20.7.11

Declaração de voto: o PS precisa de um novo modelo e não de um facelift

O que está em causa no PS, neste momento, não é discutir o partido que éramos antes da grande crise mundial, mas o que seremos depois dela. Como vamos fazer a nossa nova agenda, o que temos a dizer aos portugueses sobre como queremos tirar o país da crise e para onde queremos que ele vá a seguir.
Porque apoio Assis? Porque concordo com a sua visão de que o PS tem que trabalhar para apresentar um novo modelo de acção política e não creio que a profundidade da mudança necessária se atinja com um mero facelift, um refrescamento de linhas no modelo actual. E porque penso que o que levou à derrota do PS não foram os defeitos do condutor mas a falta de combustível das ideias neste espaço político.
Faço parte dos que acham que a crise existia com o anterior governo e, se não começou, também não acabou no dia da chegada do PSD e do CDS ao poder. O maior erro possível da próxima direcção do PS seria cair na tentação do populismo de esquerda, fazendo coro com maximalistas e oportunistas, à espera que a mesma crise lhe volte a caír nas mãos e tenha para lhe fazer face as mesmas medidas que tem hoje no cardápio.
Hoje, tal como em 1986,o PS precisa de preparar um novo caminho. Assis percebeu-o. Seguro ainda não.

4 comentários:

Rui MCB disse...

Confesso que só vejo generalidades e processos de intenção.
O discurso de Seguro tem pouco a ver com manter as mesmas medidas que o PS tem usado (que tem no cardápio).
Poder-se-á discutir da honestidade do que se diz face ao que se fará ou quer fazer mas, lá está, isso é mais uma vez um processo de intenções. Talvez os militantes do PS se conheçam de ginjeira mas para quem lê e tenta entender isto encontra uma campanha (a de Assis) onde se repetem os inuendos e as acusações de que o pior do PS está com Seguro (com a 'descoberta', nas palavras de Assis, de uma "subcultura aparelhística") e duas bandeiras que me parecem bizarras (a adopção de de crianças por gays - que apoio mas o que vale nesta campanha interna?) e a das primárias sob compromisso de honra (muito mal explicada na intervenção que tive oportunidade de ver).
De Seguro, um discurso mais distanciado do modo e do conteúdo do exercício governativo do PS anterior (e sim, havia um grave problema no "condutor", parece-me inacreditável que ainda se insista que não) e , contrariamente ao que o Paulo sugere, um comprometimento na procura de uma nova forma de intervenção na sociedade que tanto apela a um regresso às origem programáticas do PS (demasiado distantes da prática do PS nos últimos anos e aparentemente muito mal amadas por uma parte importante do partido) e uma abertura à discussão, à reinvenção de uma nova forma de actuação do PS procurando entre outros aproximá-lo de toda a população e não a interpretanto apenas como um partido exclusivamente de classe média, urbano e elitista.
De um lado poucas provas de que se percebeu o que esteve mal no PS (negação absoluta em muitos casos culpando ainda e só "a crise"), do outro uma tentativa de renovação que me parece baseada na sua fundação em pessoas e valores que estiveram menos presentes na actividade do PS. Entre uma e outra, se fosse militante, e uma vez que são de facto apenas duas as candidaturas relevantes, claramente pagava para ver a segunda esperando que no dia seguinte todos estivessem empenhados em mais que denunciar em campanha, combater a tal "subcultura aparelhística" que creio, a existir, não caiu do céu porque Seguro resolveu candidatar-se.
Desejo as mairoes felicidades a quem ganhar e que, seja quem for, se revele muito melhor do que parece ou que querem fazer parecer que será algo inquestionavelmente positivo para o país.
Cordialmente,
Rui

José Luis Moreira dos Santos disse...

Posição de princípios: Ñão sou militante nem simpatizante do PS, mas tenho da política uma visão que me faz interessar pela vida interna e externa de todos os partidos, pois eles são, tenho isto escrito há décadas, o oxigénio da Democracia, e a Democracia, uma prima muito próxima das duas gémeas Liberdade e Igualdade. Por isso....
Mas, só para que perceba o meu intróito, diga-me qual vai ser a sua relação com o facelift do PS?
Obrigado. José Luis Moreira dos Santos

Paulo Pedroso disse...

A minha relação com o facelift do PS? Será a de quem continua a achar que é preciso um novo modelo e sempre respeitará as maioria que escolhem outros caminhos. Pode também ser que os militantes, tal como foi o Rui Branco no comentário acima, só vejam "generalidades e processos de intenção" neste tipo de argumentação.
Se o Rui Branco tiver razão no que escreveu sobre este post, a minha vida será fácil e darei a mão à palmatória sem problema. Às vezes engano-me...
Se eu tiver razão, não tem grande problema para mim, mas terá para o PS. Contudo, "o novo ciclo", como todas as lideranças, redefinir-se-á no caminho que escolher nos próximos meses. A vitória deu-lhe a legitimidade democrática e a responsabilidade de fazer escolhas necessárias, que vão começar a ver-se de imediato. Eu faço parte de uma esquerda renovadora - o que me afasta dos conservadores de esquerda - e realista - o que me afasta dos maximalistas, para quem tudo o que seja menos que a revolução nada é.
Desejo que o PS não caia no populismo de esquerda e no negacionismo da crise inverso do que o PSD teve no último ano e espero que quem vai rodear o novo Secretário-Geral trabalhe com ele nesse sentido. Se assim for posso assistir contente aos próximos capítulos da vida da esquerda demcorática em Portugal.

josé luis disse...

Dr.,vamos por partes: meteu-se-me na cabeça, há vários anos, que quando falo, escrevo, leio, ouço, etc., de política me coloco na qualidade de CIDADÃO.Isto quer dizer, que mesmo quando estive incombido de representar uma força política, ainda que na qualidade de independente, sempre comecei as minhas intervenções dizendo que estava alí um cidadão. è por isso que gosto tanto da política e que dela nada quero mas tudo espero. E se entre partidos a política deve ser feita de combates leais e frontais, aceito mal, talvez culpa minha, que nos partidos aja lugar a rótolos que se tornam um paradoxo ao virar da esquina. Foi esse o motivo da minha interrogação. A camaradagem nem é submissão controlada nem uma sucessão de retratos desfocados. Obrigado.