27.6.10

Lembram-se da verdade a que temos direito?

"A verdade a que temos direito" era o mote do defunto O Diário, que dava a visão PCP do mundo não como um olhar mas como o olhar.
A muitos títulos o Boletim Municipal é, em Almada, um sucedâneo de péssima qualidade da dificuldade do PCP em lidar com o pluralismo. Para o Boletim, existe o mundo do PCP e é só. O resto, mesmo que exista, não devia existir, portanto apaga-se.
Ermelinda Toscano pôs o dedo na ferida a propósito de uma das "notícias" do último boletim. Escreveu ela que nele se transcreve, a propósito da novela da Loja do Cidadão, parte da Moção da CDU (aprovada apenas por maioria) como se essa fosse a única posição da Assembleia Municipal... quando houve uma outra moção, apresentada pelo Bloco de Esquerda, que colheu a unanimidade de todos os presentes.
Este "pequeno" erro de perspectiva poderia ser exemplificado de outro modo. A propósito, deixo aqui um exercício aos que se queiram dedicar à Kreminologia do Boletim. Depois de o verem de fio a pavio (nem precisam de ler), quantas fotografias encontram de:

a) membros da Assembleia Municipal do CDS, do BE, do PSD, do PS e da CDU?
b) vereadores do BE, do PSD, do PS e da CDU?

Garanto que o exercício terá um resultado absolutamente ilustrativo do pluralismo do Boletim e tem guardada uma surpresa para os que queiram perceber sem margem para dúvidas quem é que os autores do Boletim julgam ser os seus patrões.
Alguém quer fazer apostas sobre o resultado deste pequeno exercício de iconografia kremnilológica?

(Publicado também em Por Almada)

25.6.10

Simuladores agregados: um serviço público do Economia e Finanças

O Economia e Finanças disponibilizou mais um serviço público: uma página em que agrega os simuladores disponíveis, sobre impostos, prestações sociais, rentabilidades de aplicações financeiras, custos de aquisição de imóveis, de viaturas, etc.

23.6.10

Afeganistão: a jogada do general deixou o Presidente num dilema

Algo vai mal no Afeganistão. Se o principal chefe militar das tropas americanas no terreno estiver bom do juízo - e deve estar - aquilo que disse e deixou dizer nesta reportagem incrível da Rolling Stone só pode ser um passo táctico numa escalada que conduza ao seu despedimento ou agora, quando for recebido na Casa Branca ou não muito mais tarde. Contudo, como bom militar, não terá dado esses passos sem deixar o seu contendor de ocasião, no caso o seu comandante supremo, sem um dilema sério. Ou como diz a Time:

Unfortunately for Obama, the Rolling Stone story coincides with growing alarm over the situation on the ground in Afghanistan. The planned U.S.-led operation to secure Kandahar, the Taliban's spiritual capital, has been postponed, partly because of a lack of support among local Afghans for a military escalation there. And that delay and the difficulties it highlights have raised a question mark over Obama's vow to begin the drawdown of U.S. troops from Afghanistan next summer. Firing McChrystal would not improve matters, since the General handpicked by Obama to run the war has personally led much of the outreach to Afghans on which the strategy depends. "It's in the White House's interest to have a wounded McChrystal rather than a hero and a martyr," says one retired Admiral, speaking on background. "So I think he'll survive." Both Afghan President Hamid Karzai and NATO Secretary General Anders Fogh Rasmussen on Tuesday released statements of support for McChrystal.



Other senior military veterans took the opposite view. "I don't know how you serve an Administration and be loyal to them, which you have to be, when you're speaking out like this," said a former General, who also asked for anonymity.


Talvez o General só queira já lá não estar no momento em que for óbvio que a retirada militar americana ou não acontece ou deixa de novo o país no caos, repetindo o que aconteceu com os soviéticos. Nesse caso, se perder agora, sendo demitido, ganha a partida. Mas, aconteça o que acontecer ao General, começa a ficar claro para a opinião pública mundial que o Afeganistão se prepara para ser o primeiro problema a não ser resolvido pela política externa americana. É um péssimo terreno para registar a primeira grande derrota e, nós, europeus, não deviamos achar que não é nada connosco, porque iremos sofrer parte significativa das consequências.

22.6.10


Esta imagem é provavelmente um exemplar de um cartaz de propaganda à entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial.Pelo menos assim surge referida na Europeana, citando a fonte, a nossa Biblioteca Nacional.

21.6.10

Paul Eluard: Et par le pouvoir d'un mot//je recommence ma vie

Liberté

Sur mes cahiers d'écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J'écris ton nom

Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J'écris ton nom

Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J'écris ton nom

Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l'écho de mon enfance
J'écris ton nom

Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J'écris ton nom

Sur tous mes chiffons d'azur
Sur l'étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J'écris ton nom

Sur les champs sur l'horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J'écris ton nom

Sur chaque bouffée d'aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J'écris ton nom

Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l'orage
Sur la pluie épaisse et fade
J'écris ton nom

Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J'écris ton nom

Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J'écris ton nom

Sur la lampe qui s'allume
Sur la lampe qui s'éteint
Sur mes maisons réunis
J'écris ton nom

Sur le fruit coupé en deux
Dur miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J'écris ton nom

Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J'écris ton nom

Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J'écris ton nom

Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J'écris ton nom

Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J'écris ton nom

Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J'écris ton nom

Sur l'absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J'écris ton nom

Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l'espoir sans souvenir
J'écris ton nom

Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.
Paul Eluard
in Poésies et vérités 1942
Ed. de Minuit, 1942

12.6.10

Sondagem sobre Presidenciais. Parece mau para Alegre, mas não é.

A sondagem da Aximagem para o Correio da Manhã dá a Cavaco Silva 53,4% dos votos numa primeira volta das Presidenciais, coloca Manuel Alegre em segundo lugar e reduz Fernando Nobre quase à insignificância. Este resultado, num momento em que ainda não houve debates nem campanha e em que Cavaco ainda não desceu do pedestal de Presidente para sofrer a natural erosão do confronto com os adversários, demonstra que ele está muito longe de assegurar a reeleição em primeira volta. Deixa claro que há apenas um desafiador de Cavaco e parece-me que dá também razão à "pressa" de Manuel Alegre em colocar a sua candidatura no terreno, que a vida de um challenger nunca foi fácil.
A sondagem dá ainda Cavaco com vantagem significativa numa segunda volta. Ou seja, o incumbente, qual lebre, está muito à frente do seu challenger.  Mas as eleições ganham-se passo a passo. Alegre tem agora que tirar a Cavaco aqueles 3,4% mais ou menos a margem de erro que o pôem acima da reeleição na primeira volta (verifica-se, consultada a ficha técnica, que estar abaixo dos 50% está na dita margem de erro, que é de 4% para um intervalo de confiança de 95%). Bem vistas as coisas nem parece assim tanto e o resto pode vir a seguir.
A grande vantagem que a crueza dos números agora atribui a Cavaco diz, afinal, que é a campanha que vai resolver as presidenciais e que Alegre tem uma hipótese se conseguir demonstrar aos portugueses que Cavaco cabe mal no fato do Presidente de que eles vão precisar. Se não o conseguir fazer, Cavaco é reeleito. Se conseguir, tudo se discutirá entre a primeira e a segunda volta. Parece mau, mas não é.
É verdade que já se viu políticos partirem deste resultado para um desastre, mas também já se viu em Portugal, em eleições presidenciais, reviravolta eleitoral muito mais dramática. Aos que duvidam, peço para irem ver o dossier das presidenciais em que Soares acabou por derrotar Freitas do Amaral. Quem sabe, aliás, se não está reservado agora a Soares o papel de Cunhal nessa época?

PS. (Declaração de interesses, feita hoje de uma vez por todas) É público que apoio Manuel Alegre nesta eleição.

Crónica de um não praticante. Até agora, Maradona e Martins.

O futebol entra na minha vida como Deus na dos crentes não praticantes. Por vezes vibra, mas há longos períodos de silêncio ou esquecimento recíproco e a relação não é intermediada por nenhum debate teológico sério.
Era impossível um Mundial não produzir alguma vibração e uma conjugação astral improvável fez com que visse os jogos de ontem e de hoje quase todos. Em rigor, se pudesse voltar a escolher o uso dado ao tempo, apenas teria visto o Argentina-Nigéria, realmente o único jogo de futebol a sério até ao momento. Mas confesso a minha satisfação por ter visto o longo bocejo que foi a selecção francesa e a humilhação da grega, pelas razões futebolísticas históricas que os crentes bem conhecem. O cidadão anteriormente conhecido por Abel Xavier deve ter pedido a Alá vingança para o mundial depois da sua conversão e o "mister", como eles gostam de dizer, Scolari, também deve ter rezado contra os gregos. Ambos parecem ter sido ouvidos.
Dos jogos futuros entre selecções que já actuaram só fiquei com vontade de não perder o Nigéria-Coreia do Sul e fiquei com pena, até por simpatia com o nome, de que o senhor Martins, de Lagos, não tivesse feito um golo, mesmo que os argentinos tivessem feito outro para manter a justiça do resultado. Mas, do que se viu até agora, só uma selecção parece a caminho de um grande resultado, a de Maradona.

Pergunta aos Almadenses sobre o PSD e a ECALMA

Como acha que o partido que tem esta posição tão clara de que a ECALMA deve ser extinta votou o relatório e contas de 2009 da empresa, no qual se evidenciam todas as debilidades do modelo e da sua exploração? (A resposta correcta é: absteve-se).

11.6.10

A rigidez do mercado de trabalho português: o tema está de volta.


A talvez gaffe do Comissário Olli Rehn sobre as reformas necessárias em Portugal e Espanha relançou o tema da rigidez da regulação do mercado de trabalho português. Pedro Passos Coelho, que andava a tentar puxar por ele já deve ter agradecido ao Senhor Comissário e o governo parece ter algumas dificuldades em fazer um discurso único sobre o tema, tendo-se já visto declarações que vão desde sublinhar o que foi feito, a admitir aperfeiçoamentos, passando por admitir a necessidade de reabrir a questão.
Algo me diz que estamos perante mais do que um epifenómeno comunicacional e provavelmente algo vai acontecer ou pelo menos algo terá que ser feito se houver vontade de que não aconteça.
Uma vez que o tema está de volta, comecemos então por ver em que é que partimos de uma situação igual ou diferente de há uns anos.
Em dois pontos estamos no mesmo sítio. Tudo aponta para que a rigidez nas leis laborais em Portugal tenha como contrapartida uma grnade flexibilidade no terreno das relações laborais reais. O despedimento individual sem justa causa está proíbido pela constituição e sem a rever ou sem que a jurisprudência constitucional mude, todos os que queiram ir por aí para flexibilizar o mercado de trabalho darão com os burrinhos na àgua.
Num ponto essencial houve mudanças significativas, das quais me parece que muitos ainda se não aperceberam. Portugal saiu do top dos países mais rígidos em matéria de rigidez da regulação laboral.
O indicador de "strictness of employment protection" da OCDE, que nos deu durante muito tempo como o país com a legislação mais rígida da zona, depois das duas reformas do Código do Trabalho (de Bagão Félix e de Vieira da Silva) passou a dar um resultado bastante diferente.
Podemos ter dúvidas sobre a relevância metodológica deste indicador, que sobrevaloriza a flexibilidade do despedimento, medida em custos para o empregador e carga administrativa e valoriza positivamente a facilidade de contratar a prazo, assim como a facilidade de proceder a despedimentos colectivos. Mas é ele que guia a percepção que se tem da flexibilidade do mercado de trabalho de um país, por ser o que é tomado como referência pelos principais decisores.
Mas o que diz agora esse indicador sobre Portugal? Diz que nós fizemos o movimento de flexibilização mais forte da OCDE na primeira década deste século e que a equipa de Vieira da Silva orientou milimetricamente a reforma do Código do Trabalho para produzir efeitos nesse indicador minimizando as perdas de direitos dos trabalhadores.





No debate que aí vem vale a pena ter presente que, ao contrário da percepção que temos, Portugal tem hoje uma legislação mais flexível do que Espanha e ao nível da francesa.

8.6.10

Ainda a entrevista ao Público. Obrigado pela atenção que me dispensaram.

A minha entrevista de ontem ao Público sobre a necessidade de debate político mereceu notícia e comentários sérios, evidentemente que nem todos positivos, em vários blogues. Agradeço aos autores  a atenção que me dispensaram e voltarei ao tema. Espero nesse exercício integrar e responder às críticas formuladas. Desde já fica o agradecimento  a: Atena2010, Congeminações, João Ferreira Dias, Luis Claro, José Carlos Mendes, Luz de Queijas, Miguel Serras Pereira, Osvaldo Castro, Parada de AguiarPau para toda a obra, Poliscópio e  Tiago Mendes, no Cachimbo de Magritte.

Cavaco falou para não ser ouvido além de Vilar Formoso.

Ou, como diz o Jumento, se Cavaco Silva sabe tanto de economia como diz também sabe que o seu apelo manhoso é uma negação do comércio internacional e que se todos fizessem o mesmo Portugal seria a primeira vítima pois é dos que mais depende das suas exportações. Vindo de um economista com tiques liberais este apelo é uma aberração, vindo de um político é um gesto pacóvio mais próprio de um presidente de uma junta de freguesia. 
Sejamos claros, o candidato presidencial Cavaco Silva fez bem as contas. Contou os eleitores portugueses que não vão de férias ou não vão ao estrangeiro e não sabem ou não querem saber de teorias do comércio internacional e pensou que iam gostar do que disse.

7.6.10

Entrevista ao Público, hoje.

Penso que o PS deu um apoio forte e claro a Manuel Alegre e que precisa de pensar agora as propsotas a apresentar depois da crise. Foi o que procurei dizer aqui e aqui.