9.11.12

O core business do Banco Alimentar é evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca

Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuiram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou  11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes)  renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica,  que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural.
Espero que sejam bem-aventurados os que contribuem nestas campanhas (eu costumo contribuir),  mas não tenhams dúvidas de que core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. É evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca.
O Banco Alimentar faz de uma forma sofisticada e elegante o interface entre a oferta e a procura de alimentos que encontramos por vezes, de forma repugnante e brutal,  à porta dos supermercados ou nos caixotes do lixo das nossas ruas.
Este tipo de instituições ocupa um lugar importante dado que, se parasse, simplesmente seriam destruídos mais alimentos  e haveria mais alimentos à porta dos supermercados e no lixo com prejuízo para todos. A senhora Jonet dedica-se essencialmente à gestão de uma estrutura logística sem fins lucrativos de reciclagem das ineficiências da produção e da distribuição alimentar. O que comanda a sua actividade é a oferta (a disponibilidade) e não a procura (a necessidade).
Por isso, pessoalmente pouco me importa o que a senhora Jonet pensa da pobreza desde que gira a sua plataforma logística de modo a que os produtos sejam utilizados e distribuídos com equidade, mesmo se vão cair predominantemente numa rede confessional de distribuição. Mais vale a distribuição imperfeita do que a destruição perfeita.
Compreendo a irritação dos que se fartaram de enaltecer a senhora como campeã que nunca foi da luta contra a pobreza  e penso que deveria arrepender-se os que acharam que a sua acção era promotora dos direitos humanos. Mereceria um prémio de São Vicente de Paula, mas uma distinção por direitos humanos da Assembleia da República? Que Deus ilumine melhor no futuro o juízo das senhoras e senhores deputados.
Os que endeusaram a senhora e o Banco Alimentar sentem-se agora enganados. Mas o engano era deles e se a Senhora Jonet é uma gestora eficiente desta logística não a substituam por uma ineficiente. Podem não querer dar para o Banco Alimentar este ano, mas esse é um assunto entre vós e as vossas boas consciências, que pouco beliscará a acção do Banco.
Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta.

26 comentários:

ignatz disse...

rnialoc5bichohiarnpaninice meu! só esqueceste que a moça faz política à pala da caridade e que os 10% que os caçados à porta do super contribuem com 23% de iva para os estado e 30% de margem para os belmiros em cada euro de generosidade. tá bom de ver quem lucra com o folclore dascampanhas são os merceeiros, o estado e a imagem do banco.

Anónimo disse...

Olá Paulo,

Ainda não percebu bem porque é que Isabel Jonet está a causar tanto sururu, mas não há dúvida de que deve ser uma grande figura, para incomodar tanta gente.

Quanto à tua análise, concordo com ela, embora a ache um pouco enviezada: digamos que as nossas cadeias de distribuição alimentar têm muitos defeitos (um deles, pôr os alimentos fora do circuitos comercial, quando eles ainda são consumíveis) e que Isabel Jonet, ou alguém da sua organização, soube dar proveito a um desses defeitos.

Parabéns por isso.

Daí a dizer que o seu objectivo não é dar de comer a quem tem fome ...

Daí a dizer que não foi porque a necessidade (ou os necessitados) lhe foi bater à porta que a ideia genial lhe veio à cabeça (a ela ou a alguém como ela, em Portugal ou nos estrangeiro).

Daí a (quase) achar que é porque há comida em excesso que se tem de procurar a quem a dar ... ;-)

Daí a achar que o problema a gerir é o da comida em excesso e não o da fome...

Acho que dás um passo longo demais.

Paula (P.)

Albano Coelho disse...

Excelente. Subscrevo.

Fernando Antolin disse...

"...Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta. ..."

E já encontrou a resposta, caro Paulo Pedroso ? É que é muito bonito continuar a pensar, atacar quem proferiu frases infelizes, certamente,dizer ensinem-nos a pescar, não lhes deêm peixe...mas pescar o quê ? E enquanto não aprendem a pescar ? ... e já agora, Almada ? Ainda por cá anda ? Não se nota muito a acção do PS nesta terra morta e esquecida dos media. Pense também nisso. Um abraço.

Anónimo disse...

Não há nada de mais deprimento que certas declarações de um político ex-governante ressabiado...

Anónimo disse...

pois, pois... um supermercado dá 10 pastas de chocolates em fim de prazo. Eram caros, não se venderam... talvez da lindt. Avalia-os em 3 € cada. Deu 30 euros, 1 kilo de chocolate.
Um cidadão anónimo dá 5 kilos de arroz, gasta nisso 3,7 €.
O supermercado deu 90% do valor económico, mas o anónimo cidadão deu 90 % do valor alimentar.
Se o politico estivesse mais próximo da realidade conhecesse realmente os pobre e quem os procura ajudar saberia estas coisinhas básicas.

leopardo

Anónimo disse...

Antolin, Se bem me recordo, o rendimento mínimo garantido teve a mão de paulo pedroso.

se isso não é uma busca de soluções e em simultâneo um esforço paliativo não sei do que se trata.

e à esquerda votaram-se sempre e propuseram-se várias medidas no mesmo sentido de apoio e gozo de autonomia todas sabotadas pelas isabéis jonets.

Paulo Pedroso disse...

Um esclarecimento. Na política social há lugar para todas as abordagens que não sejam humilhantes (ou, como diria um filósofo que aprecio, Avishai Margalit, que sejam decentes).
Nada me move contra a caridade como partilha entre o que tem e não tem em função da disponibilidade do que tem. Ok, Paula?
Mantenho-me ideologicamente convencido que é mais eficaz à escala colectivas a solução da promoção dos direitos sociais, comandados pela necessidade e pela distribuição equitativa de recursos pelo Estado do que a caridade comandada pela disponibilidade e é a isso que dedico, na medida em que posso, as energias da minha reflexão e da minha acção, sem desvalorizar, mecenas, filantropos e espíritos caridosos.
Não é ressabiamento, anónimo, é escolha de projecto, dando todo o espaço a outros; apenas criticando a apologia da pobreza. Com essa é que não compactuo e foi esse o pecado de Isabel Jonet. Até porque a apologia da pobrezaq é sempre uma apologia feita para os outros...
Sobre Almada, caro Fernando, os almadenses fizeram uma escolha há quatro anos que não era a que eu desejava e que espero que corrijam no novo ciclo e com novos protagonistas. O Programa com que concorri continua, infelizmente quase todo válido e algumas medidas podiam ter sido tomadas há quatro anos e vão ser tomadas agora, para tentar evitar o naufrágio. Mas a demcoracia passa pelo respeito pela escolha das maiorias, ainda que sem parar de discordar delas.

jpt disse...

Para além do óbvio que não é óbvio (é preciso escrever em 2012 que o assitencialismo não muda o mundo? ou tenho que dizer caridade e salvaguardar o maçónico filantropia?), transpira aqui (e em tanto outros locais) um acinte contra a "caridade" que é um valor fundamental do cristianismo. A falta de tino sociológico de Jonet fez saltar a tampo ao mata-fradismo resiliente

Estou-me nas tintas para a caridade, sou ateu, não gosto do assistencialismo, laico, ateu, maçónico, de sacristia, mas este rame-rame sobre os supermercados em que te metes, quase como se Jonet e o seu banco fossem os últimos da cadeia laboral do "senhor" Jerónimo Martins e acólitos, este olhar superficial sobre a caridade e ajuda humanitária é o mesmo que se eu me pusesse a escrever sobre ti e o PS dizendo que os defensores do Estado-providência (o Arnaut, sempre símbolo) são delegados de propaganda médica das grandes indústrias financeiras (o que, com esgar doloroso, não deixa de ser uma parte da verdade, mas isso é economia política vetada); ou gestores de conta dos grandes grupos bancários que gerem os fundos de reforma.

Claro que nada disto é bem verdade, ainda que um tipo arranje sempre umas estatísticas para compor o ramalhete. Também o teu postal não é, exactamente verdade. (Se é que existe verdade)

Paulo Pedroso disse...

jpt,

Estás um relativista feito. Eu não sou dos que acho que há só narrativas e nem sou mata-fradista nem membro de nenhuma confraria. Pretendi - e pretendo - sublinhar que há uma cadeia eficiente de distribuição de excedentes alimentares (como há uma industria dessas com os países em desenvolvimento) que escoa a ineficiência dos nossos mercados e que pensamos que vive da caridade dos cidadãos e não vive. Por isso, pouco importa o que Mme Jonet pensa da luta contra a pobreza, já cumpre a sua missão gerindo esta rede de redistribuição de recursos. Cumpre uma função social evitando a destruição dos excedentes, nem mais nem menos. Quem a transforma em empregada dos supermercados não sou eu, é quem me lê em excesso de velocidade.

Paulo Pedroso disse...

jpt,

Estás um relativista feito. Eu não sou dos que acho que há só narrativas e nem sou mata-fradista nem membro de nenhuma confraria. Pretendi - e pretendo - sublinhar que há uma cadeia eficiente de distribuição de excedentes alimentares (como há uma industria dessas com os países em desenvolvimento) que escoa a ineficiência dos nossos mercados e que pensamos que vive da caridade dos cidadãos e não vive. Por isso, pouco importa o que Mme Jonet pensa da luta contra a pobreza, já cumpre a sua missão gerindo esta rede de redistribuição de recursos. Cumpre uma função social evitando a destruição dos excedentes, nem mais nem menos. Quem a transforma em empregada dos supermercados não sou eu, é quem me lê em excesso de velocidade.

jpt disse...

Li e reli, não foi em excesso de velocidade. Depressa terei comentado e daí poder ter deixado a impressão de te imputar mata-fradismo. Não aqui, mas aceitarás que o bruaa provocado (eu só o vejo no blogofacebookismo) tem muito disso. Mais, só o facto de, em postal acima, teres chamado Bento XVI ao Papa te exime do mata-fradismo furibundo que por aí grassa, esse que insiste em chamar Ratzinger ao agora Bento XVI.

Nem tampouco te meti numa confraria. Não avento a hipótese, espero que não (se o pensasse não comentaria aqui nem te leria, que para mim a cidadania actual exige o ostracismo aos confrades [a não ser que do Vinho do Porto]). Insisto, relativista ou não, que as caneladas na "caridade" são por demais obscurecedoras simplificadoras do valor que ela é, na nossa sociedade. E que ver a caridade institucionalizada metida na indústria do retalho é certo mas, repito, é como meter o Arnaut (com todo o respeito pelo senhor) como delegado de propaganda médica da Bayer e afins - se puxarmos bem pela cabeça também arranjamos matéria para justificar o assunto.

(um pouco de relativismo convém. Há tempos li que havia 800 tipos aos gritos contra o Pedro Passos Coelho na Feira do Livro e 300 000 tipos em Fátima. São coisas diferentes, claro. E eu mais depressa estaria na Feira do Livro (mas não a pedir para prenderem o homem, claro) do que espojado diante dos ídolos em delírio de superstição. Mas o certo é que só se falava dos holigões libertários.

É essa pitada de "relativismo", se lhe queres chamar assim, que convém avivar.

Romeu Monteiro disse...

"O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing"

Deixe de debitar tontices e vá espreitar o mundo real. Se for, pode ser que perceba que o Banco Alimentar faz campanhas de recolha em supermercados, porque os famosos excedentes de que refere são quase sempre produtos sem valor comercial prestes a estragar e de salubridade duvidosa (como centenas de ovos Kinder supresa, como eu já vi), pelo que faltam produtos com durabilidade longa, esses sim com valor comercial e que a grande distribuição não doa.

Joaquim Amado Lopes disse...

Por acaso o Paulo Pedroso está a dizer que, sem os excedentes da indústria agro-alimentar, da UE e do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa ou as retiradas de fruta pelo IFAP, o Banco Alimentar fechava as portas?
.
Se acredita realmente no que escreveu, o facto de contribuir para o Banco Alimentar só lhe fica mal porque não está a contribuir para ajudar ninguém, apenas a obrigar o Banco Alimentar a ter mais trabalho a escoar excedentes.
.
O seu post, ao menorizar o trabalho de quem ajuda realmente os pobres (colocando-os ao serviço do "grande e malvado capital") e dizer que "prefere dedicar a sua energia" a pensar em soluções para os problemas dos mais pobres (passados tantos anos, já chegou a alguma conclusão?), é de uma hipocrisia absolutamente repugnante.

Anónimo disse...

O que é que este chorrilho de palavras quer dizer exactamente? Afinal, para aqueles que só almejam o mundo perfeito dos "amanhãs que cantam", a senhora é "aceitável" ou não? Ou será qu eo Paulo Pedroso decidiu informan-nos de que a perfeição não existe mas que todos podem contribuir?! Génio...!!!

Anónimo disse...

Distribuição de bens excedentarios?? Alem de analise e conclusões erradas (na minha opiniao) a grande parte dos alimentos doados ao BA são de duração muito longa (meses). Os supermercados tem mais que tempo para controlar os stocks. MAs a mentalidade esquerdista que é ao estado que devemos olhar para tudo é que nos pos neste buraco onde estamos actualmente.

Duarte Belo disse...

Mas a comida chega ou não a quem dela precisa?

Anónimo disse...

Senhor Paulo Pedroso, o seu exemplo, tal como este artigo e o governo que ajudou (a levar Portugal à falência) são todos repugnantes. Olhe para o espelho, ainda está a tempo.

Carlos Santos disse...

Onde foste buscar esses números?
Ou são inventados, é que hoje em dia cada um lança as percentagens como fossem verdades absolutas.Sobre a Jonet está lá porque ainda não apareceu alguém com capacidades dela? Porque se há alguém que apareça e dê a cara porque destruir é mais fácil do que construir!!!! Se mandar alimentos bons para o lixo é melhor que oferecer qual é o teu problema? Boa Noite

Francisco Albuquerque disse...

Mas está tudo doido??? Para dizer mal, mais vale estar calado... Não tente estragar a imagem de uma pessoa que tento dá aos outros... Tenho pena de si, vou rezar por si para que seja uma pessoa melhor!

Bom Natal e bom 2014 (mais Santo)

Unknown disse...

Estes comentários têm duas características fantásticas: a primeira é espezinhar quem faz "caridade": também não gosto do termo nem considero que seja o que faço. Mas deliciar-se em abominar quem assim se considera é de um radicalismo brutal. A segunda, e que recebe maior prioridade, é o espaço e tempo que os gladiadores aqui presentes dedicam-se com todo o esmero, a provar que têm uma cultura literária muito acima dos meros mortais, e que, conhecendo os segredos e todos os números da distribuição em Portugal demonstram que só estes iluminados escritores poderão um dia vir a contribuir com a sua suprema bondade e inteligência. Aguardamos esperançosos por este dia, ou como dizem alguns, "vão trabalhar vagabundos"

Anónimo disse...

Caro Pedro Pedroso, não sei porque não fez nada quando esteve no poder, além do escândalo da casa Pia. Se estivesse calado estaria muito melhor. Há muita pobreza envergonhada, e crianças que têm uma única refeição na escola. Mas no seu mundo deve ser difícil entender isso.

Unknown disse...

O sr, Paulo Pedroso devia ter vergonha na cara! Deve estar a precisar de protagonismo e a não querer ficar no esquecimento!!! Fez tanta coisa boa pelo nosso país.. Ele e a corja dos seus amigos contribuiram tanto para o enriquecimento do povo português... Tenha vergonha!!!!

Carlos Paulo Azevedo disse...

Há só uma pergunta que me vem à cabeça...
Mas que fez o Sr. Paulo Pedroso durante o tempo em que era secretário de estado da segurança Social? o cargo por excelência para ajudar os outros...
Mas onde está o Dr. Paulo Pedroso agora??? Será que tem dinheiro dinheiro para pagar a luz, a água e a electricidade... com certeza terá,o estado português deve contribuir, de alguma forma!
Onde está o trabalho social ou em prol dos outros que o Dr. paulo Pedroso já alguma fez... Não está, possivelmente...
Tenha juizo senhor, reduza-se à sua insignificância... nada fez por este país ou pelos mais necessitados deste país, como nada faz...

Anónimo disse...

Caro sr. Pedroso, pode por favor explicitar o que quer dizer com "O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados (...) e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros..."?
Obrigado,
Pedro Ribeiro

Anónimo disse...

Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta

Ah sim, esses momentos de reflexão costumam aliviar a fome de forma mais eficaz.

Pinto