegámos.

6.1.09

Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco

Se Luis Fazenda representa o Bloco no debate sobre a chamada convergência das esquerdas, desiludam-se os que pensam que há um caminho possível pela via do diálogo com a que se julgava ser a ex-extrema-esquerda. O sectarismo continua e a face política dialogante e aberta é apenas uma fachada táctica para o mesmo combate que há décadas elege a social-democracia como inimigo principal.Não participei na iniciativa "democracia e serviços públicos" porque pensava - e acho que o tempo me dará razão - que Manuel Alegre pretendia genuinamente reflectir sobre aquilo a que chama renovação da esquerda mas os seus parceiros de iniciativa do Bloco apenas prentendiam fazer um número mediático paraunitário, que tinha para eles o encanto adicional, que trotskistas e marxistas-leninistas sempre procuraram, de juntar em torno da sua estratégia personalidades vindas da social-democracia e do movimento comunista.Adicionalmente, pareceu-me que as escolhas dos oradores eram pouco plurais. De facto, nos painéis pelos quais tinha mais apetência, havia pessoas vindas de vários movimentos políticos, mas um só pensamento sobre as reformas em curso: ser contra.Há coisas em que me revejo e outras de que discordo nas reformas dos serviços públicos que este Governo lançou, mas não vejo por onde se pode pensar que a única atitude de esquerda possível é arrasá-las. Não é assim que vejo o pensamento crítico da esquerda nem é assim que acho que seja possível encontrar para ela novas vias ou renová-la.Os que, como eu, se situam politicamente na esquerda social-democrata a que, tentando apoucá-la, a extrema-esquerda se habituou a chamar reformista, não devem desistir da crítica nem podem desistir de representar um bloco social de transformação maioritário e devem lutar politicamente por isso. Acredito que essa é também a posição de Manuel Alegre e de muitos dos que estão com ele. Mas tenho dúvidas muito fortes de que o BE tal qual é hoje e se espelha na leitura da situação política de Luis Fazenda seja reconvertível em parceiro dessa estratégia.É verdade, penso, que há no PS excessos de moderação, quer dizer, de pensamento liberal-social e de receio das forças conservadoras. Mas é mentira que os partidos socialistas em geral e o PS em particular se tenham transferido,como diz Luis Fazenda, para as "concepções neoliberais da burguesia conservadora".Há, aliás, hipocrisia no elogio das virtudes passadas da social-democracia por contraponto aos hipotéticos vícios presentes. O campo político de Luis Fazenda disse há décadas daquilo que hoje reconhece ter sido "uma política reformista a favor das classes trabalhadoras" exactamente o mesmo que diz agora das reformas actuais.Na minha opinião, a extrema-esquerda continua a falhar o alvo. Está obcecada com o enfraquecimento do PS quando deveria estar empenhada em derrotar as forças conservadoras. Prefere amalgamar o PS e a direita para ganhar uns votozinhos descontentes e subir no ranking das extremas-esquerdas mundiais a procurar uma visão estratégica que lhe permita influenciar os destinos do país.O Bloco não se emancipou dos partidos de que nasceu. Apenas sabe que tem que esconder a sua agenda para manter peso eleitoral. No texto de Luis Fazenda o gato está escondido. Quem, de esquerda, discorda de que se procure "convergêncis na orientação económica de redução drástica das desigualdades sociais, no papel do estado e dos serviços públicos, no motor da cultura e da educação"? Quem recusa compromissos na "da remodelação do modelo produtivo, à ecologia abrangente, às alterações europeias"? Se fosse esta a agenda e com este nível de generalidade, o Bloco poderia entender-se não com Manuel Alegre mas com a actual direcção do PS e até com vastos sectores do PSD e um ou dois deputados do CDS. Mas não é. No texto de Luis Fazenda o gato tem o rabo de fora apenas nas equívocas "alterações europeias" (o que quererá dizer?) e na única exigência concreta, a da "desvinculação do bloco militar da NATO".Que distância entre a imutabilidade deste Bloco e a metamorfose dos Verdes alemães nas duas últimas décadas!Essa distância explica, aliás, porque num texto sobre "convergência", o líder parlamentar do BE sente necessidade de pôr travão a qualquer convergência.Convergência em relação a quê? Para uma alternativa de esquerda contra quem? O PSD? O PSD e o CDS? O Bloco Central? Não. Para Fazenda é mesmo só contra o PS, com o truque de dizer que é contra a "política neoliberal do PS". Esta diferenciação entre o PS e os seus militantes, entre o PS e as suas políticas, já o PCP faz há 30 anos. Nada acrescenta o BE aos termos do debate, no que ao PS diz respeito.Convergência de que modo? Acredito que é necessária uma renovação programática da esquerda mais do que a sua reformulação orgânica. Mas há quem aposte nessa reformulação orgânica, que só faria sentido se criasse um pólo das esquerdas responsáveis. Desiludam-se os que pensam que o BE quer ser parceiro desse processo. Para Fazenda, o BE tem um "pluralismo no ideal socialista [que] é bem conhecido" e "a alternativa de poder de que fala Manuel Alegre não é seguramente o socialismo". Traduzindo para português corrente: nem Alegre passa no crivo da pureza ideológica de Fazenda. Daí que lhe feche completamente as portas ao mesmo tempo que o convida a fazer um partido para dividir o PS. Elementar!Pensar que o Bloco tinha mudado o suficiente para ser um parceiro da renovação da esquerda portuguesa talvez seja o maior erro político de Alegre nesta conjuntura.Infelizmente os socialistas que querem renovar a esquerda têm poucas companhias no actual panorama partidário em que que esquerda à esquerda do PS está minada pela utopia autoritária do comunismo, pelo sectarismo ou pela combinação de ambos.Dentro do PS, a tentação centrista é gigantesca. Mas a renovação programática da esquerda continua a passar em Portugal essencialmente por essa batalha dentro e não fora ou ao lado do PS. Será a tentação popular mais forte que a pulsão de esquerda? Será a crise uma ocasião para mais facilmente pôr em causa os atavismos? Francamente, não sei. (Publicado n'O Canhoto)

5.1.09

Registo Parlamentar - Dezembro de 2008

Decidi dar conta da actividade parlamentar num newsletter artesanal online. O primeiro, referente ao mês de Dezembro, já está acessível aqui e na barra lateral do Banco Corrido. Para receber por mail basta assinalar essa vontade para paulopedroso@ps.parlamento.pt.

3.1.09

Os pró-ocidentais da Ucrânia não vão ter vida fácil

A Ucrânia passou os últimos anos a tentar ser um país ocidental com o apoio dos EUA. Mas estes falharam o projecto de colocar o país na NATO, em grande parte por falta de disponibilidade de países-membros da União Europeia.O ano de 2009 abriu com um novo episódio na guerra do gás. A Rússia fechou a torneira à Ucrânia e sente-se falta de pressão nos países que o recebem por esta via, apesar de ser negado que ele esteja a ser desviado. Em entrevista à BBC, o vice-presidente da Gazprom aproveita a situação para defender a necessidade de diversificar as vias de acesso do gás natural russo à Europa ocidental, ou seja de fazer um bypass à Ucrânia (e à Polónia).O mapa mostra a rede actual. O projecto russo-alemão através do Mar Báltico, hoje presidido pelo ex-chanceler Schroeder, vai mudar a situação dentro de alguns anos e pode ainda ser completado por outro raço, a sul, que evita, de novo, a Ucrânia, mas através do Mar Negro. O que acontecerá então à Ucrânia? A realpolitik manda que se deixe cair de novo para a esfera russa e o país está dividido politicamente ao meio. Sem grandes mudanças políticas e com a Alemanha numa parceria estratégica com a Rússia cada vez mais evidente, não é de crer que os pró-ocidentais da Ucrânia tenham vida fácil ou contem com grandes apoios exteriores. (publicado também n'O Canhoto)