17.3.09

A cidade do Sul do Tejo: nova visão para Almada

A grande metrópole de Lisboa precisa de ser policentrada, em vez de uma estrela que converge sobre a cidade-centro. Nas últimas décadas, Almada tem procurado ser o braço esquerdo de Lisboa, que atinge o seu melhor quando prolonga o braço direito e tem o seu pior na dependência funcional quase total dele e no risco de periferização de vários tipos associado a essa estratégia. Se olharmos para as oportunidades que se abriram nos anos sessenta, com a ponte hoje 25 de Abril, essa foi a estratégia mais inteligente durante décadas. Foi essa oportunidade que permitiu reduzir os choques económicos e sociais da reestruturação económica que levou à perda de importância, quando não ao desaparecimento, dos sectores tradicionais de actividade do concelho. Foi a capacidade de crescer em população, dada a relação qualidade-preço, que habita em Almada mas procura emprego em Lisboa, que conduziu o concelho ao ponto onde hoje está. Foi a capacidade de alargar a sul, alguns pólos como os de ensino superior, vindos da margem norte, que diferenciaram o concelho e o afirmaram. Mas esse crescimento foi também desordenado, criou pressões insuportáveis sobre as acessibilidades, dificultou a afirmação da vida urbana própria e, sobretudo, assenta num enorme sobreesforço das populações apanhadas no movimento pendular. Quando digo que Almada tem que saír da sombra de Lisboa é à necessidade de mudar de visão que me refiro. Em pleno século XXI há que deixar a cidade centro ser o que é, aproveitar da vantagem de estar próximo dela, mas também que ambicionar mais do que as oportunidades que derivam, por inércia, de estar na sua proximidade. Vejo Almada como parte de uma cidade do sul do Tejo, que usufrui da sua pertença à Área Metropolitana de Lisboa, mas que se afirma nela autonomamente. Terá que se preparar para absorver os bons impactos da proximidade do novo aeroporto, como deve melhorar a capacidade de beneficiar da mancha urbana contínua que se estende pelo Barreiro, Seixal e Sesimbra. Deve aproveitar o seu lado de braço esquerdo de Lisboa para produzir uma centralidade que faz dela simultaneamente coração dessa nova cidade e gémea rival da margem norte.Esta rivalidade não diminui ninguém,pelo contrário ajuda a qualificar toda a grande cidade. Mas deve também ser mais do que um dos concelhos entre Lisboa e o aeroporto. As potencialidades naturais do concelho precisam de outro aproveitamento: a frente de costa, a frente ribeirinha, o ambiente urbano, os equipamentos sociais fazem de Almada, se bem gerida do ponto de vista urbanístico, o ponto onde se pode encontrar a melhor relação qualidade-preço para diferentes estilos de vida urbanos, como para a localização económica que dependa de força de trabalho de qualificação intermédia e superior. Assim como, não o esqueçamos, Almada é o melhor ponto do sul para ver Lisboa, o melhor sítio para estando fora, estar dentro dela. Mas essa possibilidade, até de contacto visual, acontece sem que tenha sido potenciada devidamente. É nessa força, nessa tensão entre ser dentro e fora, nessa relação entre proximidade e distância que deve acentar a afirmação competitiva autónoma de Almada. Seguramente que não contra os outros concelhos da margem esquerda do Tejo. Mas competindo saudavelmente com os outros do Norte, "puxando" um centro da cidade para o Sul. Julgo que o modo como o Walter Rodrigues vê a questão não é, no essencial, diferente, embora ache que acentuo excessivamente a vertente competitiva da visão e agradeço-lhe o contributo que espero que continue a fluir, porque ele é uma das pessoas que melhor pensa a metrópole de Lisboa, embora o venha fazendo demasiado discretamente. Já agora, também o saúdo por esta nova entrada, especializada, na blogosfera, com o Metapoles, que vai já para a lista das leituras, para além do Forum Comunitário de sempre.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não precisamos nada de si por cá, obrigado.

P. disse...

o comentário anterior só pode vir de alguém que não te conehece.

Adiante.

O que te queria dizer é que quando pensas nessa cidade do Sul, não te esqueças que a cidade do Norte (tirando Belém (?) e a Expo (?)) se virou para o Norte.

Mal vais ter duas cidades debruçadas sobre o Tejo. Não sei se não vais ter duas cidades costas com costas.

Era só uma achega.