16.8.09

O que divide o PS do BE e do PCP? A Europa e o princípio da realidade

O Diário Económicopediu-me um comentário sobre os programas eleitorais dos partidos de esquerda. Eis o que me parece e foi publicado na edição de ontem: Na esquerda portuguesa há duas visões sobre a evolução do mundo e o papel que Portugal pode nela desempenhar. O PCP e o BE têm a visão da esquerda da década de setenta do século XX: são contra a OMC, o Banco Mundial e o FMI; vêem a NATO como uma emanação do imperialismo americano; desconfiam da União Europeia. Em contrapartida, o PS é a força que representa em Portugal a ala progressista dos governos ocidentais, que quer uma reforma do sistema de relações internacionais, que procura colocar-nos na liderança do processo de integração europeia, que quer assumamos na NATO do século XXI o papel devido a um pequeno país cosmopolita. Na política interna, para lá do que a superfície eleitoral deixa ver, há muito mais factores de convergência: na necessidade de combater as desigualdades, de reforma fiscal, do sistema de segurança social, de defesa do Serviço Nacional de Saúde ou mesmo no paradigma do direito de trabalho. Só que a divisão de funções, tão estabelecida que os próprios protagonistas já a tomam por real, deixa ao PS o papel necessário mas frequentemente antipático de garantir a sua sustentabilidade e viabilidade, enquanto o PCP e o BE se deixam embalar no confortável papel da crítica e da defesa dos pobres equilíbrios estabelecidos. No fundo, o que mais divide a esquerda nas próximas eleições é a Europa e o princípio da realidade. Tivessem o PCP e o BE agendas próprias de governo e não apenas de protesto e tudo seria diferente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde,

Caro camarada Paulo Pedroso, não posso deixar de concordar no essencial com o artigo em causa, no entanto penso que seria interessante reflectir também sobre as diferenças programáticas em quanto governo entre o PS e o PSD, como o porquê das diferenças de postura entre o PS quando está na Oposição e quando está no governo, o porquê de ser o PS em Portugal aquele que actualmente tem o programa mais neo liberal de todos os que integram a IS.
Reconheço no Camarada P.Pedroso um homem de esquerda como tal permita-me que vote no BE como forma de protesto à actual governação pelo actual PS à direita

Anónimo disse...

Aconselho-o a ler "o banqueiro dos pobres" de M. Yunus e perceber a diferença entre o que se aprende e o que se evidencia, assim como o mau papel do FMI e do BM, isto para não ser "acusado" de parcial.
Aqui as desigualdades sociais aumentam e persistem tal e qual um governo social-democrata (PS/PSD), muito favorável só ao capital.