15.6.11

Sobre Cohn-Bendit: reformadores e desbloqueadores da esquerda portuguesa precisam-se.

"Penso que não existe consenso na sociedade portuguesa quanto aos passos que devem ser tomados, nem uma visão concreta sobre que tipo de medidas para além de uma política de austeridade e de reforma. Uma política que, no fundo, defina apenas as medidas de austeridade como o objetivo não tem qualquer perspetiva de futuro" (Daniel Cohn-Bendit, eurodeputado dos Verdes).


Gosto de ver uma esquerda que fala assim. Ignoro se Cohn-Bendit faria propostas para esse consenso que nos ajudassem a encontrar as convergências necessárias. Mas concordo com o ponto de partida: a austeridade é um paliativo de curto prazo; permitirá um ajustamento doloroso mas, no fim, manterá as vulnerabilidades estruturais. Mas como se consegue consenso sobre políticas de reforma? Esse é o dilema da esquerda portuguesa. Até hoje o PS não teve à esquerda nenhum partido com quem construir convergências sobre propostas de reforma. Quem sobraria?
O bloqueio da esquerda empurra o PS para a convergência PS-PSD (já que o bloco central fere os ouvidos sensíveis) ou para a oposição a Governos de direita. Se houver protagonistas com quem se possa falar de uma agenda reformadora, o nó começa a desatar-se. Por isso o contributo de Cohn-Bendit é muito bem-vindo. O problema é que a sua visão não tem partido em Portugal. Talvez seja ouvido por Rui Tavares e Daniel Oliveira. É um bom começo, mas reformadores e desbloqueadores da esquerda precisam-se.
Temos quatro anos para lá chegar, agora que o país vai conhecer os frutos das terapias da direita liberal, com o memorando de entendimento com a troyka servido como base de um prato com muito molho de medidas ideologicamente motivadas a apimentar.

1 comentário:

Jaime Santos disse...

Como partido que agrupa a maior parte da Esquerda, tem de partir do PS a maioria das propostas programaticas de que fala. E convinha de facto que o PS fosse o primeiro a ouvir os ventos verdes vindos da Alemanha. O consulado de Socrates caracterizou-se por um fascinio excessivo pela tecnologia e pelo crescimento com base na construcao de infra-estruturas. Se a Esquerda quer pensar a mais longo prazo, considerando tambem o no ambiental em que o Planeta esta mergulhado, nao pode continuar a limitar-se a fazer a apologia do crescimento liberal, mitagado com paliativos sociais.