18.9.09
Disparate de Verão ou inventona? A resposta mora em Belém.
O disparate de Verão do Público revelou-se hoje como uma encomenda de um assessor bastante próximo de Cavaco Silva há décadas, que é também um profissional de comunicação bastante experiente.
Acresce que a notícia foi mantida em latência durante mais de um ano e libertada no calor de um período pré-eleitoral.
Sobre o que este caso obriga a reflectir sobre o trabalho dos jornalistas, a revelação de hoje não acrescenta nada. Tudo o que havia a dizer de relevante já foi dito pelo Provedor do Público. Sobre a proximidade entre a Presidência e a direcção do Público, já havia evidências suficientes e não tem, em si, nenhum mal, antes pelo contrário. Poderia até ajudar o jornal a fazer um bom trabalho, desde que soubesse manter separados o trigo e o joio, como se exige a qualquer aspirante a jornal de referência. Sobre a linha editorial do jornal também não diz nada de novo.
Onde a notícia do DN traz dados novos é ao debate político. Goste-se ou não do facto, ela torna claro que na Presidência da República se procurou através de uma informação planeada e direccionada prejudicar o Governo e se agiu reiteradamente em período pré-eleitoral, quebrando uma regra de ouro da conduta de um Presidente respeitador do equilíbrio das instituições.
Se semelhante comportamento teve luz verde de Cavaco Silva, este manchou de modo definitivo a sua credibilidade e capitaneia no Palácio de Belém um núcleo de gerrilha interinstitucional que fragiliza o país e as instituições democráticas. Confesso, aliás, a minha perplexidade com a reacção de Cavaco Silva à notícia de hoje, fazendo de conta que não percebe a gravidade do gesto do seu assessor e deixando subentendido que o que o preocupa são aspectos de segurança. Sejamos claros, o Watergate foi uma gigantesca falha de segurança, mas derrubou um Presidente porque revelou à opinião pública um comportamento ilegítimo e anti-democrático de um Presidente. Neste caso, os aspectos de segurança são completamente irrelevantes. A pergunta a que há que responder é muito mais simples: Cavaco sabia? Cavaco autorizou? Se sim, o caso afinal não é um disparate, é uma inventona.
Se, pelo contrário, o assessor abusou da confiança do Presidente, envolvendo-o numa paranóia que seja só sua, para além das medidas clínicas adequadas, recomenda-se-lhe que seja capaz de extraír enquanto é tempo as necessárias conclusões dos seus gestos para evitar ao Presidente mais uma conversa desagradável, como a que deve ter tido que ter com Dias Loureiro a certa altura.
Uma coisa é certa, para Portugal continuar a ser uma democracia que se leva a si próprio a sério, o dia de hoje não pode terminar sem que alguém a desminta ou alguém se demita ou seja demitido no Palácio de Belém. Como tudo indica que Cavaco entrou em estado de negação sobre a gravidade do assunto, há fortes razões para crer que continua a dar aos que pensavam que respeitaria escrupulosamente a concepção semipresidencial do sistema democrático português um forte motivo para julgarem que foram ingénuos.
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