A Senhora Merkel em campanha disse uns disparates que deveriam merecer o nosso repúdio. Em vez disso, o líder do PSD viu nessas palavras mais um pretexto para uma das suas medidas que rompem ideologicamente com equilibrios sociais constituídos e não têm nenhum impacto na resolução dos problemas reais.
Diz esta notícia que Passos Coelho reagiu à crítica da senhora Merkel aos malandros do sul que trabalham pouco tempo, propondo a redução do número de dias feriados, o que os patrões aplaudiram e os sindicatos rejeitaram.
Acontece que a senhora Merkel mentiu aos alemães. Os portugueses trabalharam em 2009 (último ano das estatísticas da OCDE), em média, mais 329 horas por ano, ou seja mais 27 horas por mês, ou seja mais quase três dias e meio de trabalho por mês que os alemães (ver gráfico e clicar para aumentar.
Sim, somos pouco produtivos, mas não trabalhamos pouco. A disponibilidade de Passos Coelho para atacar os feriados a pretexto do ataque estúpido da Senhora Merkel apenas quer dizer que aproveita todos os pretextos que apareçam para desequilibrar as relações de trabalho em favor dos patrões. A ofensiva é baseada nas suas convicções e a crise, a troika, a Senhora Merkel, são apenas pretextos que uma vez por outra vêm à rede.
A questão dos patrões é outra. O trabalho em dias feriados, tal como em horas extraordinárias, é mais caro e eles querem baixar os custos do trabalho. Compreendo-os e até acho que os sindicatos deviam ir a jogo, negociar os bancos de horas, deviam pôr a flexiblidade horária na mesa de negociações e procurar contrapartidas na negociação colectiva, em vez de assobiar para o lado como maioritariamente fazem, ou aceitarem salários-base mais baixos para os trabalhadores jogarem na melhoria do salário real pela via da incerta remuneração do trabalho extraordinário, medida aliás bem discricionária.
Mas o que Passos Coelho demonstra é a portuguesissima atitude provinciana de aceitar acriticamente os insultos e o oportunismo de quem acha que à boleia deles e da falta de auto-estima pode levar a àgua ao moínho da guinada contra os trabalhadores que preconiza desde o projecto de revisão constitucional.
4 comentários:
A questão que se deve colocar é se produzem o mesmo que os alemães.
Para produzirmos em maior quantidade e qualidade, talvez tenhamos de trabalhar menos tempo e investigar mais tempo. Se seguirmos a indicação da Sr.ª Merkel, poderemos produzir menos e pior. Além disso, correremos um risco de maior desumanização. Um homem não é apenas trabalho.
Exactamente caro João Oliveira. No gráfico não devem estar contabilizadas as horas que uns e outros passam no café em hora de serviço.
E por falar em feriados:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1595630
A questäo dos feriados é completamente idiota. Feriados e férias näo contam para este total, óbvio!
Isto dá, grosso modo, 1 hora e 20 por dia útil a mais que os teutónicos. Mmm...
Nas horas trabalhadas inclui-se o período de almoço? Na Alemanha é normal ser só 30 minutos. A ser assim passa a 40 minutos por dia.
Basta que os portugueses sejam mais produtivos, ou seja, discutir menos a bola e as pequenezas. Facilmente se eliminam esses 40 minutos diários. Trabalhar menos, e melhor! Simplesmente óbvio.
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