27.9.08

Os três nãos do bloquista e as questões à esquerda

João Delgado responde-me, como bloquista, com três nãos: ao Euro, à União Europeia e à participação de Portugal na NATO. Diz que são temas "mais que clarificados" no Bloco. Acredito e, pessoalmente, lamento. Essas certezas clarificam: por enquanto o Bloco de Esquerda faz parte do problema e não da solução da governabilidade do país pela esquerda. O bloquista rebate-me com trechos de depoimentos de três socialistas "críticos" das políticas de educação, trabalho e saúde. Talvez espere de mim uma defesa cega de todos os passos dados. Engana-se. O espaço de um post não dá para desenvolver os tópicos, mas caso queira, esou pronto ao debate. Para abrir, deixo-lhe os meus pontos de partida sobre os três temas: 1. O PS nesta legislatura apostou na e desenvolveu a escola pública; procurou agir para que ela acolhesse melhor todas as famílias, diminuindo o abandono precoce e luta contra a real tendência deprivatização que resultaria do exodo das classes médias da escola pública nos meios urbanos. Aliás, o pior inimigo desta política educativa têm sido os neoelitistas, que nunca se deram bem com a escola pública democrática. Questão muito diferente, embora séria, é o modo como geriu a sua relação com os sindicatos e deixou desenvolverem-se tensões com os professores. 2. O Código do Trabalho de Bagão Félix é pior do que o que resultará desta revisão, embora este esteja aquém do que teria resultado das medidas defendidas pelo PS em Janeiro de 2003. As relações de trabalho não devem reger-se por um modelo legislativo autoritário que demonstrou ser capaz de conviver bem com a real individualização das relações de trabalho e tem que investir na negociação colectiva. Medidas mais progressistas, no entanto, tornam-se mais dificeis por a CGTP não ser, por agora, um parceiro credível na mesa das negociações quanto a este tema, ao contrário da UGT e dos parceiros patronais. 3. O Sistema Nacional de Saúde falido será uma prenda aos que gostariam de o ver destruído. A sua modernização tem que implicar um raciocínio de adequação à realidade económica e a padrões de qualidade clínica. Infelizmente o PS embrulhou algumas medidas fundamentais com uma retórica e outras medidas - de que a taxa moderadora sobre as cirurgias é emblemática - contraditórias. Se quiser vamos, ponto a ponto, com tempo e ponderação, debatendo estas e outras coisas com a profundidade que merecem.

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