No discurso de posse, Cavaco Silva definiu pelo uso que deu às palavras a sua visão do mandato que aqui inicia. Disse 56 vezes Portug(al/ueses), 41 vezes econ(omia/económico), 30 vezes soci(edade/al), 19 vezes empres(arial,ário), 18 vezes invest(imento,ir), polític(a,o,as,os) e jov(em, ens).
No tinteiro ficaram a a Europ(a, União Europeia, etc), dita 5 vezes, a crise (4 vezes), e o trab(alho, trabalhador), também com 4 referências, uma apenas com toda a palavra “trabalhador”.
Ou seja, há Portugal, os seus problemas económicos, os empresários, os jovens de circunstância e a necessidade de investir. Mas crise mundial, qual quê? Responsabilidades europeias partilhadas? Problemas da zona Euro? Cavaco falou como se nada se passasse fora das fronteiras da paróquia.
Sobre cooperação entre órgãos de soberania foi muito claro o seu avaro silêncio. Proferiu 9 vezes a Palavra “assembleia”, 6 das quais para se dirigir protocolarmente ao seu Presidente nos intervalos entre parágrafos dos discursos em que se costuma beberricar goles de água ou esperar que os aplausos terminem. Parlam(ento,entar) foram palavas banidas. Mesmo assim os ditos parlamentares aplaudiram, alguns de pé.
O Primeiro-Minsitro teve direito ao primeiro cumprimento da tarde e à não menos protocolar referência ao dever de cooperação, nem mais nem menos. Cavaco ainda disse 7 vezes “gov”, 1 das quais para cumprimentar os membros do governo, outra para referir elogiosamente o Governador do banco de Portugal e outra ainda para acusar os políticos de os jovens não se reverem na política. Cereja em cima do bolo: referências ao “exec”(utivo, poder executivo), tantas como ao parlamento.
Sobre poder judicial, nada. Em rigor, uma referência à morosidade da jsutiça e outra à sua importância económica, mas como se não soubesse o b-a-ba dos órgãos de soberania da República e a existência de um deles chamado tribunais. Sobre as forças armadas, de que é comandante supremo, silêncio total, como se compreende, porque os submarinos são alheios ao défice e à dívida pública. Pouco importa que haja militares no estrangeiro em missões difíceis para a festa da posse do Professor.
Cavaco esteve demasiado ocupado no seu último de muitos discursos de posse de cargos políticos a insuflar um conveniente conflito geracional que nada tem que ver com o fim de semana que se avizinha para perder tempo com ninharias institucionais, questões de soberania ou a evolução do mundo em que nos movemos.
Assim falou o Presidente da ditosa pátria, nossa amada.
PS. O primeiro Presidente da República eleito depois do centenário da dita, não teve na sua posse uma palavra para a sua implantação. Valha-nos Deus que também não louvou a monarquia!
3 comentários:
EXCELENTE ANÁLISE!
Caro Paulo,
Faço link.
Obrigado.
Abraço.
Muito bem.
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