27.5.08

Os derrotados em Sofia e a União Europeia

Apesar de a Bulgária ser a pátria de uma figura cimeira do internacionalismo proletário - Georg Dimitrov -, de muitos bulgaros o verem como um personagem importante e de lhe terem construído um mausoléu em apenas 6 dias, em 1949, quase nada restou dessa era no espaço público. Que me lembre, apenas uma ou duas estátuas irrelevantes e em locais secundarissimos. Em contrapartida, a diversidade religiosa que marcou secularmente a cidade sobreviveu ao século XX. Sofia, aliás, deve ser a única cidade da União Europeia na qual há uma mesquita em plena actividade em espaço nobre (a centenas de metros da Presidência da República e dos edifícios governamentais). No centro de Sofia, por outro lado, a mesquita coexiste com a sinagoga e as igrejas cristãs ortodoxas. Curioso, mesmo, é passar por ali numa tarde de sexta-feira. Uma parte dos crentes muçulmanos são eslavos e não turcos como o preconceito nos faria pensar. Bem perto, os descendentes dos judeus ibéricos que se acolheram à sombra protectora do sultão otomano vão à sinagoga expressamente desenhada para eles em traça mourisca no início do século XX. Mais longe, a grande catedral ortodoxa é neobizantina e foi construída em homenagem ao apoio russo à emancipação da Bulgária dos turcos. A Europa quando vista dos templos que persistem em Sofia e pisando a praça onde esteve o meusoléu arrasado, parece-me o carrefour dos que venceram o autoritarismo, aqui sob a forma de comunismo e não o espaço interior do cristianismo contrastante com o islão, como os teóricos das civilizações (seja na variante combate seja na variante diálogo) nos querem fazer crer. Deste ângulo, a Turquia só não pode ser Europa por não ser suficientemente democrática e não por ser "islâmica" ou pobre. Fotos (de cima para baixo): Mausoleu de Georg Dimitrov (construido em 1949, em 6 dias, arrasado em 1999), por C & M Bergfex. Catedral Alexandre Nevsky (construida entre 1904 e 1912), por Georg. Sinagoga (construída entre 1905 e 1909), por Ellen. Mesquita Banya Bashi (1576), por See.

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