13.12.10

Fernando Mendonça, um protagonista discreto

No dia em que alguém voltar a olhar parao sector cooperativo como uma realidade a desenvolver e adaptar os seus ideias de solidariedade e fraternidade às duras condições de competitividade do séc. XXI terá que estudar como o movimento cooperativo agrícola no sector leiteiro em Portugal resistiu nas últimas décadas à ofensiva das multinacionais do sector e triunfou sobre elas, mantendo um predomínio no mercado português, que é raro actualmente no sector cooperativo e não é, infelizmente, acho eu, acompanhado por nenhum outro ramo do sector
Nesse dia terá que estudar-se o papel de alguns personagens discretos mas eficazes, ligados aos seus projectos e sonhadores mas pragmáticos, capazes de manter a vinculação aos seus associados locais mas sem medo de enfrentar os desafios da globalização.
Fernando Mendonça, que ontem morreu subitamente, será um protagonista incontornável nesse estudo. Conheci-o apenas no exercício de funções públicas, no quadro de dois grandes desafios - a adopção do Código Cooperativo e a organização do primeiro congresso cooperaivo em muitas e muitas décadas. 
A discussão do primeiro implicou a exigência do reconhecimento da especificidade do sector, mas também a sua disponibilidade para se interrogar sobre as suas fronteiras exteriores com os outros sectores da economia.  A do segundo implicou a capacidade de ultrapassar as fronteiras interiores entre ramos cooperativos, nascidos em diferentes movimentos históricos e com diferentes conotações ideológicas. Em ambos os desafios, Fernando Mendonça foi um aliado de peso, de grande estatura moral e política.
Dele, em todos os momentos posteriores, apenas recebi respeito e consideração, que sempre retribui com admiração e orgulho.
Partilhámos a certa altura o sonho de ver eliminadas as restrições à constituição de bancos cooperativos, para além das espartilhadas caixas de crédito agrícola mútuo, mas o sector não tinha e não tem músculo financeiro para tanto e não é matéria em que se possa tentar aventuras inconsequentes. Mas, como todos os projectos começados com alma, este e outros projectos cooperativos encontrarão novos protagonistas, se bem que, sendo todos nós substituíveis, há ns mais substituíveis que outros e, no sector cooperativo, Fernando Mendonça se encontra entre os que não têm substituto fácil.

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