23.2.13

Sobre a paz em Timor-Leste, a propósito de um boletim do CES

Numa década, Timor-Leste percorreu um enorme caminho, não isento de incidentes, na afirmação da sua viabilidade como país independente e nação em paz.
Já não é, felizmente, o tempo dos heroísmos, mas o tempo lento de tecer instituições, de erguer uma sociedade aberta à modernidade sobre uma nação que só conhecia poder colonial e ocupação.
Em Portugal, o entusiasmo solidário esmoreceu e a centralidade mediática perdeu-se. Mas continua a haver quem acompanhe a jovem nação, partindo de diversos pontos de vista. É o caso do Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que dedicou o seu boletim de Janeiro de 2013 a Timor-Leste.
Passa por todo o boletim a questão a meu ver essencial para a viabilidade do exercício que se tenta em Timor: como enraizar os procedimentos democráticos no país?
A constituição garante um Estado social e democrático de direito, a maior parte das instituições estão formalmente desenhadas, os recursos materiais, pelo menos transitoriamente, possibilitam avanços significativos.
O desafio está  na capacidade de transformação social, na capacidade de produzir cidadania, na capacidade de evitar que a vitória da independência se transforme na vitória de uma fracção dos vencedores.
Não é garantido que não surjam problemas profundos das contradições entre instituições desenhadas com grande predomínio de saberes periciais exteriores e em condensado e estratégias sociais moldadas pela capacidade de resistência e não de construção e entre segmentos cosmopolitas e populações mergulhadas nas tradições. Não é garantido que não haja dificuldades enormes na incorporação das instituições pelos seus protagonistas. Não é garantido que, num país em que mais de metade da população dentro de uma década só terá conhecido a independência, a contradição entre o tempo de que o país precisa e o tempo que as aspirações das pessoas não tem, não aumente exponencialmente as dificuldades de governabilidade do país.
Aqueles de nós que têm o privilégio de acompanhar, ainda que pouco e à distância, a imensidão da tarefa, sabem que nem é fácil nem tem ainda resultados irreversíveis. Assim como sabem o enorme esforço que no terreno está a ser posto para que o país se afirme e a paz vença.

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