10.5.11

A chave para a sucessão na CGTP

"Eu não tenho relações com Jerónimo de Sousa. Conhecemo-nos há muitos anos, sempre tivemos relações cordiais, mantemos essas relações cordiais, as relações da CGTP com o PCP são relações institucionais conhecidas." (Manuel Carvalho da Silva, em entrevista ao CM)


Não é preciso ser um iniciado na kremlinologia da CGTP para saber que Carvalho da Silva e Jerónimo de Sousa andam de cadeias às avessas pelo menos desde quando um quis ser Secretário-Geral da CGTP e foi o outro, muito antes do outro ser Secretário-Geral do PCP em vez de algum dos companheiros de visão da evolução do comunismo do primeiro.
Mas a CGTP nunca teve autonomia para ter um líder que pudesse actuar autónomamente e conflituante com a "linha do partido". Foi isso que aconteceu nos últimos anos, embora a opinião pública alargada não tenha dado conta.
A situação anómala gerou conflitos que tiveram alguns desenvolvimentos relevantes, embora tenham passado despercebidos.
Houve sindicatos com duas listas saídas da linha sindical do PCP degladiando-se quase até aos tribunais (como no SPGL). Houve o caso da não entrada na CSI, que levou ao saneamento de Florival Lança, um militante comunista histórico e responsável até à dissidência pela política internacional da central.
Noutro plano,o da concertação social, as tensões internas da CGTP foram muito visíveis pelo menos na última década. Se obedeceu sempre em última instância ao PCP quanto a modos de acção e calendários no protesto de rua e convocação de greves, enfrentou o partido em negociações com diferentes governos. Umas vezes fintou as proibições, outras vezes a segunda linha com dupla lealdade ao partido e ao sindicalismo placou os controleiros, outras vezes e pelo menos uma de modo pouco honroso para a central, foi óbvio que capitulou às ordens recebidas.
Em todo o caso, como diriam os marxistas, as contradições foram-se agudizando ao ponto de chegar a um impasse. O PCP de Jerónimo está cada vez mais entrincheirado na visão bolchevique do mundo mas teme que a saída de cena de Carvalho da Silva o faça perder as boas graças mediáticas. Carvalho da Silva e os seus sindical-comunistas estão cada vez mais reduzidos a funções de representação e sem poder real, cercados pelo aparelho e combatidos ferozmente sindicato a sindicato, mas não abandonam o plano da acção pública.
O preço é o de Carvalho da Silva cumprir todos os serviços mínimos à retórica imposta pelo partido e o partido não ter coragem para o atirar porta fora, quiçá com um enxovalho pelo caminho, como tem feito até a alguns dos seus próximos.
Mas o tempo e a agudização da situação com o derrube do Governo e a perspectiva de uma luta prolongada contra o FMI é uma oportunidade de ouro para quem manda de facto na CGTP.
Carvalho da Silva disse, julgo pela primeira vez, que não tem relações com o senhor que por acaso é Secretário-Geral do PCP que mais que nunca quer o controle férreo da CGTP. Acrescentou, com pura ironia, que a relação entre CGTP e PCP se faz no seio das relações institucionais "conhecidas".
Tudo aponta para que o senhor que se segue e que já todos sabemos que é Arménio Carlos resolva as tensões a favor do PCP. Os bastidores devem estar muito activos, para que coopte os clássicos representantes das minorias. Quem sabe se é desta que a UDP e/ou  o PSR chegam à Comissão Executiva, donde foram sempre banidos, como sinal da nova "abertura" e recompensa pelo realinhamento do BE como aliado do PCP, já não apenas no Parlamento Europeu, mas também nas legislativas.
Carvalho da Silva tornou pública a chave do seu problema. Um Secretário-Geral da CGTP que declara que não tem relações com o Secretário-Geral do PCP não tem futuro. A menos que fosse o outro a não tê-lo. Mas essa batalha os comunistas com quem Carvalho da Silva poderia contar já a perderam há muito.

2 comentários:

julio Pequito disse...

SERÁ MESMO O ARMÉNIO QUE ESTÁ NA CALHA PARA SUBSTITUIR O CARVALHO DA SILVA?? HÁ MUITO QUE SE FALA NO NOGUEIRA QUE TEM A SEU FAVOR UMA DAS CORPORAÇÕES MAIS FORTES: OS PROFESSORES

Anónimo disse...

só para que possa corrigir, algo que se aprende no 1º ciclo, Sr. Dr.:

os advérbios de modo não são acentuados graficamente...

É tudo.