24.8.09

Ou a esquerda tem maioria, ou ficamos quatro anos a debater os aperfeiçoamentos nas uniões de facto

O Presidente da República tem recorrentemente tomado as dores da direita em matérias de direitos civis. Não surpreende, dado que pretende, provavelmente, manter coeso o bloco conservador que estará na base da formação do seu núcleo duro de apoios na sociedade portuguesa. Hoje, juntou o seu veto aos aperfeiçoamentos em matéria de união de facto ao acervo de posições conservadoras sobre família. Se, nos fundamentos apresentados, o momento da legislatura e a defesa da necessidade de debate são meros pretextos, já a preocupação com a hipotética aproximação entre união de facto e casamento mostra os reais fundamentos da sua posição. Como tradicionalmente a direita, Cavaco Silva sobrevaloriza a unidade do património sobre os direitos dos cidadãos e a estabilidade das instituições tradicionais sobre a sua capacidade de adaptação aos estilos de vida reais. Como tradicionalmente a direita, embrulha numa retórica de solidariedade o desinteresse por formas reais de sofrimento social, como a dos que tendo tido vidas inteiras em união de facto acabam despejados das casas em que sempre viveram, por morte do ou da companheira, porque os herdeiros têm o direito a expulsá-los. Ou como as dos que tendo efectivamente devotado a sua vida aos companheiros se vêem privados de direito a benefícios sociais derivados dessa opção de vida. Como tradicionalmente a direita, acha que quem não age pelos cânones instituidos deve ser punido com o abandono e desprotecção. Neste quadro, que Cavaco tenha reconhecido a necessidade de aperfeiçoar os direitos das pessoas em união de facto ao mesmo tempo que vetou a lei que fazia tais aperfeiçoamentos é pura hipocrisia de quem quer ganhar os favores dos mais conservadores e tentar parecer que se preocupa com os que deixa desprotegidos ao fazê-lo.. Agora, resta confiar que os portugueses voltarão a negar maioria parlamentar à direita e votarão de modo a que o país seja governado à esquerda. Porque se assim não fosse, teriamos seguramente quatro anos de debate... para que nenhum aperfeiçoamento fosse feito. Ainda há quem diga que entre as posições do PS e a direita não há diferenças?

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente comentário , certíssimo na forma e no conteúdo como esclarece e antevê o futuro. Obrigado dr por alguns de nós aprendermos alguma coisa consigo.
O Presidente Da Republica até tem o meu primeiro e segundo nome, ambos nascemos no Algarve,mas não concordo com este veto.
Não vejo razão nenhuma para que as pessoas não possam ser felizes? se a ou b é mais feliz vivendo e partilhando a sua vida com quem ama mesmo sendo pessoas do mesmo sexo, porque razão não lhes é concedida essa felicidade.Alguns concordarão outros poderão chamar-me ignorante , apenas é o meu entendimento e a ele será dada a importância que lhe queiram atribuir.


Anibal Teixeira

GMaciel disse...

Mais prosaicamente, dar um pontapé no ranço e na naftalina?

Conte comigo!

Ana Paula Fitas disse...

Caro Paulo,
5ªfeira, no Diário Económico (a reproduzir depois no A Nossa Candeia e no Simplex), será publicado um artigo que escrevi, não exactamente sobre as uniões de facto mas que corrobora o título deste post... Um abraço.