6.12.11

Euro, na versão Merkozy: a imposição soberana à União Europeia.

Merkel e Sarkozy fazem questão de deixar claro quem manda. Reúnem-se, concluem, anunciam e mais tarde enviarão aquilo em que concordaram ao Presidente de jure do Conselho Europeu que há-de reunir de seguida. O método não podia ser pior: é puro facto consumado.
O "Merkozysmo" ficará para a história do Euro como o sistema de pensamento político que concebeu a resposta para a primeira grande crise do Euro como se não houvesse evolução do pensamento económico desde o deflagrar da grande crise dos anos trinta do século XX. Vai responder aos problemas das dívidas soberanas com a constitucionalização do equilíbrio orçamental, a uma crise profunda com austeridade generalizada e aos defeitos genéticos do Euro como se eles não existissem. Do que se sabe, nada mudará no mandato do BCE, não haverá "eurobonds" e a Europa continuará a ter a única moeda do mundo que não tem um Banco Central que a apoie plenamente.
Dificilmente poderíamos esperar pior do modelo de governação económica da Europa que aí vem. O que se quer dizer com a nova "regra dourada" é que os países mais pobres da Europa estão impedidos de investir para além da sua própria capacidade local, tornando oca a suposta politica de coesão. Diz-se-lhes também que têm que absorver sozinhos os efeitos dos choques assimétricos. A cereja em cima do bolo é a judicialização do défice e da dívida. Sarkozy e Merkel querem entregar ao Tribunal de Justiça Europeu um poder que, logicamente, devia permanecer no Conselho Europeu. Acreditam mais no poder sancionatório dos juízes que na responsabilidade política dos seus pares. Evacuam a política da união política europeia.
A revisão do Tratado da União Europeia vai ser realizada sob chantagem. Tem que estar pronta em três meses, incluindo férias de Inverno e tudo. Será a 27 se os que não são do Euro quiserem. Mas, também pode ser a 17 se os outros 10 não seguirem o coro. Como sempre, os mercado servem de desculpa. Mas, para os mercados, três meses é uma eternidade  tão grande como seis. Aliás, os ditos  já avisaram: o outlook negativo das dívidas públicasdo triplo AAA, depois da Cimeira,  é cristalino.
Para Portugal, como vários outros, será "pegar ou largar". Numa altura em que temos soberania económica limitada pela dependência de assistência externa, a nossa margem de manobra para divergirmos do Merkozysmo anda próxima da que tínhamos para resistir ao Ultimato britânico.
O duo que nos lidera acredita numa estratégia que para salvar o Euro atropela a Europa, arrasa os países periféricos e faz tábua rasa das instituições europeias que resultaram dos últimos cinquenta anos de história.
Os povos europeus entregaram-se a uma direita que, ao contrário da das gerações anteriores, não se importa de arrasar a Europa para sobreviver.
Em Portugal não faltarão "Merkozystas" mais "Merkozystas" que "Merkozy" e estou convencido que o erro do PS no OE 2012 dificilmente terá recuo agora na revisão do Tratado.
Hoje, a Europa passou a ser outra. Oxalá, relendo este texto mais tarde, ache que não tinha percebido nada do que se estava a passar, porque no momento em que escrevo penso que a nossa última hipótese é a derrota de Sarkozy destruir este caminho. Mas, talvez por coincidência, até isso parecia muito mais fácil há uns meses.

2 comentários:

ACC disse...

Parece que Churchil dizia que os alemães ou estão aos nossos pés ou com o joelho no nosso pescoço.
O nosso problema é que o joelho alemão já está no pescoço francês e O Kozy está a entregar a França como um líder de Vichy o teria feito.

Ana Paula Fitas disse...

Caro Paulo,
Fiz links... com votos de Boas Festas.
Um abraço.