Venci o pudor e fui ver quem assinava a peça do Sol que "incrimina" Medina Carreira. Tal como numa prova cega, podia adivinhar sem ver preto no branco. As fontes e o seu modus operandi, a transmissão just in time da investigação criminal num estádio preliminar de investigação, a transmissão acrítica do que é contado para a manchete, o ataque feito à vítima num aspecto da sua vida de que depende a sua credibilidade, têm marca registada em Portugal.
Marx dizia que a história se repetia duas vezes, a primeira em tragédia, a segunda em farsa. Esta já se repetiu quantas vezes? Até prova em contrário, Medina Carreira é a vítima mais recente da imaginação delirante de alguém, da credulidade de mais alguém, da perversidade que se julga purificadora de outros e da sua própria visibilidade, transformada em pecado. Não é nenhuma teoria da conspiração, é a versão portuguesa do moral panic.
Estamos em crise financeira? Os "empreendedores morais" viram-se para aí. Mudam os tópicos, mudam as vítimas, não muda a natureza dos agentes. Só há uma certeza, mais tarde ou mais cedo haverá outro Medina Carreira, porque quem alimenta o jornalismo de esgoto não é a fonte nem o jornalista, é o público; tal como quem queria o sangue dos bodes expiatórios nas matanças de outrora (vá lá, que agora são apenas metafóricas) era o povo. Os inquisidores ficavam satisfeitos, tal como a fonte e o jornalista agora, mas era porque se contentavam com o seu próprio sucesso, desinteressados da verdade material ou, pior, completamente incapazes de perceber a importância de a procurar em vez de receber e difundir uma crença. Cada época gera as bruxas de que necessita.
3 comentários:
Exactissimamente !!!
Manuel Rocha
Amén.
Portugal
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