A autópsia da retórica do facilitismo na política de educação está feita, de modo definitivo, pela Câmara Corporativa e pela Jugular. Olhemos, ainda, para os resultados do PISA, mas de outro ângulo.
Numa entrevista, Maria de Lurdes Rodrigues disse (cito de memória), que gostaria de ser avaliada pelos resultados que conseguisse. O problema é que, em política e em políticas que buscam mudanças estruturais em particular, o tempo da produção de resultados é mais longo do que o tempo das batalhas mediáticas, impulsionadas - legitimamente - pelos seus adversários. Algo que me faz lembrar dois paralelismos.
Há um paralelismo entre as boas reformas políticas e as boas restruturações empresariais. Produzem dor, eventualmente perdas no curto prazo, mas melhoram os resultados a longo prazo. No capitalismo dependente dos especuladores em bolsa, estas reformas são mal vistas, porque os investidores querem resultados já e podem destruir as empresas com essa sede de lucro.
Há também um paralelismo entre as boas reformas políticas e os bons vinhos. Quando jovens, já se nota a diferença, mas ainda não é significativa, envelhecendo vão melhorando e o sabor atinge o seu ponto máximo, mas o consumidor apressado já desperdiçou a oportunidade.
Maria de Lurdes Rodrigues já não é ministra quando as suas reformas estruturais começam a ter efeitos visíveis. A contestação de que foi alvo foi mesmo vista como um factor de enfraquecimento eleitoral do PS nas útimas legislativas, dada a exploração, à esquerda e à direita do longo e duro conflito com os sindicatos. Ela não teria toda a razão e, evidentemente, não terá tomado todas as decisões certas em todos os momentos.
Mas há algo que agora todos esses ferozes adversários deveriam agora, com distância, ser capazes de reconhecer. As suas políticas estavam orientadas para a melhoria da escola pública, se necessário contra tudo e contra todos. E a escola pública está a melhorar.
Há-de chegar a altura de saborear o vinho destas políticas amadurecidas, se o consumidor não se precipitar e os equivalentes dos especuladores bolsistas não conseguirem uma contra-reforma.
Chega sempre o momento em que o bom enófilo e o bom CEO podem saborear a sensação de que cumpriram a sua missão, apesar de todas as agruras que sofreram e mesmo que tenham sido levados a abandonar a empresa em que a cumpriram. Por isso, também, chegou o momento de fazer um brinde a Maria de lurdes Rodrigues e à sua equipa.
PS. Aos que se apressarem a desvalorizar este texto por eu ser, com orgulho, amigo de Maria de Lurdes Rodrigues digo apenas que a minha filosofia de vida é a de ser mais duro com os próximos do que com os distantes e que, se a amizade nunca me cegou na hora de criticar, também não a deixo tolher-me na hora de reconhecer o mérito.
4 comentários:
Suponho que o Paulo é licenciado em sociologia, por isso penso que deve saber que é muito arriscado atribuir a diferença de médias (relativamente a anos anteriores) dos testes PISA à política de MLR. A maioria das suas "reformas" ou não tinham ainda sido aplicadas ou não se aplicavam aos alunos que fizeram o teste.
Não quero contestar o que diz a respeito do reconhecimento "póstumo", mas é preciso esperar pelos testes de 2012 para o verificar.
Para já, esse tipo de argumentação dos resultados imediatos, juntamente com uma propaganda mediática que pretende dar a ideia falsa de que já estamos na média da OCDE, não ajudam a perceber por que subiram as médias.
Pela pequena parte que me toca, obrigado.
Abraço
António
Mas creio que a leitura do vol. V do relatório ajudará.
Algumas (IN)Verdades no relatório PISA
Algumas (IN)Verdades no relatório PISA
As (In)verdades do relatório PISA - Parte 1
Os dados do PISA, quando colocavam Portugal em maus lençóis, eram vistos com descrédito. Agora que os colocam num berço de ouro, todos puxam os méritos como quem puxa o carvão para assar a sua sardinha. Estamos hoje perante um caso semelhante ao daqueles pais que se o filho se dedica, estuda e obtém bons resultados se apressam imediatamente a dizer "Ah! O meu filho é muito inteligente!" mas que, se o filho preguiça, não estuda e os resultados ficam aquém do esperado, não hesitam em protestar dizendo "o professor é um burro!". Também temos aqui os que tão rapidamente dizem que Sócrates é Besta como é Bestial... Até aqui, os professores é que eram os culpados pelos resultados dos alunos. Porque os resultados educativos custam a aparecer. Afinal, contrariamente ao que a Maria de Lurdes defendia, concluímos que só são da responsabilidade dos professores quando os resultados são negativos... Se são positivos, o mérito vai para a absurda a ministra, mesmo que tenha contribuído para o pior estado da Educação...
As (In)verdades do relatório PISA - Parte 2
Os resultados em nada constatam que estejamos melhor que antes. Apenas nos dizem em que posição estamos comparativamente com os outros... Da mesma forma uma empresa que se aguenta acumulando dívidas não significa que esteja bem só porque a sua vizinha do lado já abriu falência! Se Maria de Lurdes não tivesse desmotivado os professores hoje teríamos uma recuperação muito superior e não apenas de meia dúzia de pontos do ranking. Com outra motivação de alunos e professores, bem poderíamos ter subido 15 ou até 20 pontos no ranking. Assim, ficamos contentes porque outros perderam posições no ranking! É como nos campeonatos de futebol. O que importa não é um clube estar melhor que no ano anterior. Basta que os adversários estejam piorou perca pontos. E a crise atacou a Espanha mais que Portugal... Claro, Espanha que recebeu imensos imigrantes e os testes do PISA incluem todos os jovens de 15 anos! Alguém contradiz isto?
Salários dos Professores na OCDE - Verdade ou Mentira ?
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