5.12.11

Sobre a homenagem a João Martins Pereira: uma análise (1ª parte)

Esta minha ida a Lisboa, às sessões de Homenagem/ Evocação de João Martins Pereira, não podia “perder-se” na “desarrumação” da minha cabeça, pensando eu em fazer um texto corrido, mas muito simples, a propósito.
Só que o Dr. Paulo Pedroso, gentilmente, me incitou a escolher uma outra “formatação”, em textos curtos, suscétíveis de publicação no seu blog. Esta amabilidade do Dr. Paulo Pedroso, vem, de novo, “obrigar-me” a vencer a minha “preguiça” e tentar uma melhor sistematização no meu inicial registo.
Agradeço ao Dr. Paulo Pedroso, esta “disciplina”, esconjurando o meu “desleixo”, ditado por esta “desocupação” de pensionista “por invalidez” física.



1. Uma homenagem participada e de qualidade elevada



A Homenagem, com três sessões, uma na Sexta-feira e duas no Sábado, 25 e 26 de Novembro p. p., mobilizou cerca de cem pessoas, ao logo das sessões.
Para além das múltiplas intervenções dos organizadores e seus convidados, registaram-se diversas outras intervenções do público assistente, muitas delas revelando uma preparação prévia, refletida, maturada, organizada e com objetivos pré definidos.
Diria que, a “qualidade” das participações/intervenções, embora não homogénea, esteve acima do corrente.
Pese contudo que alguns dos intervenientes quase se “esqueceram” de que o centro do evento era a obra e vida, muito rica, de João Martins Pereira. E como advogo, que urge “chamar os bois pelo nome”, não posso deixar de referir Manuel Carvalho da Silva, como caso paradigmático deste desvio.
No polo oposto tivemos Manuela Cruzeiro, José Reis, João Cravinho, e, com alguma surpresa minha, Francisco Louçã fugiu ao tom panfletário, que normalmente usa.
Esta “Evocação de João Martins Pereira” resulta de uma vontade política do CES/CD 25 de Abril, que saudo, agradecendo, em particular, a Rui Bebiano e a Manuela Cruzeiro, todo o enorme esforço, empenho e mestria envolvidas. A mobilizaçao havida e a qualidade das intervenções serão, para eles, com certeza, uma reconfortante contrapartida.



2. A modernização: a articulação micro-macro era um tema caro ao homenageado



Francisco Louçã, acabou por introduzir e tratar eruditamente, mas de forma bem interessante, a apregoada “Modernização”. A parte do “Moderno”, a que eu, chamo o “Modernaço”, termo que o meu Amigo Alexandre Alves Costa, já na década de 60, usava.
Uma parte da “Modernização” centrou-se, efetivamente, na diversificação dos chamados produtos de consumo, mas o seu aparecimento não se cifrou numa alteração básica da estrutura do aparelho produtivo. Poderiamos até falar na “democratização do consumo”. Nesse ângulo, a intervenção de Louçã foi brilhante.
É claro, que do meu ponto de vista, Francisco Louçã omitiu a outra vertente, a da “Modernização” no aparelho produtivo e no aparelho de distribuição, recente, face e ditada pelo incremento decisivo do nível de incorporação técnica e tecnológica, alterando o mix de produtos fabricados, ora mais sofisticados, e alterando-se os métodos e tecnologias de fabricação e de gestão da produção. Tudo ligado a uma nova “Divisão doTrabalho” e “Divisão Internacional do Trabalho”.
Louçã também “omitiu” o “Moderno” que a Desburocratização encerra. Não teço comentários à opção de Louçã nessas “omissões”. É óbvia. A lacuna de Louçâ, no meu ponto de vista, prende-se com a não articulação dos processos micro económicos com os processos macro económicos, onde João Martins Pereira era “mestre dos mestres”.
Numa outra intervenção, que temáticamente entra no mesmo tom da acima referida, apontou-se que há muito, não se processam Cursos sobre Técnicas de Produtividade, o que é um facto que conheço bem pois estive em Paris frequentando um curso de pós gradução em “Técnicas de Produvidade” então ministrado por Jacques Delors. E partiu-se daí para para acusar o patronato de falhas na produtividade e na competividade. E no oposto, ilibava-se, e bem, que tal decorresse dos trabalhadores.
Mas também aqui, voltamos a ter uma “omissão”. As pequenas “astúcias” das Técnicas de Produtividade, em torno da organização dos postos de trabalho, em torno dos lay-out fabris, em torno das sequências de trabalho, em torno do aprofundamento da “preparação de trabalho” e dos “métodos”, o uso de novas ferramentas, nomeadamente de computação ( que muito bem João Cravinho referiu como bem dominados por João Martins Pereira) representam pouco, hoje, face à intervenção de fundo, essa sim,decisiva, decorrente e marcada pelo incremento do nível de incorporação tecnológica e técnica.
Nessa intervenção, e vinha bem a propósito, omitiu-se, quanto aos Trabalhadores, o factor “Qualificação”. Não comento a omissão, pois as razões são também óbvias.


Num segundo texto aludirei ao “Senso Comum” acrítico. Num terceiro texto, ocupar-me-ei das “Omissões” e dentro delas anotarei a respeitante aos “Excedentes Gerados na A,tividade Económica”. No quarto texto irão algumas Notas sobre a passagem ao largo de uma Crítica Radical à Doutrina Corporativa, que informou o anterior regime e continua bem presente na legislação e na mente de muitas pessoas. Tudo isto também ligado a um intervenção política no futuro próximo.


Acácio Lima

1 comentário:

A lacuna Louçanista disse...

além de ideológica

é mais abysmo que lacuna mas enfim