30.9.11

Hard to believe?

Parece que o mundo vai deixar 750 000 pessoas morrer de fome. A ONU, pelo menos pensa que sim, na Somália. Leia Alex Perry no blog da Time.

Pois é

É o Euro, estúpido, diz o João Galamba remetendo-nos para uma boa explicação à senhora Merkel  de que esta crise tem dois lados e não apenas o lado PIGS. Coisa que custa a perceber até alguns dirigentes dos ditos.

29.9.11

A deslocalização: fenómeno também da periferia europeia

Há menos de cinco anos debatia-se na Europa a deslocalização da Nokia de Bichum na Alemanha para a Roménia. Três anos e meio depois, a unidade de produção romena vai fechar, deslocalizando para a Ásia. Segundo o Adevarul, a empresa valeu no ao passado 1,3% do PIB do país e foi o segundo maior exportador (a seguir à Dacia).
Este movimento segue-se a outros de unidades de produção de grandes empresas como a Policolor e a Kraft que deslocalizaram em 2007 e 2009, respectivamente, para a Bulgária; a Colgate-Palmolive que mudou para a Polónia e a Coca-Cola que partiu para o outro lado da fronteira, na Moldávia. Poderíamos acrescentar a esta lista empresas de menor dimensão, por exemplo na confecção que também partiram nos últimos anos. Outros países da periferia da UEsofrem o mesmo efeito.
A deslocalização da produção industrial deixou de ser um fenómeno do centro da Europa.
Haverá algum bispo português pronto a fazer o papel de Warren Buffett em tempo de crise e de solidariedade nacional? Irá a Igreja Católica dispôr-se a abdicar de algum dos seus vastissimos privilégios fiscais? Talvez alguma alma caridosa surja e tenha piedade dos portugueses sem 13º mês, etc. etc.

28.9.11

Esta era a semana dos direitos das mulheres na Arábia Saudita, não era?

Neste blogue da Time fica tudo dito:


Just days after King Abdullah granted Saudi women the right to vote and run in municipal elections scheduled for 2015, a court convicted a woman of driving without permission and sentenced her to lashing. It is the harshest sentence yet and a stark reminder that despite real gains, the Kingdom's rigid social order endures.

Estamos em 2011, sabem?

Muita coisa me separa da análise que Carlos Brito faz do último governo e muita pedra haveria que partir para chegar de modo sério ao ponto de convergência política a que apela. Mas, perante o ataque ideológico da direita, cá como lá fora, a esquerda precisa de uma nova agenda se quiser ser alternativa. Por isso partilho inteiramente desta perspectiva:

Nada desculpa que perante a ofensiva violenta da direita, que está a provocar o brutal agravamento das condições de vida dos trabalhadores e de todo o povo, a esquerda permaneça dividida. Nenhuma das grandes formações políticas desta área pode ser desculpada.

O que é possível, por exemplo, na Dinamarca só é impossível em Portugal porque todas as esquerdas ainda vivem determinadas politicamente pelo lado da barricada em que estiveram no PREC, perante o Muro de Berlim ou ambos. Estamos em 2011, sabem?

PS. Para que não me avaliem mal. Entre o bloco central, a maioria de direita e o caos, o princípio da realidade continua a fazer-me preferir o bloco central. Mas esse é o resultado de erros nossos, sectarismo ardente, má fortuna.

27.9.11

Yes he tries: teologia política de Obama e campanha eleitoral no ano novo judaico.

Escrevi já sobre a teologia política de Obama e aquilo a que chamei o seu pós-secularismo ecuménico, que nada tem que ver com laicismo nem com o seu contrário. Essa visão da relação entre religião e política encoraja-o a buscar os votos onde eles estão, a ver as linhas de demarcação religiosa como quaisquer outras linhas de identidade de grupo. E em época eleitoral todos os grupos valem o peso dos seus votos e da sua influência social. Em dia de ano novo judaico, Obama escolheu dizer aos judeus, para além da promessa de amizade eterna a ISrael, que "as Jewish tradition teaches us, we may not complete the work, but that must never keep us from trying."Claro, yes he tries.


26.9.11

Pedro Osório's world music

FC Oţelul Galaţi, pequena nota sobre fonética

Ouvi esta manhã na TSF um spot referente ao jogo entre o Oţelul Galaţi e o Benfica. Um pequeno esclarecimento fonético, apenas: a letra "ţ" em romeno não se pronuncia t. Com a introdução do diacrítico pronuncia-se "ts". O Benfica vai, pois, jogar com um clube cujo nome se pronuncia "Otselul Galatsi" e não Otelul Galati.  O clube dos metalúrgicos (dai o nome Oţelul) desta cidade que vivia da metalurgia pesada e da construção naval, situada junto ao Danúbio, do sudeste da Roménia.

25.9.11

Do 25 de Abril à Primavera árabe, a mesma luta?

Há quem ache que sim, que a terceira vaga da democratização global que agora chega ao Médio Oriente começou aqui. Leia-se o primeiro parágrafo da introdução desta colectânea. Como comenta o Direitos Outros, não deixa de ser comovente.

Putin: os czares, quando são fortes, morrem de velhos.

O Presidente da Rússia que Putin designou teve o privilégio de anunciar ao Partido da Rússia Unida que o próximo Presidente seria o ex-designante.
É evidente que pelo meio haverá um processo eleitoral e que a real adesão popular ao candidato há-de decidir se o seu resultado final é de 70 ou de 90%, mas na semidemocracia russa, o próximo Presidente - por mais dois mandatos - já é conhecido e será de novo Vladimir Putin. Talvez Medvedev, para a dança das cadeiras ser perfeita, volte a Primeiro-Ministro.
O sistema constitucional russo foi desenhado para impedir a perpetuação do poder pessoal centenária na Rússia dos czares (que foram vermelhos por umas décadas). Mas o sistema político de aliança entre o novo partido hegemónico e a oligarquia alimentada pelos ex-aparatchiks sobrepôs-se-lhe. Os czares e os ditadores não se reformam. Quando são fortes morrem de velhos, como Putin demonstrará.
No twitter, hoje, @javiersolana augurou a possibilidade da passagem da Rússia, nos próximos mandatos de Putin de emergente a decadente. Os sinais desse risco, a bem dizer, nunca desapareceram por completo. Mas este passo de Putin faz lembrar uma vez mais que a incapacidade de renovar elites dirigentes na Rússia costuma levar por esse caminho.

23.9.11

RIP José Niza. Autor também de "a festa da vida" (1972)

O PSD a surfar a onda do Pedro Adão?

Pode também ter sido um assessor parlamentar a apanhar os recortes no arquivo e a colá-los num discurso que pareceu ao senhor deputado estar muito bem escrito.

Passe Social +: caso prático

A 21 de Dezembro de 2010, A e B, casados, com 2 filhos, residentes em Lisboa, estavam empregados e cada um deles recebia 1250 euros de remuneração mensal. A 1 de Janeiro de 2011, A e B perderam o emprego. A, que trabalhava há 5 anos na mesma firma tem direito a subsídio de desemprego e B, que tinha arranjado emprego apenas há um ano, não. Nos termos desta portaria  os membros deste agregado familiar vão ter acesso ao passe social +? Se sim, a que partir de que mês de que ano?

Erdogan e o "islamismo moderado"

Foto: Primeiro-Ministro Turcoe Presidente do Conselho nacional de Transição da Líbia rezando em Tripoli a semana passada (Hurryet Daily News)

Inesperadamente mas com gosto comecei uma troca de ideias com Filipe Nunes Vicente sobre Islão e secularismo.
Hoje trago apenas um pequeno input informativo adicional para o debate. A entrevista do Primeiro-Ministro turco à PBS, tal como reproduzida no Hurryiet Daily News de hoje incidiu também sobre secularismo e Islão. Atente-se no que diz o político demo-islâmico turco

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22.9.11

O secularismo islâmico é possível, agora? Resposta a Filipe Nunes Vicente.

Filipe Nunes Vicente (FNV) deu-me o privilégio de comentar o post anterior sobre a Turquia e a Primavera árabe. Respondi-lhe também na caixa de comentários. Mas, num segundo pnsamento, achei que o debate devia vir para a página da frente.
A minha hipótese é a de que, como escrevi, "a Turquia parece estar a fazer tudo para passar de uma excepção secular nos países de cultura islâmica, para uma força agregadora de um pólo de regimes pluralistas em que as forças islamistas são sufragadas pelo voto popular em eleições livres. Ou, se quisermos antecipar uma tendência provável, para a potência hegemónica de um novo modelo de regime político, o secularismo islâmico, que tem paralelos significativos com o domínio da democracia-cristã em certos períodos da história da Europa Ocidental."
O FNV traz à discussão dois teólogos liberais shiitas e iranianos, Abdolkarim Soroush e Mohammad Mojtahed Shabestari. Diz o FNV no seu comentário: "Secularismo islâmico? O Sourosh ( o Lutero do Islão...), e o Shabestari asseguram ser impossível.
É claro que pode a vir ser possível , mas se for só daqui a 300 ou 400 anos, como aconteceu na Europa com o cristianismo,temos problemas."

Deixemos, neste texto, de lado a questão de saber se os dois teólogos iranianos efectivamente asseguram que é impossível. Estou convencido, aliás, que lutam com as armas do seu pensamento em sentido inverso e o fazem no Irão, o que só por si demontra que há mais contradições em regimes que imaginamos versões religiosas do totalitarismo do que se vê à primeira vista.
Desenvolvo, pois, o comentário que fiz ao comentário de FNV, partindo do princípio de que há quem sustente essa impossibilidade (poderiamos dizer que é o que Bento XVI mostrou no polémico passo das suas primeiras intervenções pensar do islamismo em geral e isso chegaria para abrir a discussão).
Para haver um secularismo islâmico não é fundamental que haja uma teologia que o sustente. É fundamental que haja um quadro institucional que o sustente e protagonistas políticos que consistementemente o adoptem.
A Turquia moderna forjou esse quadro institucional sob inspiração do laicismo republicano do início do século XX, "à francesa". E, apesar da laicização da educação e do importante aparelho de Estado, teve que recorrer a mecanismos autoritários e a golpes militares para o afirmar. Mas, ao contrário dos regimes àrabes, esses golpes militares reevoluiram no sentido do pluralismo político e de instituições de natureza demo-liberal, por imperfeitas que sejam.
O laicismo, baseado na constituição, levou várias vezes os actuais protagonistas do país à prisão e à iolegalização das suas forças políticas islâmicas. Mas, sobre esse quadro, emergiu um novo equilíbrio institucional, que deu duas maiorias absolutas consecutivas ao partido pós-islamista, chamemos-lhe assim.
Aquilo a que assistimos na Turquia tem alguns aspectos paradoxais para o quadro predominante do pensamento ocidental sobre o islamismo. Frequentemente, os argumentos "demo-islâmicos" são os do pensamento liberal contra o jacobinismo.
Não creio que haja sinais de nenhum tipo de que o predomínio político do partido AKP esteja a construir uma situação de semidemocracia, como a que está em apuros no Irão e atrevo-me a dizer que a Turquia está a fazer a transição de um laicismo republicano para um regime democrático, islâmico e secular, com um partido "demo-islâmico" ou "pós-islamista" dominante, o que torna o conceito possível até prova em contrário.
Como pode, então, compatibilizar-se esta análise e a "impossibilidade" teológica do secularismo islâmico? Creio que pode haver uma "armadilha filosófica" nessa impossibilidade. Onde o poder depende do sufrágio, o político sabe que a sua força e a sua fraqueza têm autonomia - ainda que não independência - do teólogo. O que os políticos islâmicos ouvem na mesquita e lêem no Corão não tem que ser igual ao que fazem no quotidiano da gestão política, se estes instrumentos não forem a fonte do seu poder.
Sabemos que Obama frequentava uma igreja com um pastor radical, mas não é o Presidente desse pastor, não transportou as ideias desse pastor para a sua acção política e também não as deve ter esquecido nem as abominava (senão não frequentava a sua igreja).
Nada nos diz que a relação de Obama com o seu pastor é irreplicável no Médio Oriente das revoluções espalhadas por redes sociais. Também não podemos afirmar que vai acontecer. Mas a diferença entre a revolução iraniana de 1979 e as actuais revoltas passa por aqui. Em 1979 as massas insurgiram-se e entregaram o poder ao clero. Por muitas razões, não se vê nenhum sinal que vá nesse sentido em nenhum dos países da Primavera árabe. Pelo contrário, vêmo-los a escolher poderes de transição, a escrever constituições, a prometer eleições livres. Se forem por aí, insisto, o modelo turco é um dos poucos, senão o único que pode inspirá-los. Penso que os turcos o sabem e querem jogar essa cartada para recriar uma àrea influência no pátio das traseiras do ex-império otomano.
Em minha opinião, esses novos regimes constitucionais "demo-islâmicos" podem surgir não daqui a trezentos mas daqui a três anos. Mais, penso que são a melhor esperança de que possam afirmar-se regimes democráticos seculares e nãosemidemcoracias pluralistas sectárias (como no Iraque e no Líbano) ou teocráticas (como no Irão e na Arábia Saudita).
Assim haja políticos islâmicos que saibam encontrar para o seu pastor o lugar que Obama deu ao seu e cidadãos, crentes e não crentes, que os façam pensar que esse é o melhor caminho para se manterem no poder.

Turquia: realinhamento estratégico pós Primavera árabe

A Turquia pode ser a grande beneficiária geoestratégica da Primavera àrabe e está a agir em conformidade. Em princípio, o resultado final, embora ainda incerto, dos regimes nascentes no Egipto, na Tunísia e na Líbia será uma democracia formalmente secular com grande influência política de partidos de base islâmica de um novo tipo, para os quais o AKP, o partido maioritário na Turquia, será um exemplo.
Ao nível partidário, o AKP não tem popupado esforços para tecer relações de influência com estas forças emergentes da clandestinidade ou da semilegalidade e para forjar laços com as frentes políticas em formação e que resultam do encontro entre velhos islamistas (tipo Irmandade Muçulmana) e movimentos radicalizados (frequentemente perto do terrorismo ou da luta armada, por vezes mesmo com ligações a Al Qaeda). Este pós-radicalismo islâmico pode vem ser a força emergente nos próximos anos e a nova força política dominante no Médio Oriente e é difícil imaginar que o AKP não se torne numa plataforma influente na definição do caminho dessas forças emergentes.
Ao nível diplomático, a Turquia também está a fazer realinhamentos sérios. Acolheu a primeira grande conferência de apoio à reconstrução da Líbia e está, em simultâneo a retomar uma ligação estratégica com o Egipto e a romper, passo a passo, a aliança que nos últimos anos teve com Israel. Agora, anunciou uma excepção na sua política de "zero problemaqs" com os vizinhos para anunciar que já não fala com o regime sírio, antecipando a sua adesão a sanções. Pelo meio, foi na Turquia que reuniu o conjunto disperso das forças de oposição na tentativa de formar algo equivalente ao Conselho nacional de Transição da Líbia.
A Turquia parece estar a fazer tudo para passar de uma excepção secular nos países de cultura islâmica, para uma força agregadora de um pólo de regimes pluralistas em que as forças islamistas são sufragadas pelo voto popular em eleições livres. Ou, se quisermos antecipar uma tendência provável, para a potência hegemónica de um novo modelo de regime político, o secularismo islâmico, que tem paralelos significativos com o domínio da democracia-cristã em certos períodos da história da Europa Ocidental.
Em princípio são boas notícias, embora tornem ainda mais completo o xadrez da política de alargamento da União Europeia e possa abrir fissuras na OTAN. Ao que se junta a magna questão do conflito israelo-palestiniano.
Israel pode estar perto de ser um dos grandes perdedores da Primavera árabe, a par dos que pensavam que a Europa Ocidental e os EUA podiam ter uma política para a região assente nos interesses económicos e na cooperação militar com regimes autocráticos e opressores, em nome da contenção do radicalismo islâmico.

Lições da história das federações monetárias

Este estudo da história das cinco federações monetárias anteriores à zona Euro - EUA, Canadá, Alemanha, Brasil e Argentina - chegou a quatro conclusões de que pretende tirar lições para o Euro:

  1. "No-bailout rule", para forçar a disciplina orçamental dos membros da federação;
  2. Nível adequado de independência dos membros (no caso os Estados-membro) para controlar as receitas e as despesas, por forma a poderem ter opções políticas próprias;
  3. Um bom mecanismo de redistribuição entre membros para ser usado em períodos de crise, o que é fabilitado por "common bond" (as Eurobonds, no caso do Euro).
  4. Capacidade de adaptação a circunstâncias económicas e políticas próprias.



Aceitando as 4 lições como guião, o que vemos que faz a zona Euro? "bail-outs" emnm vez de redistribuição; não tem recursos federais para fazer essa redistribuição nem dispõe de eurobonds; move-se lentissimamente na adaptação às circunstâncias e não tem governo económico europeu. Mantém grande autonomia nacional, mas fortemente coarctada, para os Estados em crise, pelo domínio externo imposto pelos regimes de "bail-out" que funcionam como controlo exógeno e não como condicionamento próprio de um mecanismo solidário.
É certo que caminhamos para a criação de um fundo de estabilização e que todos perceberam que o edifício de Maastricht ruiu. Voltando ao estudo, resta saber se a resiliência passada da UE às transformações económicas e políticas se mantém com o nível dos estadistas que temos na Europa de hoje.
É cedo demais para declarar a morte do Euro, embora seja este que está em perigo e não, como a miopia da política interna portuguesa julgou apenas um ou dois Estados-membros mal comportados.

21.9.11

Que capacidade de pressão tem o governo suíço sobre o Irão dos Ayatollahs? Alguma é.

Todos sabemos que o Irão não é um Estado de direito e que detenções arbitrárias, ilegais e injustas ali não se podem esperar que terminem em função de um julgamento justo. Quando as vítimas dessa arbitrariedade são cidadãos estrangeiros, a pressão política acaba por ter a eficácia que falta a outros mecanismos. Assim foi com a libertação de dois cidadãos norte-americanos presos há dois anos. Na sua mensagem sobre este facto, Obama agradece o esforço de mediadores de alto nível. Dois deles não surpreendem: o Sultão do Omã e o Presidente do Iraque. Mas o governo suíço... Que capacidade de pressão terá o governo do país que proibiu os minaretes no regime dos ayatollahs? Alguma é, que Obama não agradece assim por coisa pouca.


Madeira: Passos Coelho não vai lá. É de homem.

"Não podem constituir-se partidos que, pela sua designação ou pelos seus objectivos programáticos, tenham índole ou âmbito regional" (Artº 54º, nº 1 da CRP).


Mas para que quereria Alberto João Jardim um partido de âmbito regional de jure se já o tem de facto, como reconhece implicitamente Passos Coelho, escudando-se na autonomia do PSD/Madeira para não retirar confiança ao companheiro? Até nisto Aberto João joga com mestria as técnicas da acção psicológica e consegue ter e não ter um partido próprio, consoante lhe dá ou não jeito.
Se não fosse um pouco patético era, aliás, delicioso ver como ele substituiu na mitologia dos inimigos da Madeira os cubanos (mais apropriados a atacar o que pareça de esquerda) pela Maçonaria (mais credível como força oculta também da direita).  Se o Governo fosse dominado pela hierarquia da Igreja, aposto que estaria agora a invectivar, qual anti-clerical,"a padralhada". Ele sabe fazê-las. Mas é tudo em legítima defesa.
Sanção política do PSD ao desvario orçamental dos companheiros? Passos Coelho não vai lá. É de homem.

Quem ajuda o Álvaro?

Transporte de mercadorias: o Alexandre pergunta ao Álvaro como é que as mercadorias chegam, ao centro da europa, em bitola europeia se as linhas de mercadorias em Espanha são em bitola ibérica. Quem ajuda o Álvaro a responder?

O custo salarial escondido da licença parental

Um estudo australiano recente mostra que, no regresso ao trabalho após a licença parental as mulheres australianas perdem 4% do salário que teriam se não tivessem tido uma criança. O estudo discute alternativas de política para contrariar este efeito. Entre nós, quanto custará o regresso?

20.9.11

RIP Johnny Raducanu. Vals Nostalgic.


Um amigo aterrou ontem em Cluj e difundiu a notícia da morte do Mr. Jazz romeno. O mesmo que manteve esta música viva no país quando era permitida às vezes e que é o inspirador dos jazzistas da actual geração, eles próprios dignos de nota. A escolha deste tema é também desse amigo. Nos últimos anos, Raducanu era mais eléctrico. Mas esta valsa nostálgica poderia ser um apropriado epitáfio.

"Há mais medos de coisas más que coisas más propriamente ditas" (Mia Couto)


(recolhido em O Cheiro da Ilha, a conselho do meu amigo Acácio Lima, )

19.9.11

Peço ajuda para compreender a inteligência de João Gonçalves.

Este post do Portugal dos pequeninos deve fazer sentido e ter destinatário. Mas começa com o meu nome, pelo que deveria ter algo a ver com o que eu escrevi ou pelo menos comigo. Acontece que não vejo em quê. Peço ajuda para compreender a inteligência de João Gonçalves.

Os desafios actuais do PS. O que eu quis dizer na Comissão Nacional.

Na última Comissão nacional do PS fiz uma intervenção que surgiu referenciada na comunicação social. Naturalmente, atendendo a que se trata de reuniões fechadas e os jornalistas têm acesso ao que lá se diz apenas em segunda mão, é-lhes dificil relatar fielmente o que se passou. E não os culpo se possa ter sido aqui e ali mal-entendido ou se algo do que disse e julgo mais importante não tenha sido publicado.
Entendo que em pleno Século XXI, as reuniões do orgão máximo do mais aberto partido português não necessitariam de portas fechadas e o partido teria a ganhar com total transparência, mas isso não vem ao caso.
Gostaria de partilhar com os leitores o espírito da reflexão que deixei nesta minha partida para um interregno na política activa quotidiana. O texto que vão ler a seguir não é o relato fiel do que disse. Mas é a síntese possível, reconstruida de memória, entre o que disse e o que tinha planeado dizer, que expressa o que penso sobre os desafios actuais do PS e da sua nova direcção, que saúdo.

0. Há um tempo para tudo na vida.
Durante este mandato na Comissão nacional faria 25 anos que entrei neste orgão e 20 que entre na Comissão política Nacional pela primeira vez. Um político tem que saber quando é o seu tempo para estar na acção e o tempo de se recolher para pensar e estudar, caso queira continuar a ser útil. Entendo que neste momento o meu melhor contributo para o PS passa por uma fase de recolhimento, participação em debates e não pelo dia a dia da actividade política, pelo que pedi a Francisco Assis para não ser incluido na lista para a CPN. Solidário com ele. apoiante até ao fim do Congresso, que a bem dizer ocorre nesta CN, aceitei ser suplente na lista, como penúltimo suplente. Ponto final, parágrafo, pois, neste quarto de século em que o PS esteve em primeiro lugar na minha vida cívica.
Deixo aqui, também, a minha reflexão actual sobre os desafios imediatos.

1. A necessidade de uma gestão adequada dos recursos políticos
O PS tem uma linha estratégica definida. Caberá à nova direcção dar os sinais adequados e escolher os protagonistas certos. Recordo que deve evitar-se o erro das exclusões cirúrgicas. Disse-o no momento próprio e não agora, a exclusão de António José Seguro de uma pasta ministerial é um exemplo de má gestão dos recursos políticos do partido. Um erro que espero que Seguro não repita agora.
Os primeiros sinais preocuparam-me. Não creio que seja uma boa opção do partido que é a alternativa de esquerda escolher para Vice-presidente do seu Grupo Parlamentar, um homem cujo pensamento político está seguramente à direita do actual Primeiro-Ministro.
Tem que se pensar a renovação e saber trazer de novo aos partidos os melhores, incluindo os que vêm de fora da actividade partidária. A geração anterior de socialistas soube-fazê-lo. A nossa não está a demonstrar ser capaz. E não se confunda renovação com a substituição de gente mais velha ou de outros pequenos grupos dentro do partido com os que seguem o líder A ou B há décadas, desde a JS ou na sua distrital. Essa mudança de rostos nada tem que ver com renovação.

2. Uma boa gestão da conjuntura política
O PS tem que ter plena noção de que a crise, se não começou após a queda do governo Sócrates também não acabou com ela. A nossa posição tem estado estritamente colada à ideia de que cumprimos o memorando de entendimento nas medidas operativas porque somos um partido de palavra. Mas não creio que se possa esgotar aí o nosso discurso.
Não podemos olhar para trás usando o que fizemos no anterior ciclo governativo como o PCP olha para a Constituição de 1976, tratando de modo imobilista e cerrando fileiras sobre o que foi feito. temos que ter consciência que haverá possivelmente ainda um aprofundamento da crise, novas medidas serão necessárias e o contributo de uma oposição ideologicamente sólida mas leal ao país será necessária,
Nesse quadro, há que dizer de modo claro que o país teve eleições que tiveram um resultado: os portugueses entregaram o Governo auma coligação PSD-CDS. O PS só pode aceitar voltar ao governo com uma nova legitimidade popular saída de novas eleições e no quadro de soluções que sejam apresentadas abertamente ao país.

3. Não cair na tentação do populismo de esquerda
É fácil tentar correr atrás do descontentamento inorgânico que muitas medidas terão que causar. Essa tentação pode conduzir-nos por caminhos pouco sólidos. O PS é um partido responsável, institucional, que procura contribuir para a resolução dos problemas do país. A sua agenda tem que ser uma agenda posicionada na esquerda reformadora e sintonizada com os problemas das classes médias e trabalhadoras.
Temos eleito o combate à corrupção como primeira prioridade política. Não contesto a sua importância, mas há um enorme risco de cair no populismo, quando se ergue esta causa que devia ser nacional e integradora em identitária e identificadora de uma força política.
Também aqui foi proclamado que o PS é federalista. Sou federalista eu próprio, mas temo pela consistência desta afirmação no quadro actual. O consenso discursivo que entre nós temos sobre federalismo pode acabar no mesmo impasse em que nos colocámos quando somos há trinta anos todos pela regionalização sem que daí tenha saído nenhum resultado prático.
Perante a crise, a primeira prioridade dos socialistas deve ser o emprego. Esse deve ser o eixo central das nossas propostas e  temos que imaginar propostas realistas e consistentes que se adaptem às novas circunstâncias e aos novos problemas.

4. Temos que saber o que nos distingue à esquerda e à direita.
O PS pode orgulhar-se do resultado histórico do ciclo de poder que durou de 1995 a 2011 com um pequeno intervalo. Nesse período avançou-se no Estado social, nos direitos sociais e nos direitos cívicos, na mdoernização da sociedade portuguesa. Somos um país mais cosmopolita e menos injusto. Esse foi or esultado do programa que começou a forjar-se sob a liderança de Vitor Constâncio, se prolongou com Jorge Sampaio e se executou a partir de António Guterres. Esse foi o programa que resultou da Convenção da Esquerda Democrática e dos Estados Gerais, aperfeiçoado com as Novas Fronteiras.
Podemos dizer que fomos os arquitectos do Estado Social que hoje temos e ganhámos autoridade moral para atacar os que pretendem miná-lo nas suas bases, como a direita liberal. Mas fizémo-lo empreendendo reformas muitas vezes solitárias, em que nos faltou o respaldo expectável de uma esquerda à nossa esquerda igualmente orientada para o futuro, o que fragiliza esses resultados perante os ataques da direita.
O PS tem tanto que manter a sua demarcação da direita quanto que abrir diálogos, porventura conflituosos, com a esquerda maximalista e fixista. Há que desbloquear a esquerda exigindo mais de nós mesmo mas também sabendo que não há esperança se os outros não mudarem também.
Desbloquear a esquerda é necessário para que o PS não esteja condenado a governar solitariamente e/ou ao centro quando ganha eleições.

5. Agora, elaborar o programa para depois da crise.
O Programa elaborado nos anos oitenta e aplicado pelo PS desde os anos noventa produziu os seus resultados. Esgotou-se. Saúdo a iniciativa do "laboratório de ideias". O PS terá que voltar a ganhar a confiança dos eleitores com uma nova plataforma política adaptada ao mundo que surgirá depois da crise mundial. Há valores que são os que deveriam ter sido os de sempre: a liberdade, a igualdade, a solidariedade. Mas a expressão concreta e a tradução em medidas de política desses valores precisa de uma nova partida, adaptada ao que mudou na sociedade portuguesa, na Europa e no mundo. Atenta às aspirações actuais das pessoas. Capaz de reconhecer o que não funciona em caminhos anteriormente percorridos, os efeitos perversos que se tenham produzido e as áreas que ficara  por abordar e desenvolver.
Na oposição é que os partidos reaprendem como governar a seguir. Oxalá o PS consiga fazer essa aprendizagem neste período de oposição.

18.9.11

Universidade Católica, PIDE religiosa e direito de defesa.

Ainda me custa a acreditar no que li no Machina Speculatrix. O Reitor da UCP, que foi tradutor de Gramsci e me ensinou Marx com rigor académico e foi também meu chefe directo no ISCTE reduziu-se à condição de receptor de dossiers de uma PIDE religiosa, sem sequer direito de defesa.
O Porfírio, que sei homem livre e espirito dialogante com a doutrina da igreja, ainda que do seu exterior, por razões pessoais e até familiares que não têm que ser chamadas ao espaço público, foi reduzido à condição de inempregável por motivos de consciência.

No Portugal em que eu cresci, para os sacerdotes que ele e eu conhecemos e com quem aprendemos e discutimos entre muitas outras coisas a noção da dignidade humana, este episódio só pode ser aviltante e seguramente alheio à cultura do cristianismo contemporâneo.

16.9.11

Algo vai mal. Será no reino da Dinamarca?

Na Dinamarca, vitória dos socialistas implica coligação de esquerda. Em Portugal é impensável. Culpas? Repartidas por PS, CDU e BE em proporções a apurar quando houver coragem política em simultâneo nas três forças para resolver a questão. Até lá resta ao PS a solidão de ser um partido de esquerda responsável e ao país, quando o PS ganha, ter governos virados para o centro. Erros nossos, sectarismos ardentes, má fortuna.

9.9.11

Neutralidade neutral ou inclinada?

Um dos dados deste Congresso Nacional do PS que não sendo totalmente novo em casos isolados é inusitado pela sua extensão e organização como não-movimento com identidade e textos é o dos dirigentes no activo, políticos profissionais no terreno e militantes destacados no presente e no passado recente que se declararam neutrais na disputa interna. Até domingo e na semana seguinte perceberemos se foi um gesto de neutralidade neutral ou inclinada (e em que direcção).

Vem aí o mundial de rugby

XV contra XV, o local ideal para acompanhar na blogosfera o mundial de "um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno". Flávio, obrigado pela dica.

Política cambial e comércio internacional: pilares do crescimento do emprego na China

O crescimento do emprego na China tm estado dependente de dois elementos que se relacionam de modo contraditório com a crise económica mundial.
A sua política cambial que torna o país competitivo no mercado externo, diminui a competitividade de economias com moedas muito valorizadas, acelerando as suas dificuldades nos mercados mundiais, num período em que não podem também fazer crescer a procura interna com grande facilidade, dado o caminho da restrição orçamental.
Em sentido contrário, a dependência do país do comércio externo implica que, caso este se retraia, a própria sustentabilidade do crescimento do emprego chinês fica em causa. 
Um relatório de quatro investigadores chineses, acabado de publicar e disponível aqui, deixa claras nas suas conclusões que: 


Ou seja, a China nem pode abdicar da sua política cambial nem resistiria bem ao abrandamento do comércio mundial. . Em certas circunstâncias, a chave do sucesso pode tornar-se num factor pouco sustentável de tensão.

Mao's bloody revolution revealed by Philip Short

9 de Setembro de 1976 - morte de Mao Tse Tung

8.9.11

O fim da comparticipação da pílula contraceptiva.

Fazer cortes na despesa pode ser um acto de gestão. A escolha dos cortes é uma decisão política. esta em particular é o símbolo perfeito de uma ofensiva ideológica. A direita pura e dura não dorme na forma, como se vê.

A visão europeia de Angela Merkel

6.9.11

Quando Bush, Blair e as fontes do Avante estão de acordo...

A CIA transportou da Tailândia até à Líbia, com a cooperação do MI6 e aprovação ministerial britânica, pelo menos uma pessoa para ser "interrogada", noticia o Telegraph. Chama-se Abdel Akim Belhadj, o tal passageiro involuntário, entregue a Kadafi para ser torturado. Acontece que agora é um dos chefes militares rebeldes. Por isso, provavelmente, vamos saber mais sobre o que realmente aconteceu.
Seja como for, a "guerra suja" é reprovável em si e esta prova adicional do envolvimento do governo de Blair nem seria surpreendente, não fora o inusitado aliado em tão lamentáveis exercícios.
Fiquei curioso de como lidaria o PCP com esta conivência entre a CIA e o seu mais recente - e algo surpreendente - herói do socialismo. Fui ver e abri a boca de espanto. Porventura ignorando ainda em que companhia aérea Belhadj havia voado para a Líbia, o Avante de 1 de Setembro informa-nos: "Em Tripoli os contra-revolucionários estão às ordens de Abdelhakim Belhadj, quadro militar da Al-Qaeda. De acordo com informações recolhidas pelo jornalista Pepe Escobar para o Asia Times, Belhadj, jihadista forjado no Afeganistão, terá sido libertado pelos EUA para, juntamente com os instrutores e soldados da CIA, MI6, SAS britânico e Legião Francesa, orquestrar, desde Fevereiro, a chamada «insurreição popular contra Kahdafi».
Irá o Avante da próxima semana noticiar que o dito homem foi "libertado" pela CIA nas masmorras de Kadafi? Provavelmente o assunto já não terá actualidade para a próxima edição. Convenhamos que é melhor não insistir numa tecla que terá sido partilhada por Bush, Blair e as fontes do Avante.

PS. Entretanto, as ligações de Kadafi ao "transporte de passageiros" da CIA nem sequer são uma notícia inteiramente nova. Ana Gomes relembra-o e recorda que as linhas aéreas da agência voaram entre Tripoli e aeroportos em Portugal, com as novvas autoridades a, como ela diz, ver navios, que é como quem diz a assobiar para o lado.

1.9.11

Porque é tão grande a tentação de subir o IVA?

O facto de sermos capazes de cobrar mesmo este imposto (ao contrário de outros) faz parte da explicação. Segundo se pode ver aqui e talvez surpreenda, somos dos mais eficazes da Europa a cobrar IVA. O imposto é socialmente injusto mas há uma velha regra que diz que os países focam as políticas fiscais nos impostos que os cidadãos os deixam cobrar...