6.8.10

Uma sociedade de transparência e rigor para ambos os extremos da pirâmide social?

Não conheço os fundamentos nem o sentido da opinião que o Presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados tem sobre as novas regras em relação aos benefícios sociais e que o Diário Económico hoje noticia, portanto nada posso dizer sobre o mérito da sua posição.
Não me surpreenderia que estivesse em causa o aspecto que muitos consideram menor de um pobre que se candidata a um apoio social ter que fornecer à segurança social informação que um rico que tente evitar pagar impostos não é obrigado a fornecer ao fisco. E até tendo a achar que ambos devem ser obrigados a fornecê-la e que isso é que é justo.
Mas posso dizer que gostava de ter a certeza que as regras de transparência e moralização que se quer impôr aos muitos pobres serão aplicadas com rigor equiparável aos muitos ricos que tenham a veleidade de fugir ao fisco. Assim teriamos uma sociedade da exigência e do rigor, que não deixaria escapar quem deve contribuir nem deixaria abusar quem deve ser apoiado. Caso contrário, estaremos perante uma terrível dualidade de critérios, em que é aceite que os bafejados pelo sucesso não assumam as suas responsabilidades perante a colectividade enquanto se vigia atenta e severamente os que já foram prejudicados pela roda-da-fortuna (chamemos-lhe assim) do capitalismo. Como se no equilíbrio das contas públicas apenas contasse o que cortamos na coluna dos pagamentos e não o que falta na coluna dos recebimentos.

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