Ontem reuniu o Conselho de Segurança da ONU. Turquia e França subiram o seu nível de envolvimento, a primeira propondo a zona tampão e a segunda declarando-se pronta a reconhecer um governo de transição. Na frente russa e chinesa nada de novo. A novidade mais relevante da reunião foi o desinteresse americano, com Hillary Clinton a não comparecer à reunião.
Os analistas têm sublinhado que a guerra civil síria avança para uma situação de crise prolongada. Nomeadamente, há notícias de dois paralelismo históricos. Quanto ao desenvolvimento do conflito, evoca-se a Guerra Civil espanhola, sangrenta e demorada, dada a internacionalização do conflito. Na Síria combatem, diz-se, já diversas forças internacionais, dos dois lados. Com o governo haverá militares iranianos, para além de novos fornecimento de armamento russo e com os rebeldes diversos jihadistas internacionais, bem como recursos financeiros generosos das potências do golfo. Quanto ao seu desfecho evoca-se a Jugoslávia e o Líbano. No último caso, a Síria ficaria por muito tmpo um país instável e ingovernável, retalhado internamente por uma soberania frágil e dividido por zonas de influência por linhas religiosas. No caso sírio, essencialmente entre alevitas aliados a cristãos e drusos, sunitas e curdos. Caso evoluisse "à jugoslava", a Síria poderia romper com as fronteiras definidas pela repartição do império otomano no acordo Sykes-Picot, no fim da 1ª gerra mundial e dar origem a três nações (maioritariamente alevita, maioritariamente sunita e maioritariamente curda).
Ambos os cenários - Líbano e Jugoslávia - são um pesadelo para a Turquia, que veria a sua guerra com a insurgência curda alargada potencialmente a bases logísticas, quando não à ambição da constituição de uma pátria curda, juntando a sua zona de fronteira com pelo menos as regiões curdas do Iraque e da Síria. Compreende-se, pois, o activismo turco, pressionado no curto prazo pela crise dos refugiados e no médio prazo por problemas reais de soberania. A crise dos refugiados já causa esporadicamente alegações de perturbação social. Por um lado há rumores de treino militar a refugiados que desertaram das fileiras do exército sírio, por outro de instabilidade, com refugiados a circular fora dos campos e a causar conflitos nas cidades vizinhas e até em pontos tão longínquos da crise como Istambul. As autoridades turcas já prclamaram um limite para a sua capacidade de acolhimento, mas não será fácil fazê-lo cumprir.
O puzzle sírio arrisca-se a constituir para o Médio oriente um novo quadro prolongado de instabilidade. A propsota turca de uma zona de exclusão aérea é, de algum modo, a primeira que o formaliza, já que corresponde a criar uma "soberania limitada" sobre parte do território sírio que poderá prolongar-se. Mas, mesmo essa, é muito difícil de concretizar. Para já, não parece que a Turquia consiga arrastar quaisquer aliados para o plano e o poder anti-aéreo russo se mobilizado para a Síria, não tornará a vida fácil a quem se envolver militarmente na zona.
A solidão turca, contudo, pode também dar lugar a um espírito intervencionista. As forças armadas do país têm um potencial elevado e podem as autoridades convencer-se que a sua segurança interna fica seriamente ameaçada com a continuação por muito tempo da crise turca...
No meio disto tudo, Israel é o grande beneficiário de curto prazo. Com os olhos postos na Síria, os seus mais perigosos adversários não podem dedicar as mesmas energias, se dedicarem algumas, à questão palestiniana e, quem sabe, haverá margem, no meio da confusão, para uma meia dúzia de ataques cirúrgicos que enfraqueçam os seus bem identificados adversários mais perigosos.
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