Quando Cavaco Silva e Paulo Portas defendem que as condições mais favoráveis negociadas pelos gregos para o seu resgate devem poder ser estendidas, ainda que parcialmente, a Portugal, estão a dizer algo que até à uma semana atrás era óbvio e resultava do entendimento comum dos princípios fundadores da União Europeia. Mas Passos Coelho e Vitor Gaspar não podem concordar com eles em público. Já tiveram que engolir as palavras que foram ditas nesse sentido e não estão sozinhos ao fazê-lo. Também o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, teve que engolir as suas palavras e dificilmente esse gesto é alheio a que, tenha anunciado a sua saída do cargo na mesma conferência de imprensa em que foi obrigado a dar explicações ridículas para o que disse. Há políticos que sabem onde acaba o pragmatismo e começa a cedência nos princípios.
Pela primeira vez, penso que Passos Coelho e Vitor Gaspar não estão a usar a troika como pretexto para as suas próprias opções. Foram forçados a engolir o diktat alemão. É certo que tornaram a sua própria tarefa mais difícil, ao propagar repetidamente que Portugal não é a Grécia.
O problema maior da capitulação de Passos Coelho e Gaspar na matéria da extensão dos benefícios concedidos aos gregos a Portugal, não são os milhões de euros a mais que pagamos. O que é verdadeiramente preocupante é que, ao renunciarem a este benefício, seja qual for a retórica em que se escudem, estão a ser colaboracionistas de um passo em direcção à destruição da União Europeia pelo actual governo da Alemanha.
Exigir o respeito pelo princípio da igualdade não resulta apenas de uma emergência nacional ou dos interesses portugueses, é a melhor forma de defender a Europa.
No meio de tudo isto, a saída de Juncker da Presidência do Eurogrupo é - para usar uma expressão cara ao nosso Presidente da República - uma prova de que já se está a expulsar a boa moeda.
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