16.3.09

Palavras excessivas (artigo de opinião no Semanário Económico)

A diferença de opiniões entre Manuel Alegre e José Sócrates a propósito de algumas medidas de política do Governo, concretas e identificáveis, é real. Em parte, são a resultante natural da vida interna de um partido plural, no qual não há linhas oficiais e dissidências, apenas convergências e divergências. Noutra parte podem derivar da divisão real dos eleitores socialistas nas últimas eleições presidenciais e da interpretação que cada um terá sobre o que ela significou. Noutra ainda, correspondem ao afloramento actual e português de um processo recorrente de tensão interna nos partidos socialistas quando passam pelo poder. Como não tenho bola de cristal para nela ler onde conduzirão essas diferenças de opinião, apenas tenho opiniões sobre o seu desfecho desejável. O PS só chegará às eleições na sua máxima força se tiver a energia reformista que o Governo mostrou nesta legislatura, a capacidade de interpretar as discordâncias e resistências que gerou, a inteligência de corrigir o rumo aqui e ali, a ousadia de propor ao país uma nova ambição para quando sair da crise e contar com todos os protagonistas das diferentes maneiras de viver o PS. As diferenças de opinião na interpretação da presente legislatura não devem pôr em causa a adopção de uma plataforma comum em que se respeite a vontade dos militantes, que o Congresso consagrou, o sentimento dos eleitores socialistas, de cuja vontade ninguém tem o monopólio da interpretação e as necessidades do país, que carece de governação que não pode ser tímida, conservadora ou meramente orientada por cartilhas ancestrais. O PS das Novas Fronteiras não deve fechar-se a uma parte de si. Relendo as palavras de Alegre, parece-me que já deu sinais claros de que não prescindiu da sua qualidade de socialista, pelo que não deve o seu partido imaginar prescindir dele e, nem ele nem Sócrates podem sobrevalorizar o acessório, porque palavras excessivas leva-as o vento.

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