Uma
arreliadora avaria no avião de ligação fez com que passasse 8 horas deste
domingo no aeroporto de Viena na escala para Bucareste. Tempo suficiente para,
entre outras coisas, uma leitura mais aprofundada da chamada imprensa de
referência de hoje, toda ela com incursões pelo mundo sindical. Sinal dos
tempos, tendo em conta a recente assinatura do acordo na concertação social e a
anunciada saída do Carvalho da Silva da liderança da CGTP no próximo fim de
semana, passado mais de um quarto de século como grande timoneiro da maior
organização social portuguesa.
O DN
puxa para o escaparate a entrevista do João Proença na qual boa parte é
dedicada a explicar as virtudes do acordo aos arrivistas, caluniadores e
incréus e em que confirma ter recebido incentivos de dirigentes da maioria da
CGTP para o negociar, o que certamente
lhe valerá nova queixa judicial por ser criminoso
e reincidente… nesta incidência.
A
entrevista termina com a anunciada renovação
da UGT e a também já anunciada saída do João Proença dentro de pouco mais de um ano, já que mais não seja por imposição estatutária. O JN agarra no tema
e já lançou a bolsa de apostas sobre quem na primavera de 2013 irá ocupar a
cadeira que o João vai deixar vaga. E à cabeça lá aparece o nome da Helena
André, embora fonte próxima da deputada
tenha afiançado ao JN que não está nos
seus planos liderar a UGT.
O Público
dedica parte significativa do seu espaço a uma biografia encomiástica do Carvalho
da Silva. Foram ouvidos amigo-s e outros que nem por isso - e houve quem se
refugiasse no anonimato. Por junto estamos no território do elogio próprio dos
momentos de jubilação ou de partida para outra vida para além desta que lhe tem
ocupado avassaladoramente o tempo. Subscrevo
obviamente por baixo, em boa parte, ou não fora o meu conterrâneo e amigo
Ulisses um dos principais alimentadores do
retrato de página inteira. O texto termina com um até amanhã, evitando acrescentar o camarada, talvez porque, como sublinha o Ulisses, não o vejo como um comunista alinhado. Por
via das dúvidas…
Mas de
tudo o que li, a minha atenção particular vai para a entrevista de Silva Peneda
ao JN. O Presidente do CES faz o pleno: evidencia que a UGT prestou um grande serviço ao país, para depois passar a
justificar a posição da CGTP cuja ruptura com o acordo foi feita com grande elevação e muito nível. A CGTP explicou as suas
razões de forma muito serena e isso passou-se com grande elevação. O caldo
só seria entornado depois…
Quanto
ao comportamento do Governo, Silva Peneda diz, entre risos, escreve o JN, vai dar para as minhas memórias, para
depois sublinhar: Já estive no Governo e
este tipo de situações não são fáceis.
Com
efeito Silva Peneda sabe do que fala. Em 1991 teve um papel relevante na
assinatura por parte da CGTP dos primeiros acordos de concertação social, sobre
formação profissional e segurança do trabalho. Era Ministro do Trabalho e na
reunião decisisiva, em que participei na delegação da CGTP, Silva Peneda teve a
frieza e o bom senso de ir desmontando os argumentos do Torres Couto que
tentava a todo o custo adiar o fim do mito da não adesão a acordos por parte da
central concorrente, uma das suas principais muletas do seu discurso até ali.
Sinal
dos tempos, dos contextos e dos lugares, é o mesmo Torres Couto que 20 anos depois
vem vergastar o João Proença pela assinatura deste acordo não augurando nada de
bom e seguramente um fim trágico para a central que ajudou a fundar.
É
evidente que tem também a marca do
tempo, daquele tempo, o compromisso da CGTP na concertação social em 1991. O
caldo de cultura que levou a que pela primeira vez acordos acolhessem a
assinatura da CGTP e desse passos em relação à filiação na CES, vai beber nas
perturbações vividas internamente pela não assinatura do Acordo Económico e
Social, depois de um processo de participação activa e intensa na negociação.
Não é estranho às dinâmicas em curso a leste que tiveram em Agosto de 1991 um
ponto de viragem com o golpe que apeou Gorbachov e que, de certa maneira,
legitimaram a reunião do Hotel Roma um dos momentos mais significativos da
contestação interna no Partido. Além do mais, embora não cientificamente
demonstrado, havia quem afiançasse que naquele final de Julho de 1991, aquando
da assinatura do acordo, o Domingos
Abrantes estava de férias… Obviamente que estamos no domínio da intriga porque o Expresso do sábado anterior
(o acordo foi assinado na terça) já afiançava que o acordo eram favas contadas.
Mas
voltando a Silva Peneda razão (ou pretexto?) para estes passos em volta de um
dia em grande para a mediatização do sindicalismo, da acção sindical e dos seus
protagonistas mais visíveis, presentes e futuros. Serena e discretamente
explica a chave do sucesso: Perceber o
que os parceiros sociais querem e conseguir que tenham alguma confiança em mim.
Aeroporto de Viena, 22 de Janeiro de 2012
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