16.6.11

O governo preferido dos leitores do Banco Corrido

Hoje que já temos solução de Governo para o país, vale a pena fazer o balanço da consulta que aqui fiz aos que passam prlo Banco: "Se nenhum partido tiver maioria absoluta nas próximas eleições legislativas, qual será o melhor governo para Portugal?". Agradeço aos 413 leitores que aqui deixaram a sua opinião.

Os resultados globais não surpreenderão ninguém, reflectem que a audiência do Banco está à esquerda do país. Aliás, o Governo globalmente preferido seria a "maioria de esquerda", seguida do PS minoritário e só em terceiro lugar foi apontado o Governo que efectivamente teremos.
Mas para a reflexão necessária nos próximos anos acho que as opiniões aqui recolhidas sobre o Governo preferido deixam algumas pistas interessantes:

1. Os leitores que queriam o PSD no Governo tiveram o governo que pediram. Quem queria o PSD no governo apostou na coligação de direita (44%), ou no governo tripartido (27%), em terceiro lugar no bloco central (23%) e só em último lugar num governo minoritário do PSD (7%).
2. Os que queriam o PS no Governo estavam divididos quanto ao Governo que queriam. Apostaram numa maioria de esquerda (25%), mais do que no PS minoritário (23%) ou no PS coligado com o CDS (15%). Rejeitaram claramente o bloco central (defendido por 11%). Mas, se simplificarmos a leitura para uma agregação PS e esquerda, PS sózinho e PS e direita, o resultado é mais expressivo da fractura: PS e direita, 39%; PS e esquerda, 38%; PS sózinho, 23%.

À direita, o espaço natural PSD-CDS parece sólido para quem aqui veio dar opinião.A grande coligação - o bloco central - não mereceu simpatia dos que aqui deixaram o seu testemunho. À esquerda a fractura é notória, apesar da aproximação de análise da situação do país entre os partidos do "arco da governabilidade" e a diferença abissal de discurso político entre o PS e os partidos à sua esquerda.
A quantidade dos que aqui veio, contra todo o discurso produzido pelo PS, pelo PCP e pelo BE, defender um entendimento do PS com a esquerda não deixa de motivar reflexão sobre a descoincidência entre o posicionamento institucional dos partidos e a percepção dos (e)leitores.
Serão apenas os leitores do Banco a "puxarem" por uma opção de esquerda que não tem, de momento, qualquer adesão à realidade, ou reflectirão um sentimento eleitoral relevante que ñenhuma das forças de esquerda absorveu no seu posicionamento estratégico? Quem quiser continuar o debate é bem-vindo, agora à caixa de comentários.

1 comentário:

Pedro disse...

Paulo,

Em resposta à pergunta, uma mistura de ambas. Um entendimento da esquerda é impensável nas actuais condições – mas só por causa da miopia estratégica dos três partidos que a compõem.
É verdade que o problema não é fácil. O conflito agudo entre esquerdas é um elemento central na génese da democracia portuguesa e, logo, na memória e na prática dos partidos e dos seus militantes. Aliás, o desenlace do PREC foi precisamente a construção de um “cordão sanitário” em torno da esquerda à esquerda do PS. Mas se esse cordão se podia justificar há 35 anos atrás em nome da consolidação de um regime democrático ainda periclitante, hoje é um lastro que só serve para garantir a ancoragem do país à direita. O que ele significa hoje é uma espécie de jogo viciado. À direita, e graças ao CDS, basta o PSD ganhar com mais um voto para governar com maioria absoluta. Já o PS tem sempre de ir aos 43 ou 44% para conseguir o mesmo, o que só é possível em contextos extraordinários.

O mais trágico é que este “cordão sanitário” não convém só à direita, mas é também activamente mantido e alimentado por todos os outros partidos - incluindo os que são por ele visados.

Por exemplo, acho que o PS teria muito a ganhar com a integração da crítica da economia neo-clássica e das políticas monetaristas desenvolvida em alguns sectores do BE. Daqui poderia resultar a uma reflexão séria, criativa e inovadora no campo das políticas económicas, que – ao contrário do que se tem passado no campo das políticas sociais - está há muitos anos ausente do PS. Só que essas são ilhas de bom senso no mar de radicalismo que domina o BE, e pior, numa cultura política que encara os compromissos de governo como um desvio abominável face à “pureza” da “rua” e dos “movimentos sociais”. Como vimos recentemente, o BE prefere fazer um hara-kiri eleitoral a contribuir seriamente para uma solução governativa.

Depois temos o PCP, que há muito encontrou a receita que lhe garante a sobrevivência e que nunca arriscará um milímetro para a mudar. Hegemónico no movimento sindical e fortemente implantado no aparelho de estado (autarquias e magistratura), sente que nada tem a ganhar com uma participação governativa.

O PS fica assim dispensado de fazer um investimento sério à sua esquerda - sobretudo agora, que temos um CDS que encontrou a sua vocação de partido-charneira – pois as suas lideranças sabem que os factores que garantem os 10%-15% à sua esquerda são os mesmos que a impedem de crescer para lá deste patamar.

É esta combinação de factores históricos e de cultura política dos partidos que permite a toda a gente fingir que não vê o elefante que está no meio da sala: não há governo de esquerda em Portugal sem o PS e não há governo estável do PS sem a esquerda à sua esquerda - salvo em ocasiões muito particulares. Era a reflexão e resposta a este desafio estratégico que eu gostaria de ver nos três partidos da esquerda portuguesa.