25.11.10
Faz hoje 35 anos, houve aqui alguém que (se) enganou
Para que não haja dúvidas sobre a escolha desta canção, penso que o sonho de que José Mário fala estava tão cheio de contradições e tensões intrínsecas que se desmoronaria mais cedo ou mais tarde e poderia ter sido de modo bem mais terrível. Assim como estou absolutamente convicto de que a democracia que se consolidou depois do 25 de Novembro foi, em geral, um regime bem melhor do que se poderia esperar dos outros desfechos possíveis do PREC.
Nada disso retira a esta canção a enorme energia romântica sem a qual a política é o pão sem sal dos mangas-de-aplaca transitoriamente inchados pela sensação de poder.
Nada disso retira mérito à interrogação sobre quem se enganou a respeito do que aconteceu faz hoje 25 anos: um golpe frustrado de sectores radicais e alheados da realidade? Uma traição dos sectores ligados ao PCP, apenas 14 dias depois da declaração de independência de Angola? Uma gigantesca e bem sucedida manobra de contra-informação?
Há episódios, importantes nos destinos de um país, em que a história demora a libertar-se da poeira da intoxicação e da actualidade. Mas acabará por lá chegar, se os historiadores mantiverem interesse o assunto. É sempre assim com a história, desde que o interesse se mantenha, vencerá as mentiras conjunturais.
No entanto, nada disso foi decisivo na convocação para aqui, hoje, de José Mário Branco. Simplesmente, a canção fez-me lembrar de modo agudo, num dia histórico, que vale muito mais o que dão ao mundo os homens sem sono que os homens sem sonho.
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1 comentário:
Por vezes as ideias mais simples são as melhores e com o tempo tornam-se complexas. Mas, há que deixa-las pelo menos germinar até se tornarem qualquer coisa parecida com uma ideia.
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