20.10.12

O circo das escutas voltou à cidade. A Ministra da Justiça já comentou o fim da impunidade?



A Ministra da Justiça já tropeçou na escuta do dia? Que soundbyte populista lhe saiu desta vez?
Eu pergunto-me se em Portugal há alguém que nunca tenha falado de ou para um telefone sob escuta, quantos milhões de páginas de transcrições se produzem por ano e se há algum racio entre os recursos despendidos neste meio de investigação e em outros.
Claro que não estou a comentar esta escuta, mas as vagas sucessivas delas que aterram directamente da investigação criminal  nos jornais e nas televisões por obra e graça do espírito santo.
Facilmente essas escutas e o seu uso atentam contra direitos fundamentais? Que nos importa? Ouvir é mais fácil que andar na rua à procura de provas e é muito mais produtivo na produção de indícios por muito falíveis que sejam. Sem falar no picante voyeurismo de ficarmos a saber que as pessoas públicas usam todo o vocabulário do português contemporâneo e não apenas aquele que é consistente com os fatos e gravatas.
Ficamos a saber tanto sobre a vida dos outros nas escutas telefónicas. Mas não há problema, porque as escutas são sempre, precisamente, feitas aos outros, como julgam as boas consciências e pensava a Ministra da Justiça quando comentava just in time certas diligências processuais. E nesta história, provando que nem tudo é linear, nem se começa pelos comunistas, ao contrário do velho poema.
A interpretação das escutas exige muita heurística e domínio aprofundado da semiótica? Que interessa, se as pessoas não usam o código linguístico do português que está sentado a ouvi-la e do juiz que a valida, são criminosas até que provem o contrário. É tão simples. E, garanto, a imaginação conspirativa dos auditores de escutas pode transcender a dos policiais negros.
Autobiograficamente falando, nunca poderei esquecer as inferências feitas e as consequências que resultaram da atribuição a uma minha interlocutora telefónica  da designação "voz masculina" e da ignorância dos investigadores sobre um facto de actualidade num conflito internacional.
O circo das escutas voltou à cidade. Eu, democrata, não vou  por aí. Se algum dia, o escutado for levado a julgamento por suspeita de crime, telefonem-me.

PS. Escrevo na total e propositada ignorância do suposto conteúdo da escuta telefónica a Pedro Passos Coelho que "|caiu" no Expresso, que por sua vez a pôs na capa como costuma fazer o seu concorrente Correio da Manhã.  

3 comentários:

Anónimo disse...

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P.

Teófilo M. disse...

Saber perdoar não está ao alcance de todos...

Francisco Clamote disse...

Sabem o que fazem, mas fazem de conta que não sabem o mal que fazem.