21.2.13

O que é o movimento "se te apanho canto-te a Grândola"?

Discute-se se o movimento "se te apanho canto-te a Grândola" é orgânico ou inorgânico.
Abertamente orgânico sabemos que não é, porque nenhuma instituição "clássica" aparece a protagonizá-lo ou dirigi-lo ou se assume como sua autora, financiadora ou retaguarda logística.
Capaz de congregar simpatias muito para além das capacidades de qualquer movimento orgânico nas circunstâncias actuais, também sabemos que é. Basta deambular pelas redes sociais para perceber que colhe transversalmente a simpatia de quem se opõe a este governo, dos mais moderados simpatizantes do PS aos mais encarniçados maximalistas do bloquismo mais m-l. Gente que não iria a uma manifestação convocada pelo PCP, porque não, que acharia mal que o PS convocasse manifestações, porque sim e sorriria ante uma manifestação do BE, porque não tem ninguém, aplaude o uso da Grândola como silenciador de governantes. Quem, como eu, critica tal uso fica logo, aliás, sujeito a suspeitas de cumplicidades passistas-relvistas ou pelo menos de capitulação à direita.
Dotado de um sentido próprio que se deve à situação a que o actual governo conduziu o país, também é. As raízes da simpatia por este gesto estão no profundo mal-estar de muitos cidadãos com o caminho dado à política do país. todos sabemos que o PSD ganhou eleições depois de Sócrates ter sido submetido à tenaz da coligação negativa CDS-PSD-PCP-BE. Não ignoramos que, então, o discurso era o de que entre Sócrates e Passos Coelho não havia diferenças. Lembramo-nos de que Passos Coelho passou toda a campanha eleitoral a prometer uma política cuja coluna vertebral era a oposta da que pratica, embora esta última seja a consequência natural do que dizia antes dessa camnpanha. Sentimos que não há, nos partidos da oposição, nas centrais sindicais, na Presidência da República, nuns casos força, noutros capacidade e noutros ainda vontade, para derrubar o Governo. No entanto já tomámos consciência de que só travando Passos Coelho já se pode impedir a pauperização das funções sociais do Estado. Logo, é natural que estejamos predispostos a apoiar qualquer brisa de protesto que surja.
Mas será orgânico ou inorgânico, então, este movimento?
Proponho o teste que costumava aplicar no passado à época de greves e manifestações que ia, normalmente, de Janeiro a Abril. Se o movimento continuar depois de 2 de Março é muito provavelmente inorgânico. Se os Ministros voltarem a poder falar em público logo a 3 de Março, estava ligado à operação de preparação da manifestação de 2 de Março. Neste caso, é orgânico, Mas quem seria o organizador? Cherchez la femme.

PS. O PS, o PCP e o BE já foram convidados a participar na Manifestação de 2 de Março? Aceitaram ou recusaram? Se aceitarem serão bem-vindos ou considerados oportunistas? Todos ou só alguns?

4 comentários:

Pedro Estêvão disse...

Bom “litmus test”. Eu acho que terá uma componente orgânica – alguns dos presentes até tinham cartazes da manifestação - mas não vejo em que é que isso tira a legitimidade ao protesto. Continuo na minha. Apodar como anti-democrática uma manifestação pacífica contra um governante que há muito perdeu a sua legitimidade política para intervir – e, acrescento *falar como ministro*, que era a condição em que ali estava – não faz sentido. É por isso que acho completamente deslocado o argumento da liberdade de expressão. Não é uma questão de direito, mas de *legitimidade* para invocar esse direito. Que Relvas, enquanto ministro, não tem.
Percebo que seja um incómodo para a pessoa, percebo que possa ser feito por razões injustas em muitas outras situações, percebo que possa ser manipulado. Isso não interessa. Um protesto pacífico não se torna anti-democrático só porque não gostamos da sua forma. Pelo contrário: acho que a última coisa que um político precisa é de uma redoma que o impeça de ouvir palavras desagradáveis dos cidadãos que representa.
No resto, concordo que é preciso fazer muito mais do que isto e que é preocupante que os canais tradicionais – sindicatos, partidos – não estejam a conseguir canalizar o descontentamento e a transformá-lo em acção política construtiva. Mas isso é muito diferente de dizer que protestos pacíficos são uma ameaça à democracia.

Anónimo disse...

Mas quando é que o PS convoca por si só uma manifestação?
Dizer que alguém se sentiria mal por uma manifestação convocada pelo PS será o mesmo que pensar que alguém se sentiria mal por o CDS convocar uma manifestação em defesa da negociação coletiva, é um não problema, contraditório nos seus próprios termos.

josé luis disse...

Nota: No final do meu comentário, assinarei o meu nome, simples mas claro, como faz todo aquele que não se falseia nem faz do engano um argumento.
A gente honesta do P.S., nem que por milagre, algum dia há de acreditar nas "boas intenções" daqueles que são de esquerda em função de si próprios e para si mesmos, mas não mais que comparsas da direita para as gentes do P.S.
Engraçada a forma de estar na politica da gente honesta do P.S.
E se uma vez fossem politicamente desonestos? Como podiam, se uma mentirita para arranjo de vida sempre servirá para fazer de santo um mentiroso relapso e vigoroso como Sócrates? Que pena!
José Luís Moreira dos Santos
Estarreja.

fernando f disse...

Parece-me que a liberdade de expressão do Relvas, assaltou os dirigentes do PS, isto já soa a concerto. Nao estamos em 75! Estamos em 2013, perante um governo ultra liberal que nos trata como números, nos espolia e mantém em funções um ministro que há muito já devia ter deixado de o ser. O que é grave e devia ser questionado, é o que leva o PM a manter Relvas no poder!?