11.6.11

Ich bin ein Daniel Oliveira ou quantas divisões tem o exército do Papa?

"Não, já o disse e alguns não perceberam, o desvario do Bloco não passa pelo seu coordenador." (Daniel Oliveira)

Não sei o suficiente sobre o BE para saber exactamente a quem se deve o desvario. Mas acho que ele foi notório na recente campanha eleitoral, como escrevi aqui. Daniel Oliveira, talvez tacticamente, quer poupar Francisco Louçã, mas a verdade é que o próprio tinha teorizado o objectivo do BE como sendo não o reforço da esquerda mas a derrota do PS. Acabou o BE por ser vítima da sua cegueira táctica e do desconhecimento de uma regra do comportamento eleitoral dos portugueses. Quando a esquerda desce, não é à custa de uns partidos de esquerda em benefício de outros mas, essencialmente, desce em conjunto, claro que uns mais que outros e, quando muito, uns aguentam-se quando os outros caem a pique. Não foi o que agora aconteceu ao BE perante a derrota do PS. Mas, francamente nem é isso que é essencial.
O que é importante é que o BE tudo fez para precipitar a queda do PS, desde a sua pueril moção de censura do Carnaval, sem que tivesse estratégia sobre o que fazer com essa queda.
Há uma coisa que quem dirige o PS, o BE e o PCP não percebe. Os partidos estão distantes entre si em tudo, menos nos seus eleitorados, em que partes significativas já votaram em momentos diferentes nos três.
Nós os "políticos" podemos continuar a viver por muito tempo sem fazer a constatação do Rui Tavares. Ou sem ouvir, no BE, o realismo do Daniel Oliveira que percebeu (sem que eu concorde cm os adjectivos)  que  o papel do Bloco é ocupar um espaço amplo na esquerda, que não se revê nem na ortodoxia do PCP, nem na moleza do PS, mas que quer um Bloco disponível para soluções de poder.  Ou, no PS, cedendo à tentação centrista da equidistância como se não fosse verdade, como disse em 2009, que o que estruturalmente divide o PS do BE e do PCP é a Europa e o princípio da realidade.

Julgo que a esquerda tem tudo a ganhar em clarificar tanto as suas diferenças como as suas convergências, nisso aprendendo com a direita. Foi isso que não conseguiu no ciclo político que agora termina, como em tempo disse Soares, autopsiando previamente (com dois anos de antecedência) a morte da maioria parlamentar de esquerda que se encaminhava para a derrota que teve agora, em 2011. Manuel Alegre, honra lhe seja feita, tentou inverter essa tendência num dado momento, fossem quais fossem as suas intenções. Mas já então foi o mesmo Luis Fazenda que agora nos pergunta quem é Daniel Oliveira que se encarregou de matar a conversa na casca.

Talvez o Daniel, que sabe muito mais do BE que eu, tenha razão quando diz que o problema não passa pelo coordenador. Eu só tenho a certeza que neste momento a solução também não. Quanto a quem é Daniel Oliveira, permitam-me que responda com amizade pelo Daniel, à pergunta de Luis Fazenda. É um homem de esquerda, um espírito livre, que quer ao mesmo tempo que haja à esquerda alternativas ao PS e ao PCP e uma cultura de poder para mudar Portugal em vez de bramir contra os que o mudam contra a nossa vontade. Não será do meu partido e eu não serei do dele, mas sabe distinguir o essencial do acessório. Quantos políticos, no PS, no PCP e no BE o saberão? Cada partido tem o Fazenda que merece e a pergunta estalinista típica de Fazenda ao Daniel, já eu a ouvi a outros no PS e no PCP é cultura oficial. Afinal quantas divisões tem o exército do Papa?

Os Fazendas dos três partidos conduzem-nos ciclicamente aos governos da AD e talvez até fiquem contentes. Os que neles votam mais tarde ou mais cedo vão perceber o logro.

3 comentários:

Francisco Clamote disse...

Brilhante. Como sempre. Saudações.

Jaime Santos disse...

How many divisions has the Pope? Answer (by Hitchens): More than you think... O mesmo se passa com o Daniel Oliveira, aposto que há muito mais gente que o lê e respeita do que ao Luís Fazenda. Não me lembro de ter lido nada do LF que considere digno de lembrança...

mdsol disse...

Muito bom!