Na sequência de uma referência a que haja "pessoas avençadas" para a violação do segredo de justiça, Estrela Serrano acha que é uma humilhação para os jornalistas que mercenários façam deles correias de transmissão para publicação de "notícias" e recomenda às redacções que discutam os procedimentos de recolha de informação para que os jornalistas não sejam alvos passivos ou activos de impostores.
Compreende-se que o conselho é dado de boa fé, mas implica uma resposta a meu ver errada a uma pergunta prévia. Esses supostos avençados seriam avençados de quem? Se dos jornais, o conselho não faz sentido, porque seriam as práticas dos jornais e dos jornalistas a produzir as fontes e não a serem correias de transmissão. Se de outras entidades, talvez fosse grave para o sistema democrático, mas quem serão essas entidades, teorias da conspiração à parte?
Infelizmente, Estrela Serrano, não penso que estejamos a falar de uma falha do sistema de defesa anti-fraude dos jornais, mas de um sistema de produção de informação de que alguns deles são co-autores. E, infelizmente, até hoje nem o regulador nem os tribunais tiveram capacidade para o prevenir ou punir, nem existem mecanismos que evitem que o crime compense. Mais, que as vítimas deste sistema sejam induzidas a, se agirem racionalmente, nem sequer tentarem enfrentá-lo, é o pior sinal possível de que estamos perante um arranjo institucional perverso e poderoso.
O jornal desta semana está vendido e toda a gente espera, ansiosa, por outro Medina Carreira, que aumente as vendas e mantenha a notoriedade. Resta-nos fazer apostas quanto a quem sairá esta lotaria negra ou quanto ao perfil daqueles em relação a quem temos a certeza de que não sairá nunca e porquê..
2 comentários:
Isto é o estado a que o jornalismo chegou e a que se compraz de ter chegado.
Há muita gente a quem interessa a violação sistemática do segredo de justiça. Não são só jornais e as televisões. Até alguns cidadãos que são identificados como vítimas desse crime têm por vezes interesse em que ele seja cometido, do tipo “prefiro que falem mal de mim do que não falem nada sobre mim”.
Uma forma simples de diminuir a incidência, constitucionalmente válida, seria a de criminalizar a detenção de informações sobre o conteúdo de processos em segredo de justiça. Como acontece com o combate ao tráfico de droga.
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