11.5.12

Feriados: são as crenças privadas que dominam os nossos momentos privilegiados de comemoração pública.

Não sei qual é o número adequado de feriados que deve haver, nem tenho opinião definitiva sobre se deveriam ser mais ou menos. Mas acho que devemos guardá-los para ritualizar datas a que se considere conceder dignidade maior, que se queiram presentes na consciência colectiva e que sublinhem algo verdadeiramente importante.
Olhando para os feriados que ficam  depois do corte (e não muda muito em relação ao que já havia antes), vejo que a nossa laica república coloca assim a hierarquia desses momentos simbólicos especiais: 3 dias para Jesus Cristo (Natal, Sexta-feira santa e Páscoa), sendo um deles exclusivamente simbólico por ser obrigatoriamente a um domingo, 2 dias para a sua mãe (a Imaculada Conceição e a Assunção de Nossa Senhora), 2 dias para o regime político (o Dia da Liberdade e o Dia de Portugal), que acomodam a conjunção da revolução com a continuidade do dia da raça do regime autoritário, 1 dia para os trabalhadores (o Dia do Trabalhador) e 1 dia para um cerimonial do calendário (Dia de Ano Novo).
A nossa celebração ritual não considera importante celebrar de modo especial a independência do país, nem a forma republicana do regime, nem a pertença à Europa, nem a lusofonia, nem nenhuma personalidade política, nem qualquer feito militar, nem qualquer celebração de valores universais, excepto o do trabalho.
Os nossos símbolos são tudo menos neutros e no fundo somos um país que se entrega a Cristo, tem Nossa Senhora como padroeira, celebra a  liberdade, o seu povo e o trabalho. A nossa laicidade é, digamos, atípica e a pátria não é coisa que comemoremos excessivamente.
Esta estrutura de feriados relembra-me um eixo de comunicação de uma campanha em que participei em tempos. Era-nos frequentemente mostrado pelos estudos de opinião que havia uma grande identificação do eleitorado com "os portugueses" mas muito mais restrita com "Portugal". De facto, os feriados reflectem-no: são as crenças privadas que dominam os nossos momentos privilegiados de comemoração pública.

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