20.10.12

Esta semana era o dia da luta contra a pobreza. O Governo fez bem em não o comemorar

"A taxa de pobreza regista uma diminuição de 4,7 pontos percentuais passando de 22,5% da população em 1993 para 17.9% em 2009, a intensidade da pobreza reduz-se em cerca de 44% e a severidade da pobreza assume em 2009 um valor que é menos do que metade do registado em 1993." (Carlos Farinha Rodrigues, Desigualdade Económica em Portugal - Principais Resultados)

Esta semana não se comemorou em Portugal o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que passou a 17 de Outubro, como sempre. O Governo fez bem em envergonhar-se e não o comemorar. Poupou-nos a um exercício necessariamente artificial. Mas este fim-de-semana dá-nos um bom pretexto para dedicar algum tempo a perceber o que aconteceu à desigualdade de rendimento em Portugal, estudando o trabalho de Carlos Farinha Rodrigues e da sua equipa. Os resultados estão acessíveis na página da Fundação Francisco Manuel dos Santos que apoiou o estudo.
Ficamos a saber que até 2009 se conteve a pobreza em Portugal e que se foi particularmente eficaz a reduzir a pobreza dos idosos, mas particularmente incapaz de enfrentar a da crianças. Aprendemos também que já éramos um dos países com maior desigualdade de rendimentos familiares da Europa e que a tendência para a desigualdade salarial se manteve.
E depois de 2009? Se o Carlos Farinha Rodrigues um dia actualizar os dados, descobrirá muito provavelmente regressão em todas as dimensões, novo aumento da pobreza, sem excepções de grupo e aumento da desigualdade salarial. E nem sequer é defeito da aplicação das políticas deste governo. É a sua receita para a crise, mas é também o resultado do feitio das suas ideias.
Os Governos fazem diferença e em redistribuição do rendimento fazem muita. Por isso não é dificil antecipar que, se tudo continuar como hoje, a frase com que este texto começa se não repetirá para 2009-2019.

4 comentários:

fec disse...

tudo o que aqui se refere é lógico

o único elemento perturbante (e sobre o qual valeria a pena meditar nas razões políticas que estarão na sua origem) é o seguinte excerto "particularmente incapaz de enfrentar a [pobreza] da crianças"

não é bem que existam razões político-partidárias; serão talvez razões políticas e "culturais" relacionadas com o "air du temps"

Paulo Pedroso disse...

A pobreza dos idosos foi combatida com a melhoria dos salários e concomitante melhoria das pensões. As últimas década foram também placo de revalorizações significativas das pensões e em particular de pensões mínimas de valores muito acima do que resultaria dos descontos ou mesmo independentes deles.
O combate à pobreza dos idosos beneficiou do consenso social favorável. A pobreza das crianças é o reflexo da pobreza dos casais jovens (ou de famílias monoparentais) em relação às quais o consenso de apoio social é muito menos sólido. É certo que existe o RSI, mas as prestações de desemprego cobrem apenas a minoria dos desempregados e muita pobreza de famílias jovens fica por "ver". Como consequência, hoje o grupo etário mais afectado pela pobreza em Portugal é o das crianças e jovens.

fec disse...

é de facto também esse o problema

mas julgo que também a degradação dos valores familiares e a consequente facilidade com que muitas pessoas avançam voluntariamente para familias monoparentaiss contribui para esse aumento de pobreza das crianças

mas estou de acordo consigo que, independentemente das causas, deveriam existir mecanismos finanaceiros robustos para contrariar esse aumento de pobreza das crianças

Anónimo disse...

Errado. A pobreza das crianças tb foi combatida com as ofertas de refeições mínimas nas escolas (leite, etc), por serviços de transportes escolares, medidas que eu suponho estavam a cargo dos municípios, e que agora já não podem ser asseguradas por falta de verba. É atroz que a cortar se comece por cortar por aí. Outras medidas podem combater a pobreza das crianças, independentemente dos rendimentos dos pais: na primária, em França, estudei por livros que me eram emprestados pela escola no início do ano, de que eu cuidava e que eu restituía no fim do ano para passar para o aluno seguinte. Implica que há continuidade nos programas de estudo e nos livros escolhidos.

Pondera.

P.